Aristides de Sousa Mendes já está eternizado no Panteão Nacional português

O cônsul irreverente passa a estar presente no edifício que presta homenagem aos maiores nomes da história de Portugal

Comparte el artículo:

Aristides de Sousa Mendes, o irreverente cônsul português em Bordéus que salvou dezenas de milhares de judeus do regime nazi, foi reconhecido com um túmulo sem corpo no Panteão Nacional. O corpo de Sousa Mendes continua em Carregal do Sal. Depois de um desterrar de um busto na Assembleia da República, o antigo diplomata, que devido a sua coragem extrema foi considerado «um justo entre as nações» (título atribuído pelo estado de Israel), ganhou o seu lugar entre as figuras mais conhecidas do país graças a um voto colectivo de todos os deputados (exceptuando o Chega). Esta iniciativa nasceu graças a uma proposta da deputada Joacine Katar Moreira.

No Panteão Nacional, edifício criado em 1836, podem ser encontradas figuras da política, da literatura ou do desporto. Homens ou mulheres que de alguma forma se distinguiram na sociedade portuguesa. Nesta cerimónia, que aconteceu 67 anos após a sua morte, estiveram presentes políticos de todos os quadrantes, descendentes dos refugiados salvos e familiares do homem que defendeu que não existem raças, religiões ou civilizações superiores que as outras. Para defender o outro, Aristides de Sousa Mendes acreditava que o seu dever era desobedecer.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acredita que «Aristides de Sousa Mendes mudou a história de Portugal e projectou Portugal no mundo». Em nome do povo português, o chefe de Estado «curvou-se» perante a personalidade do homem que a partir de hoje compartilha o mesmo espaço de Camões, João de Deus e Manuel de Arriaga. A placa evocativa pode ser visitada na sala 2 do Panteão Nacional.

Portugal curva-se perante a memória de Aristides de Sousa Mendes

Rebelo de Sousa lembrou que Aristides de Sousa Mendes serviu até ao fim da sua vida com «coragem extrema, provação pessoal e familiar». Para o presidente, a atitude de Aristides de Sousa Mendes mudou num momento trágico a história de Portugal. O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, também discursou e afirmou que «Aristides de Sousa Mendes foi figura maior do século XX português». «Um farol em tempos de novas dificuldades», disse Eduardo Ferro Rodrigues que também alertou que actualmente vivemos num momento onde os fenómenos de ódio racial voltaram tanto na Europa como no resto do mundo.

O cônsul morreu em 1954 na pobreza, depois de ter sido retirado do seu cargo e proibido de exercer como advogado, e a casa da sua família em Cabanas de Viriato está em ruínas e espera obras para poder se tornar num museu. Alguns dos refugiados que chegaram a Portugal graças aos vistos passados por Aristides de Sousa Mendes chegaram a estar hospedados nesta residência.

Salvador Dali foi um dos nomes que foi salvo do nazismo devido ao acto do cônsul que foi contra as directivas de Salazar. O cônsul em Bordéus não foi o único português que esteve envolvido na protecção da comunidade judaica durante a II Guerra Mundial. Em Budapeste, o encarregado de Negócios Carlos Teixeira Branquinho e o seu antecessor, o embaixador Sampaio Garrido, também fizeram a diferença na protecção do mais fraco.

Vilar Formoso e a memória da II Guerra Mundial

Para relembrar o que aconteceu há mais de sete décadas, o Município de Almeida criou o Museu «Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes».

Noticias Relacionadas