As histórias de amizade e de superação que vão além das medalhas olímpicas

Da irmandade ibérica às conquistas históricas de Cabo Verde e de Guatemala, há muito a recordar de Paris

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Muito podemos falar sobre os Jogos Olímpicos de Paris que nos têm brindado de feitos desportivos e de polémicas. Para além das que todos conhecemos, há uma que envolve um antigo território português, Macau. O presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, disse que este território não tem reconhecimento internacional para competir de forma autónoma nos JO. O que a elite política de Macau não concorda. Alguns membros da comitiva portuguesa, especialmente na modalidade de ténis de mesa, são provenientes deste antigo território ou mesmo da China (como é o caso de Fu Yu, que compete por Portugal há mais de duas décadas).

Na parte asiática do mundo onde se fala português, Timor-Leste também apresentou a sua comitiva e um dos nadadores treinou, para esta competição, em águas abertas perto de tubarões e crocodilos. Muitos são os desafios a enfrentar para conseguir a glória olímpica eterna. Também há histórias de superação na comitiva portuguesa, já que uma das judocas competiu depois de ter perdido o irmão pequeno há sete meses e da mãe ter perdido a casa nas cheias do Rio Grande do Sul (no Brasil).

Quando a tocha olímpica se apagar e os olhos se voltarem para Los Angeles (onde vão acontecer as próximas Olimpíadas) guardamos imagens como as do surfista brasileiro Gabriel Medina a levitar sobre as águas como um Poseidon dos tempos modernos, a norte-americana Simone Biles a fazer uma vénia a «rainha» Rebeca Andrade ou o momento de amizade e emoção que as «hermanas» Salomé Afonso (Portugal) e Marta Pérez (Espanha) protagonizaram. As duas atletas foram abraçar-se depois de terem garantido, quase juntas, a presença na semi-final dos 1.500 metros. Os atletas ibéricos costumam treinar e participar em várias provas conjuntas, como é o caso da canoagem. Antes de irem para Paris, as comitivas desta modalidade do Brasil e da Argentina fizeram uma paragem em Portugal, onde puderam aproveitar as águas tranquilas, tempo agradável e as melhores canoas (Portugal é o maior produtor deste tipo de embarcação).

Um momento de amizade que ficará para a posterioridade. Portugal já ganhou uma medalha (esperemos que aumente com Fernando Pimenta e Pedro Pablo Pichardo) e vai terminar estes jogos com o facto curioso de ter tido na aldeia olímpica o elemento mais novo. Com apenas três meses, a marchadora Ana Cabecinha, que foi porta-esta dar-te da comitiva portuguesa, foi acompanhada pelo filho nascido em Maio e que «correu» ao seu lado os últimos metros de uma carreira de 28 anos.

Quem também deve estar a acabar a sua carreira, pelo menos a nível olímpico, é o tenista Rafa Nadal. Que foi um dos últimos a carregar a tocha olímpica e que aproveitou a sua estadia em Paris para passar o testemunho de próximo G.O.A.T do tênis espanhol a Carlos Alcaraz. Se olharmos para a América latina, o Perú e a Guatemala conseguiram as suas primeiras medalhas. Este último país deverá sair de França com duas mas o bronze deverá ter mais visibilidade que o ouro pois o primeiro lugar foi conquistado por uma mulher e este é um país ainda fortemente marcado pelo patriarcado e onde as mulheres ainda lutam pelos seus direitos. Em relação ao México, que recebeu as olimpíadas na década de 60, conseguiram medalhas no tiro com arco apesar da corrupção que atingiu a federação desta modalidade no país (os atletas eram obrigados a comprar as flechas).

As histórias também contam-se fora da competição desportiva, que tem sido acompanhada de perto pelos elementos da família real espanhola. Nós, os comuns mortais, conhecemos pela televisão personagens como o pugilista cabo-verdiano David Pina. Este medalha de bronze foi o primeiro medalhado da história deste país insular. Pina vive nos arredores de Lisboa, treina num clube amador e com uma bolsa de 700 euros (que não dá para cobrir todos os gastos) foi obrigado a trabalhar nas obras. Foi com o dinheiro que lá ganhou que conseguiu estar em Paris, cidade onde se houve falar português com muita facilidade mas ainda mais se houve falar as duas línguas ibéricas neste período onde atletas de diferentes continentes se encontram para competir com o maior fair play possível.

Em relação a África lusófona, todos os países marcaram presença mas pedem um major apoio ao desporto para que os feitos possam ser ainda maiores. Posso estender este pedido também a Portugal, que na comitiva que apresentou tem mais mulheres do que homens.  No medalheiro olímpico, o Brasil está em 17° na geral e tem sido o país de língua portuguesa que mais se tem destacado.

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