Exposição itinerante sobre Saramago chega a Caldas da Rainha

“José Saramago – Um escritor de inquietações” está patente no Centro Cultural e de Congressos da cidade até ao dia 12 de março

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Ainda no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de José Saramago, e com o apoio da Fundação do escritor, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) está a promover uma exposição itinerante sobre a vida e obra do único Prémio Nobel da Literatura em língua portuguesa.

A mostra, com um total de 93 painéis, já esteve noutros municípios portugueses como Santarém – a capital do distrito onde Saramago nasceu – Mafra e Óbidos. Mas agora, e até ao próximo dia 12 de março, é a vez de permanecer na sala de exposições do Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha.

Uma exposição que, nas palavras do seu curador, António Marques, pretende “homenagear o mestre das letras portuguesas”. Que obteve o reconhecimento internacional em 1998, quando venceu o Prémio Nobel, mas cujo percurso tem mais para contar. “É um homem que subiu a pulso, no seio de uma família muito pobre, e que sempre teve dificuldades económicas”, lembra o também responsável pelo núcleo cultural do STAL.

“É por isso que, na obra de Saramago, vemos sempre uma dicotomia entre os mais vulneráveis e os que oprimem, os que têm força. Saramago está do lado dos que precisam de defesa”, acrescenta o curador, sublinhando o caráter irregular da obra do ribatejano. “Escreveu sempre num estilo neorrealista até ao ‘Levantados do Chão’, onde adota um novo estilo”. Mudança que não aconteceu “só para dar um jeito à carreira”: tem uma razão de ser. “Ele percebeu que era apenas um narrador, daí abolir os sinais e os parágrafos. Um narrador só tem respiração, não tem pontos finais”.

Além do escritor “sublime”, António Marques destaca também o homem “suficientemente isento” para lá das convicções políticas. “Saramago foi militante do Partido Comunista, mas nem sempre alinhou totalmente com o seu partido. Isso só lhe confere dignidade”, afirma. E não esquece as polémicas nas quais o escritor esteve envolvido, nomeadamente a que o levou a sair do país. “Essa decisão do político Sousa Lara, em 1992, que vetou O Evangelho Segundo Jesus Cristo para o Prémio Literário Europeu”, por considerar o livro contrário à moral cristã.

Foi este episódio, contudo, que levou o autor a uma “etapa feliz” da sua vida, diz Marques, na ilha espanhola de Lanzarote. Onde viveu até à morte com a esposa Pilar del Río, a atual presidente da Fundação José Saramago e “uma das suas grandes alavancas” na vida e na literatura. “Foi ela, uma jornalista especializada em marketing, que muito o ajudou a categorizar, mostrar e catapultar a sua obra até ao Prémio Nobel”.

Saramago gostava de Lanzarote “por ser uma ilha telúrica, desértica, que impõe a solidão própria da criação literária”. E que o ajudou a escrever “coisas que, provavelmente, não teria escrito se tivesse ficado [em Portugal]”. O que não quer dizer que ele tivesse deixado de se importar com a sua pátria. “Ele era um autor da portugalidade, amava Portugal. Doeu-lhe muito a partida”, admite o curador.

Nem por acaso, a exposição conta com um painel que evidencia a frase “Lanzarote no es mi tierra, pero es tierra mía”. Um sentimento que António Marques explica pelo facto de Saramago “ter adotado aquela terra” e que, acredita, não é alheio a um “iberismo” próprio. “Este ambiente ibérico não é forjado. Existe mesmo um conjunto indissolúvel e Saramago, sabendo disso, viveu-o à sua maneira”.

“Esta mostra”, conclui, “diferencia-se de outras porque mostra o verdadeiro fácies de Saramago, que era muito expressivo”. De um escritor que “nos ensinou a filtrar as grandes contradições do mundo cinzento, que impõe uma redobrada atenção, vigilância e intervenção cívica”.

A partir do dia 12 de março, a exposição segue para Évora, “onde vai estar uns meses”. Até lá, diz o curador, “não só podemos incentivar à leitura deste Prémio Nobel, que é fascinante, como devemos estudá-lo para o entendermos”.

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