Há quatros anos, quando cheguei na Espanha, fiquei mais perdida que um cego em tiroteio ou segundo a expressão espanhola “más despitado que un pulpo en un garaje”, por sorte as coisas foram melhorando, e logo fui adquirindo novos conhecimentos, e até aprendi sobre “los refranes” espanhóis, porque as nossas semelhanças iberófonas são maiores do que as nossas diferenças.
Desde os nossos primeiros anos é bem comum ouvirmos algumas frases, que são pré-elaboradas, as utilizamos em certos contextos e com um sentido lógico, de fácil entendimento para pessoas de qualquer idade.
São os ditados populares “los refranes o dichos” em castelhano, frases ou expressões sábias, passadas de geração para geração; quem nunca ouviu: “Cada macaco no seu galho”, “Quem tem pressa come cru” ou “Escreveu não leu, o pau comeu”?
Muitos desses ditados têm a sua origem na antiguidade, nas passagens bíblicas, além de serem mensagens de sabedorias de muitos povos. São nada mais que um reflexo cultural de povos, histórias e mitos.
Como é algo tão corriqueiro pensamos logo que os ditados populares, tal como conhecemos, são exclusividade de nosso país de nascimento, mas a verdade é que compartimos muitos deles com outras culturas.
Ultrapassando as fronteiras da nossa língua portuguesa os ditados podem serem traduzidos de maneira literal ou muito parecida; escritos com outras palavras, mas com o mesmo significado; alguns não encontram seu correspondente e refletem a diversidade cultural e os costumes locais.
Sempre é muito curioso chegar em um lugar e encontrar semelhanças em solo alheio, diz-me se não é engraçado escutar por primeira vez um “Perro ladrador poco mordedor “ ou “En casa del herrero, cuchillo de palo”?
Não sabemos a origem exata dessas expressões, no Brasil, provavelmente herdamos algumas delas de Portugal e na Espanha, podem ser o resultado das similitudes ou mescla cultural, mas o certo é que sempre encontramos um correspondente ou com a tradução literal.
Sabe aquela expressão, que significa que é preciso insistir, pedir, para conseguir algo: Quem não chora não mama, aqui podemos encontrar o mesmíssimo “El que no llora, no mama”.
Ou quando queremos dizer que é melhor se contentar com pouco do que ambicionar muito e perder tudo ao final. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando, podemos dizer em castelhano “más vale pájaro en manos que cientos volando”.
Deixamos una seleção de ditados que compartimos com os espanhóis, mas já adianto que existem muitos mais:
- Antes só que mal acompanhado – “Más vale estar solo que mal acompañado”.
- Quem canta seus males espanta – “Quien canta, su mal espanta”.
- Cavalo dado não se olha os dentes – “A caballo regalado no le mires el dentado”.
- Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão – “El que roba a un ladrón tiene cien años de perdón”.
- Nem tudo que reluz é ouro – “No es oro todo lo que reluce”.
- À noite todos os gatos são pardos– “De noche todos los gatos son pardos”.
- Em boca fechada, não entra mosca – “En boca cerrada no entra mosca ni araña”.
- Quem casa quer casa – “El casado, casa quiere”.
- Depois da tempestade vem a bonança – “Después de la tormenta viene la calma”.
Também encontramos alguns ditados populares ou “refranes” na Espanha, muito parecidos ou equivalentes aos utilizados na lingua portuguesa, com a diferença que contén outras palavras, mas transmiten a mesma mensagem:
- Quem pariu Matheus que acalante – “Que cada palo aguante su vela”.
- Cada macaco no seu galho – “Cada oveja con su pareja”.
- Filho de peixe, peixinho é – “De tal palo, tal astilla”.
- “A fome é a melhor cozinheira” – “A buen hambre, no hay pan duro”.
- “Quem avisa amigo é” – “El que avisa no es traidor”.
- Mais perdido que um cego em tiroteio – “Más despitado que un pulpo en un garaje”. Meu preferido!
Porém, há ditados específicos de um povo ou região, e que talvez sejam mais compreensíveis para quem vive naquela cultura. É muito interessante e enriquecedor chegar em um país e conhecer alguns ditados locais.
Pensando em uma melhor adaptação, adquirir conhecimentos dos diferentes costumes e até aprender sobre a história local, conheci alguns “refranes” típicos da Espanha:
- “Nunca es tarde si la dicha es buena”. Significa que sempre é tempo para iniciar ou aprender algo novo.
- “Cada cual en su casa, y Dios en la de todo”, não é difícil imaginar que o interlocutor quer mais privacidade.
- “El que fue a Sevilla perdió su silla”. A origen desse refrán vem da disputa de dois homens pelo acerbispado de Sevilha(Espanha). O primeiro a ocupar o posto foi à Santiago de Compostela para preparar o futuro cargo do segundo. Quando voltou, seu inimigo havia tomado seu lugar.
- “A buenas horas, mangas verdes”. Na época dos reis católicos, havia uma irmandade encarregada de capturar os malfeitores como ladrões. No entanto, quase sempre chegavam tarde para cumprir sua missão. Segundo a tradição, esses homens usavam um uniforme de mangas verdes, daí vem a expressão.
Sem dúvidas, “A união faz a força”, este ditado que conhecemos bem, quer dizer que um grupo unido consegue realizar muito mais do que alguém sozinho. Em outras palavras, ele faz referência à importância de grupos coletivos, mas também nos remete à idéia de pertencimento.
Nada melhor que aprender os ditados ou “refranes” para aumentar ou fomentar nossa união e ainda conhecermos melhor, porque ao final “Nunca es tarde si la dicha es buena”.
Lorena Luciana Santos