EL TRAPEZIO entrevista Rosa Montero: «As melhores páginas que escrevi foram em Portugal»

Autora e jornalista tem um grande impacto no mundo hispânico internacional e foi distinguida com o prémio nacional de Letras de Espanha

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A 92ª edição da Feira do Livro de Lisboa, que conta com uma forte presença de autores hispânicos, foi o local escolhido para entrevistar a autora Rosa Montero. A escritora, que tem em Portugal um refúgio, esteve presente no festival para apresentar o seu livro El Peligro de Estar Cuerda e participar numa conversa moderada pela jornalista da Renascença Ana Galvão. Na entrevista dada ao EL TRAPEZIO, a escritora falou sobre a mente inquieta de um criativo, os principais desafios que enfrenta quando a página está em branco e os autores portugueses que mais a inspiram.

Devido a sua importância para as letras hispânicas a nível internacional, já foram publicados mais de dez livros centrados na autora, e cerca de sessenta livros coletivos incluem estudos sobre ela.

Quais são os principais desafios que um autor enfrenta quando começa a escrever?

RM: As histórias são sonhos que se sonham com os olhos abertos. Os novelistas, como explico no último livro que publiquei em Espanha, são pessoas que não acabaram de madurar o cérebro. Estamos cheios de imaginação e a todo o momento, mesmo no meio da rua, acabas por ter uma ideia. De repente lembras-te de uma história que acaba por ganhar vida sozinha. Faz com que te emociones e enche-te de curiosidade. Percebes que tens de contar aqui. É assim que nasce uma história.

P: O que podemos ver de si nos seus livros?

RM: Acredito que tem várias coisas, mas uma delas é a capacidade de identificação emocional muito grande. Muitas pessoas dizem-me, desde sempre, que quando começam a ler os meus livros de alguma maneira sentem-se acolhidos emocionalmente. Acredito que essa capacidade de acolhimento emocional é das minhas característica.

P: Portugal e os portugueses a inspiram?

RM: Cito bastante nos meus livros Pessoa, que para mim é um dos meus pais literários. Portugal inspira-me muito. Portugal é um sítio onde tenho um apartamento há 14 anos e devo dizer que nestes anos as melhores páginas que escrevi foi aqui, em Cascais.

P: Falou de Pessoa, mas que de outros autores portugueses também gosta?

RM: Tenho que falar de Saramago e de Lobo Antunes. São tantos que fica difícil de escolher apenas alguns.

P: Para além de ser escritora também é jornalista. Como é que olha para o estado em que o mundo está?

RM: Estamos num momento muito preocupante e em que existe uma sucessão de crises. Esta é uma crise da credibilidade democrática. O sistema democrático apresenta mínimos baixíssimos. Está subindo em todo o mundo os dogmatismos de todos os tipos, desde a extrema-direita a extrema-esquerda, laicos e religiosos. Está a subir o ódio pois é neste que os sistemas dogmáticos se baseiam para criarem uma ligação. Estamos a enfrentar um desafio brutal com o aquecimento global. Acredito que estamos num momento muito mau. Temos que o enfrentar e tentar lutar para que o mundo do futuro seja habitável em todos os sentidos.

P: Para quem ainda não leu o seu mais recente livro, como o pode descrever?

RM: A maioria dos meus livros são novelas convencionais. Tenho três livros que eu chamo de artefactos literários. São muito difíceis de catalogar. São uma mistura de ensaio, autobiografia e biografia de outros autores. Tudo pouco convencional. Está tudo misturado. Este meu último livro, El Peligro de Estar Cuerda, é um desses artefactos que quando sai os livreiros dizem que não sabem em que mesa devem-no colocar. Se na mesa de ensaio ou de ficção. Desde que saiu em Espanha, há 16 ou 17 semanas, El Peligro de Estar Cuerda, está na lista de best-sellers tanto nos ensaios como na ficção. É um livro bastante difícil de descrever em poucas palavras.

P: Todos temos um pouco de génios e de loucos?

RM: Este livro, El Peligro de Estar Cuerda, tenta analisar isso. O que chamamos loucura, o que é a criação, de onde esta sai. Vamos a parte científica pois gosto muito de ciência, desde a parte neurológica a psiquiátrica. Para responder diretamente, todos os especialistas defendem que estar louco não te faz artista. O que acontece é que a cabeça das pessoas criativas, seja bom ou mau artista (é o menos), e a cabeça das pessoas com transtornos mentais está criada de uma forma semelhante.

P: O que podemos esperar para o futuro?

RM: Tenho três livros em fila. São três temas, mas não sei para quando. Não sei se viverei para fazer os três pois é algo que leva o seu tempo. Tenho o quarto livro de Bruna Husky; tenho uma novela contemporânea como A Boa Sorte e tenho outro artefacto literário (o quarto) sobre um tema fantástico, mas sobre o qual não posso dizer.

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