EL TRAPEZIO teve a oportunidade de entrevistar, na Casa de América em Madrid, a Carlinhos Brown, músico, compositor, ativista sociocultural e embaixador ibero-americano da Cultura que, o próximo dia 11 de setembro, oferecerá um espetáculo dentro do festival IBEROEXPERIA, em Madrid na sala La Riviera, e no dia seguinte, 12 de setembro, na sala Paral.lel 62 de Barcelona.
O Brasil tem dimensões de continente, isso pode dificultar o sentimento de pertencimento a Ibero-América?
De forma alguma, porque tem países tão grandes quanto o Brasil, o que difere e tira essa sensação de pertencimento são apenas 50 palavras, que diferem o espanhol do português e isso tá sendo vencido. Existem muitos planos e projetos educacionais para diminuir esse impacto de 50 palavras.
Nem o quantitativo populacional nem a dimensão geográfica atrapalham, ao contrário, tudo isso é para dizer que o Brasil tem espaço para acolher o mundo, contando que tenha seu meio ambiente, sua população e seu povo respeitados.
Você é embaixador da cultura ibero-americana, em termos gerais como você vê a evolução desse espaço cultural nos últimos anos?
O espaço cultural brasileiro teve bastante ameaçado nos últimos anos por questões políticas, com o novo governo isso se reacendeu positivamente, dando escoamento a essa qualidade dimensional que é a cultura brasileira.
A cultura brasileira se mantém forte porque tem grandes expositores de talentos em todas as áreas, e isso transcende as fronteiras do Brasil e coaduna-se com o que a América é, com sua capacidade artística gigantesca.
Diz-se que a Europa guarda memorias, nós criamos novas tradições e isso é um laço cultural fortíssimo que a América tem e o Brasil está incluído, fazendo a sua parte com muita beleza, espero que a gente não seja atrapalhado mais.
O mercado brasileiro por sua dimensões tem uma grande demanda, grandes artistas preferem se dedicar ao mercado interno e não investir na carreira internacional. Você acha que isso mudou nos últimos anos?
Escoar para fora é um desejo dos artistas de todo o mundo, isso acontece com um chinês ou um americano. Porém o mundo com suas políticas, optou por ter a língua inglesa como uma língua matriz, depois vem o espanhol e outros idiomas, mas a comunicação mais forte se faz através do inglês, então talvez essa seja a dificuldade de vários artistas em muitos países e não apenas no Brasil.
O Brasil cansou um pouco de ser visto só pelo samba, quando o Brasil é uma matriz da musica pop mundial, dou como exemplo o Paulinho da Costa que trabalhou nos álbuns do Michael Jackson, foi o percussionista do Earth, Wind & Fire introduzindo a rítmica brasileira na música americana que poucas pessoas imaginam, ao lado dele Naná Vasconcelos, Flora Purim, etc, exponentes que trouxeram um novo jeito para a música mundial.
De um certo modo o Brasil tem seus representantes, são poucos mais virais e isso termina durando porque são pessoas muito qualificadas para estar fazendo o que fazem, como é o caso dos artistas citados.
Este ano comemora-se 20 anos do filme o Milagre do Candeal, que fala sobre sua vida real, queria que você falasse como a música e a educação tem o poder de transformar a vida dos jovens e adolescentes?
A educação pode transformar mais do que a música, a música é uma ferramenta importante, ela é mais uma adendo e não tem essa responsabilidade de transformação, quem tem são as pessoas.
Não podemos esperar que uma melodia ou uma letra possam mudar o mundo, porque pode ser também um pensamento de uma única pessoa. Muitas vezes você está cantando mas no inconsciente coletivo isso não traz mudança, a sua ação pessoal sim vai trazer mudanças. A música talvez cobre que cada um trabalhe em sua individualidade para que tenhamos um grande coletivo de resultados.
Estamos aqui na Casa de América em Madrid, você tem boa relação com esse país sempre faz muitas atividades como shows, exposições, como é a sua história com a Espanha?
A minha história com a Espanha é linda, já começa com meu pai contando em castelhano, isso já me chamava bastante atenção. Sempre fui um aficionado pela música flamenca, porque ela me abria as portas para a África como um todo, meu ouvido primeiro passou primeiro pela Espanha para depois ir à África.
A África que eu tinha no meu quintal com os candomblés, aquilo me bastava mas, eu não conhecia a música da Mauritânia, não conhecia realmente a África subsariana, o que a África do Sul estava fazendo e isso foi de extrema importância.
A Espanha foi a partir da convivência que eu tinha na Bahia. Com os espanhóis, que estão entre os maiores investidores do Brasil em diversas áreas. Isso não foi indiferente na minha infância, foram muitos os galegos que saíram fugidos da guerra e foram morar na Bahia, eles criaram as padarias, os hospitais etc.
A Espanha é um vizinho próximo e quando estive aqui pude mostrar o que havia absorvido desse país na minha infância, esse intercâmbio e miscigenação cultural encaixaram imediatamente.
Quais são seus novos projetos na Espanha e Europa?
No dia 11 de setembro vamos fazer uma apresentação em Madrid na sala La Riviera e no dia 12 de setembro em Barcelona na Paral.lel 62.
Vai ser uma experiência única e estou muito feliz desta oportunidade de voltar à Espanha aos poucos. Havia me afastado das turnês por estar fazendo programa de televisão no Brasil, me sinto muito mais amadurecido ao me encontrar na Espanha, porque tenho amigos sólidos aqui, que podem aumentar essa capacidade de comunicação com a arte e trazer um pouco do que o Brasil tem como coirmão cultural da Espanha.
No resto da Europa, organizamos em Paris a lavage de la Madeleine no dia 15/09, em Londres fizemos atos com Manchester City e o Bahia day, a Europa está sempre aberta para a cultura e queremos oferecer o nosso melhor.
Mais informação: https://www.iberoexperia.com/
