Preservar, divulgar e celebrar a dieta mediterrânica enquanto Património Cultural Imaterial da Humanidade é, mais uma vez, o mote da Feira da Dieta Mediterrânica, que decorre em Tavira entre esta quinta-feira e o próximo domingo. No ano em que se comemora o 10.º aniversário da inscrição dos sete países com esta dieta na lista da UNESCO, da qual fazem parte Portugal e Espanha, o destaque vai para a celebração de Tavira enquanto comunidade representativa portuguesa na iniciativa.
Um reconhecimento internacional que, segundo a presidente da Câmara Municipal de Tavira, se deve aos vários méritos do concelho algarvio. “Temos um passado importante pela ocupação fenícia, romana e árabe, para além da proximidade com o mar e de um extenso barrocal com pomares de sequeiro, de alfarroba e amêndoa, muito típicos da cultura mediterrânica”. Sem esquecer a prática alimentar na região “muito baseada” na Dieta: “aproveita-se tudo aquilo que se cria e há um consumo muito grande de cereais e azeite”.
Apesar da seleção de Tavira em 2013, a autarca salienta o empenho das entidades do Algarve desde então “nas várias dimensões de proteção” da dieta mediterrânica, desde a elaboração de um Plano de Salvaguarda, que se encontra em fase de atualização, à promoção do património. “Aquilo a que nos comprometemos enquanto comunidade representativa foi que este conjunto de competências, práticas, saberes e tradições pudesse vir a ser identificado, documentado, valorizado e transmitido às gerações vindouras”, frisou Ana Paula Martins.
A Feira da Dieta Mediterrânica é, desta forma, o “momento alto” do trabalho conjunto, apoiando a associação da dieta a um estilo de vida saudável e a mostra do património comum entre os países mediterrânicos. Tal como em anos anteriores, o certame inclui uma feira institucional com presença de outros países, instituições nacionais e regionais, de patrimónios imateriais classificados pela UNESCO, expositores de artesanato e produtos tradicionais, atividades gastronómicas e artes performativas.
Nesta nona edição, a presença espanhola está assegurada pela atuação da cantora Estrella Morente no palco principal, no dia 8, mas também pela mostra e prova de produtos tradicionais ibéricos, como é o caso da atividade Aqui há tomates, no dia 9, levada a cabo por várias associações portuguesas e espanholas. O mesmo grupo promove ainda, no dia 10, uma tertúlia sobre o tema Preservar a biodiversidade agrícola em Portugal e na serrania de Ronda (Espanha).
Este convite “tem uma dupla vertente: por um lado envolver Espanha e o seu património; por outro envolver o público espanhol que nos visita”, admite Ana Paula Martins. Embora a ligação não se fique por aqui. “Temos sempre interesse em colaborar com quem partilha connosco esta classificação patrimonial no âmbito científico, de investigação e partilha de conhecimento, mas também ao nível cultural”, justifica, referindo que este trabalho com Espanha fica “mais fácil” pela proximidade geográfica.
Ainda assim, a autarca refere que “é preciso fazer mais” para exportar a dieta mediterrânica, que tem outros benefícios para além da saúde. “Vemos cada vez mais nos chefs, por exemplo, a preocupação pelo desperdício zero, que esta dieta também promove, e a valorização dos produtos mediterrânicos pela sua qualidade”. Considera, por isso, importante “educar os mais jovens” sobre esta dieta e juntar esforços na sua divulgação. “Se outras pequenas comunidades como Tavira trabalharem em benefício deste património, é mais fácil dá-lo a conhecer”, conclui.