Cinquenta anos depois, o 25 de Abril está vivo e saiu às ruas de Portugal e do mundo com esperança no futuro e muitas memórias para partilhar

Cravos vermelhos e muita música no dia em que o sol terminou com a penumbra da ditadura e em que Portugal apresentou ao mundo os seus "Capitães de Abril"

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Tal como há cinquenta anos, numa manhã de quinta-feira em que o sol da democracia derrubou as trevas de 48 anos de uma ditadura feroz, os portugueses voltaram a sair às ruas não só em Portugal como em vários pontos do globo onde está data também é celebrada (em Espanha a Revolução dos Cravos é marcada pela música de José Afonso). Saídos de Santarém em direção a Lisboa, a coluna da liberdade seguiu os passos dados pelos militares de Abril que desfilaram numa parada militar que decorreu no Terreiro do Paço (que tinha como nome de código: Toledo) e juntou cerca de 1100 militares dos três ramos das Forças Armadas. Depois de um espetáculo de videomaping, a principal praça de visitas da cidade recebeu este desfile militar. A «Grândola» voltou a ser, como sempre, cantada nas ruas (tal como no parlamento , perante a nega dos deputados do Chega) que se encheram com o vermelho dos cravos e com a poesia de nomes como Manuel Alegre.

Este evento, que aconteceu no período da manhã, juntou populares (que viveram ou não este período) e turistas que estavam na cidade mas gostam e conhecem a história de Portugal. O 25 de Abril de 1974 foi considerado, por uma sondagem, a data mais importante da nossa história. Marcello Caetano e Salazar são dois nomes que fazem parte do passado mas a verdade é que ainda existem 17 ruas no país com o nome do homem que criou o Estado Novo. Os cinquenta anos da democracia em Portugal foram celebrados com um presidente filho de uma figura do antigo regime a saudar os soldados que fizeram este golpe de estado. Para Marcon, a «Europa de hoje deve muito à coragem dos Capitães de Abril «.

Parte desta história foram os militares que tomaram este e outros pontos-chave (como foi o caso da RTP, Quartel do Carmo ou o aeroporto) e que ao longo do dia assumiram as mesmas posições que tiveram há cinquenta anos fazendo sinal de vitória ou empunhando os famosos cravos vermelhos entregue pela D. Celeste aos então jovens soldados que colocaram as flores nas bocas das espingardas para demonstrarem que não queriam derramar sangue (a revolução terminou com 4 mortes). Muitas são as histórias que os homens que participaram na coluna de Salgueiro Maia têm para contar e segundo um dos jornalistas que seguia nesta coluna há cinquenta anos foi a liberdade que as pessoas sentiram para dizer o que quisessem e não o puderam fazer nos 48 anos anteriores.

Depois do desfile militar houve as cerimónias oficiais no parlamento. Nos habituais discursos que marcam esta data, todos os partidos refletiram sobre a importância desta data e em relação às declarações que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa prestou aos jornalistas sobre a necessidade do país pagar por aquilo que fez no período colonial, todos os partidos (da esquerda a direita) pedem uma retratação do PR e defende que é necessário mais lusofonia e que o passado faz parte da história (seja ela boa ou má). Rebelo de Sousa também lembrou a importância de nomes como o do antigo PR Ramalho Eanes, militar do 25 de Novembro. Uma das figuras internacionais presentes na Assembleia da República foi o presidente da Guiné-Bissau.

Democracia abre portas e recebe todos para explicar a sua história

O Parlamento esteve aberto para visitas. «O 25 de Abril tem que ser uma data de união, a cerimónia aqui na Assembleia da República representa essa união da democracia e do regime em que vivemos. É este o regime felizmente em que vivemos e que 25 de Abril criou. Quem quer outro regime está no sítio errado», defendeu a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão. Os partidos da esquerda parlamentar deixaram a mensagem de que é preciso evitar retrocessos e alertaram para os saudosistas do anterior regime. Para a maioria dos portugueses, como a última sondagem aponta, este é o dia mais belo da história e que marca o início da nossa democracia (80% das empresas portuguesas já nasceram depois de 1974).

Já da parte da tarde, a Avenida da Liberdade encheu -se para um desfile popular que contou com a presença do presidente da AR, José Pedro Aguiar-Branco. Milhares desfilaram empunhando cartazes com o conhecido slogan «25 de Abril l, Sempre!». A esquerda esteve em peso neste desfile que também contou com a presença do IL. Con 91 anos, a Celeste dos cravos foi uma das que desceu a avenida. Das dezenas de estrangeiros que juntaram-se às comemorações, os espanhóis foram os que mais focaram esta data como a recordar.

Esta iniciativa, onde se trocaram memórias, aconteceu em vários pontos do país, incluindo o Porto. Gente feliz (mesmo com algumas lágrimas) que vivem a história democrática não querendo repetir os erros do passado. Onde não se vivia sem liberdade, apenas se sobrevivia.

Jovens e menos jovens desceram a avenida como «simples cidadãos» livres de fazerem o que querem. Luís Montenegro, que viveu o seu primeiro 25 de Abril (há cinquenta anos tinha pouco mais de 1 ano) como primeiro -ministro pediu aos «jovens para construírem o Portugal do amanhã «. O governante espera que esta data seja marcante também para o atual estado do país. A democracia em Portugal foi consolidada com a entrada, em conjunto com Espanha, para a CEE

Para o capitão Vasco Lourenço, do MFA, Abril nunca estará totalmente cumprido pois há sempre o que melhorar mas essa é a definição de um regime democrático que está em constante mudança. «Preferimos sempre a democracia, mesmo que imperfeita, a ditadura», disse o chefe de estado num dia em que a festa saiu às ruas. Depois de cinquenta anos a ouvir «onde esteve a 25 de Abril de 1974?» a pergunta daqui para a frente será «onde esteve a 25 de Abril de 2024?». Este é o momento de não esquecer Abril.

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