Depois de um aguardado arranque em Portugal, onde estiveram três dias e fizeram as delícias dos amantes de ciclismo, a edição de 2024 da Vuelta teve o seu fim em Madrid. Depois de começarem em Lisboa, mesmo ao lado da Torre de Belém, o pelotão chegou a meta final que consagrou cono grande vencedor o ciclista Primoz Roglic.
Foi a quarta vez que o ciclista, natural, natural da Eslovénia, ganhou esta prova, que é a terceira mais popular do mundo (ficando apenas atrás do Tour de França e do Giro de Itália). Infelizmente o pódio não terminou com presença portuguesa, já que João Almeida, que era um dos grandes candidatos a vitória final, acabou por abandonar antes da chegada a Madrid por ter dado positivo a COVID-19. Dos três portugueses que faziam parte do pelotão e iniciaram o contrarrelógio que ligou Lisboa-Oeiras sob os aplausos do público, apenas Nélson Oliveira conseguiu terminar a competição. Que teve como nome oficial Lisboa-Oeiras-Cascais-Madrid. Este foi um verão diferente para todos os apaixonados por desporto.
Agora que tudo acabou, e olhando para trás, podemos dizer que a presença da Vuelta em Portugal foi positiva. Ainda antes do arranque, já o Governo português tinha afirmado que estava em negociações com a empresa responsável pela Vuelta, a Unipublic, para que esta volte novamente ao país. Transmitida para 190 países, receber algumas etapas de uma competição como a Vuelta é um golpe de marketing para o turismo ao nível de um anúncio em Times Square. Várias localidades, especialmente no interior, estão dispostas a investir para verem os seus nomes anexados a um futuro novo trajeto em Portugal.
Outros países também estão a concorrer para receber o arranque desta prova em 2025. Depois da terceira etapa, que acabou em Castelo Branco (cidade habituada a receber etapas da Volta a Portugal), o diretor da Vuelta disse, em entrevista aos meios de comunicação portugueses, que claramente voltariam ao país e que o balanço dos três dias foi muito positivo mas não podia apontar uma data em específico. Apenas que seria num futuro próximo. Esperemos que não seja lá para 2050. A primeira vez foi há mais de vinte anos, perto do arranque da Expo em Lisboa.
Como em tudo, há sempre aqueles «velhos do Restelo» (o pelotão por acaso esteve nessa zona) que são sempre contra tudo e não gostaram de ver a Vuelta a Espanha em Portugal mas não é a primeira nem será a última prova desportiva de um pais a começar em outro. Essas vozes existiram mas a maioria gostou de ver Almeida, Roglic e companhia a rolarem pelas estradas portuguesas. Onde a praia e a cidade se encontraram com a natureza virgem do interior e a sua rica história. Vimos o Mosteiro da Batalha, passaram por perto de Aljubarrota (mas não explicaram a história da padeira que, quase sozinha, venceu os castelhanos) e na cidade de Torres Vedras aplaudiram o herói da terra, João Almeida, e relembraram Joaquim Agostinho. A lenda do ciclismo português esteve apenas a 11 segundos de vencer a Vuelta, na sua altura. Em 1945, a Europa estava destruída pela II Guerra Mundial, mas mesmo assim a Vuelta a Espanha aconteceu apenas com ciclistas ibéricos. O grupo era composto por oito ciclistas portugueses.
Pessoalmente, gostei de acompanhar a Vuelta que passou pelo sul de Portugal, local onde vivo e por onde raramente a Volta a Portugal passa. Fazem Lisboa e pouco mais. É cada vez volta ao norte de Portugal. Gostava que voltassem a ligar o país, que nem é assim tão grande, de uma ponta a outra. Começando em Faro, passando por Caminha e descendo para terminar em Lisboa. Em pleno Terreiro do Paço. Podia ter uma passagem pela Galiza. Fica aqui a ideia.
Uma vez levantamos a ideia de uma prova de ciclismo ibérica. Algo que se provou ser possível com esta pequena passagem por Portugal. Mas caso não voltemos a ver a Vuelta a começar ou a passar por Portugal, porque não podemos ter uma prova que «cosa» a Raia. Isto é possível e já aconteceu há muitos anos. É uma das memorias de infância da minha mãe, que é de Barrancos (mais raiana que isto é impossível). A fronteira é longa mas seria interessante ver uma prova de ciclismo que percorre-se esta linha de uma ponta a outra. Agora que já não existem postos de controle seria muito mais fácil. Atualmente, o que temos são os trilhos da Raia. Esta é uma prova de BTT que não é oficial mas já contou com a participação de um antigo vencedor da Volta a Portugal e atual comentador de ciclismo da RTP, Marco Chagas.
A Supertaça de Espanha também se joga na Arábia Saudita e não ouço grandes críticas para além da distância e da falta de ligação, cultural ou histórica, entre os dois países. Acredito que todos os que viram os três primeiros dias perceberam que eram dois países diferentes. Desta vez, não só a história mas também o desporto voltaram a unir as duas capitais ibéricas. Lisboa e Madrid ficam a 503,10 kms de distância. Que este ano foi corrida de bicicleta na Vuelta.