02/11/2025

A literatura portuguesa regressa a Sevilha para a 23ª edição da Feira do Livro

Até 2 de novembro, a livraria Fonte de Letras traz à capital andaluza autores incontornáveis como Fernando Pessoa, Lídia Jorge e José Saramago, a par das novas publicações de José Luís Peixoto e Ana Margarida de Carvalho

Comparte el artículo:

Bluesky Streamline Icon: https://streamlinehq.comBluesky
Stand de livros com Helena Girão na Feira do Livro de Sevilha.

Faltam cinco minutos para as 11 da manhã. Nos Jardins de Murillo – o parque que ladeia a muralha oriental do Real Alcazar – os livreiros dão os últimos retoques aos seus expositores. Está prestes a começar uma nova jornada da 23ª edição da Feira do Livro de Sevilha. Durante o evento, que se prolongará até domingo, 2 de novembro, os amantes das letras poderão desfrutar de 52 stands com obras nacionais e estrangeiras, bem como de 5 espaços de apresentações, por onde passarão um total de 182 autores convidados.

Um pouco afastado da artéria principal da feira e discretamente envolto pela vegetação dos jardins, encontra-se o stand dedicado à literatura lusa. Helena Girão, proprietária da livraria Fonte de Letras e representante de Portugal pelo segundo ano consecutivo, acaba de endireitar O Primo Basílio, de Eça de Queirós, enquanto se prepara para receber os primeiros visitantes. “A ideia é trazer escritores portugueses e dá-los a conhecer aqui em Sevilha”, explica.

Helena Girão mostrando el libro Lavores de Ana en la Feria del Libro de Sevilla.
Helena Girão, proprietária de Fonte de Letras a mostrar o livro Lavores de Ana. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

Com a experiência adquirida na última edição, Helena já sabe que “em Sevilha, os clássicos têm muita procura – ainda mais do que na Feira do Livro de Madrid”. Abrindo um parêntese comparativo, constata que na capital espanhola o público é mais aberto a conhecer novos autores, enquanto na capital andaluza tende a procurar nomes já consagrados como Miguel Torga, Eça de Queirós, José Saramago e Fernando Pessoa. Por conseguinte, estes ocupam a posição central do seu expositor.

A partir desse tronco ramificam-se numerosas propostas de leitura que convidam os visitantes a descobrir distintas facetas do universo luso. Para os interessados na história nacional, recente ou remota, destacam-se a Brevíssima História de Portugal, de A. H. de Oliveira Marques, e 25 de Abril, 45 anos, de Alfredo Cunha; para os curiosos pela gastronomia, Portugal à Mesa, de Pedro Rodrigues; para os amantes da lírica, Sonetos, de Luís de Camões; para os que apreciam ilustrações e preferem a banda desenhada, Os Lusíadas em versão ilustrada; para os fascinados pela linguística, Por Amor à Língua e à Literatura, de Manuel Monteiro, e para os que não querem perder as últimas novidades, A Montanha, de José Luís Peixoto, que chegou esta semana às livrarias portuguesas e é também apresentada como novidade em Sevilha.

Visitantes observando libros en la Feria del Libro de Sevilla
Visitantes a contemplar a obra Brevíssima História de Portugal. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

“Temos mais livros em português, mas também temos uma grande oferta de obras traduzidas para espanhol”, comenta Helena. Não saber português não constitui impedimento para se adentrar no mundo lusófono nem para estabelecer contacto com os seus autores. De facto, é em parte graças ao labor do stand que várias editoras espanholas têm vindo a demonstrar um interesse crescente em promover estas traduções. Um exemplo disso é Revolução, de Hugo Gonçalves, recentemente publicado em Espanha, cuja tradução ficou a cargo da editora Libros del Asteroide. “Foi apresentado esta semana em Madrid com críticas fantásticas; é o primeiro livro editado cá, traduzido”, afirma.

Libro Revolução de Hugo Gonçalves en una feria del libro.
Livro Revolução. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

Mas a oferta não fica por aqui, pois uma grande parte do expositor está pensada para os aprendizes do idioma, como Concha e Antonio, ambos andaluzes profundamente apaixonados pelo país vizinho. Visitantes assíduos da Feira do Livro de Sevilha, regressam todos os anos a este stand para aprofundar o seu conhecimento e treinar o seu português com Helena. Desde os que começam a dar os primeiros passos até aos que já dominam o idioma, no stand Cultura de Portugal não faltam manuais de estudo da Porto Editora, livros de contos como Maridos e Outros Contos, de Lídia Jorge, ou A Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, nem obras bilingues como Poetas de Lisboa.

Visitante observando libros en el stand de literatura portuguesa.
Visitante a observar a secção de poesia e de manuais de estudo. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

A seleção de livros aqui apresentada denota o toque pessoal de Helena e reflete fielmente a essência da sua livraria, sediada em Évora. Fundada há 25 anos, a Fonte de Letras “tem um público diferente das livrarias de rede”, explica a proprietária. Por isso, “trouxemos livros que são mais difíceis de encontrar, mesmo em Portugal; são livros de editoras independentes (como a Língua Morta), pensadas para leitores mais abertos e recetivos a coisas novas”.

Stand de literatura portuguesa en la Feria del Libro de Sevilla.
Secção da editoras independentes. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

Com uma aposta firme na autenticidade e na criatividade, a Fonte de Letras distingue-se pela constante promoção de atividades. A próxima, aliás, será um encontro, nos dias 6, 7 e 8 de novembro, em homenagem ao centenário de José Cardoso Pires. Outra manifestação da sua originalidade está patente na sua joia da coroa – e motivo de deleite, sobretudo, para as crianças -: a emblemática máquina de poemas. Helena deixa transparecer na sua voz a comoção que sentiu ao ver uma jovem emocionar-se com o poema que lhe calhou. “É para isso que os livros existem: para fazer as pessoas pensarem de forma diferente, em coisas que não tinham pensado antes, para despertar emoções. E os miúdos do colégio que vêm visitar a feira reagem muito bem, adoram a máquina”.

Nota con un poema de Florbela Espanca en una mano
Poema que Florbela Espanca da Máquina de Poemas. FOTOGRAFIA DE CATARINA CASTANHEIRA

A par da sua função divulgadora, o stand emerge, igualmente, como um modesto refúgio para a comunidade portuguesa que vive ou está de passagem por Sevilha. Aproveitando a fugaz ocasião, são vários os portugueses, como Leonor, estudante do Porto em Erasmus na cidade de Sevilha, que se aproximam do expositor para matar saudades da sua língua materna. Outros, segundo conta a livreira, residentes de longa data na capital andaluza, procuram o stand para comprar obras para os filhos, com a intenção de “manterem viva a ligação a Portugal”.

 

Feira do Livro de Sevilha

  • Localização: Jardins de Murillo
  • Quando: até 2 de novembro
  • Horário: de segunda a sexta, das 11h às 14h e das 17h às 21h. Durante os fins de semana e feriados das 11h às 14h30 e das 17h às 21h.