José Eduardo dos Santos morreu aos 79 anos após ter estado vários dias em coma após um AVC. O anúncio deste óbito foi feito pela Presidência da República de Angola. O governo já decretou cinco dias de luto nacional e criou uma comissão para organizar um funeral de estado. Foi um dos chefes de Estado mais longevos de África e do Mundo e segundo uma das suas filhas, Tchizé dos Santos, é um dos heróis do continente. A sua vida terminou longe do poder e com os filhos envolvidos num lio político. O antigo chefe de estado angolano faleceu no Centro Médico Teknon, em Barcelona. O político mudou-se para a cidade condal em 2019 para se tratar de um cancro. Na capital da Catalunha vivia no bairro de Pedralbes, numa mansão que tinha sido propriedade de de Jordi Pujol.
Os últimos dias do antigo chefe de estado angolano, que ficou 38 anos no poder, ficaram marcados pela polémica com as filhas (entre elas a conhecida empresária Isabel dos Santos) a recorrerem a uma advogada espanhola para proibir que se desligasse as máquinas de suporte de vida do pai e a levantarem suspeitas sobre o seu verdadeiro estado de saúde. Uma das filhas de José Eduardo dos Santos apresentou queixa, nos Mossos d’esquadra, e exigiu investigação a “tentativa de homicídio” do pai. Para além disto, pediu uma autópsia ao corpo e a nova disputa entre a família e o governo é se o corpo irá ou não para a capital.
O patriarca da família dos Santos, que vive na Catalunha desde 2019 para se tratar de um cancro, nasceu em Luanda e foi presidente de 1979 a 2017. Em 1988 recebeu o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique. O Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) registou esta morte não só como uma grande perda para Angola, mas «para o mundo da Língua Portuguesa».
José Eduardo dos Santos deixou no seu lugar João Lourenço, também do MPLA. As vozes críticas queixam-se que a atual situação ainda é pior aquela que era vivida com o anterior governo, especialmente em relação a liberdade de imprensa já que o espaço dado ao partido do poder não é o mesmo da UNITA (oposição). Filho de uma família pobre, José Eduardo juntou-se ao MPLA em 1958 e foi obrigado a exilar-se tanto no Congo como na URSS.
Presidente de uma Angola independente
Já com Angola independente, foi ministro das Relações Exteriores até (cinco anos depois) chegar a cadeira presidencial após a morte de Agostinho Neto. Chegou a presidência com apenas 34 anos e nas quase quatro décadas seguintes governou com voz baixa e pulso forte. Para os críticos esta foi a chave para se perpetuar no poder. Para muitos, Angola não é uma democracia, mas sim uma plutocracia. Foi um marxista que levou Angola para o capitalismo.
José Eduardo dos Santos enfrentou, até 2002, uma guerra civil (que provocou 300 mil baixas) só terminou com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi. Já com a paz alcançada no país (exceção ao enclave de Cabinda, que pretende ser independente), houve um crescimento económico que levou a que ficassem com a terceira maior economia da África subsariana. Por ter acabado com os 27 anos de guerra que dividiram o país, José Eduardo dos Santos ficou conhecido como o “arquiteto da paz”.
Este desenvolvimento foi alcançado, em parte, devido ao petróleo ou diamantes que ajudaram a criar uma classe rica entre os generais e membros da família. A sua filha mais velha, Isabel dos Santos chegou a ser uma das mulheres mais ricas do continente africano. O MP angolano alerta que o dinheiro desviado equivale a totalidade do PIB de um ano. Bem próximos do presidente, costumavam vir a Portugal para realizarem festas de casamento ou para comprar pranchas para passar a ferro.
Durante os primeiros vinte anos do seculo XX houve uma reconstrução da zona litoral de Luanda e que contrasta com algumas das zonas mais pobres. Santos, que ficará para a história como um dos homens que fez Angola, foi visto por muitos como um ditador que falava pouco mas reprimia manifestações públicas. Jovens e jornalistas independentes associam a família a casos de corrupção. Luaty Beirão, ativista, foi um dos nomes que se levantou contra a situação política e social que o país vivia. Em Angola, cerca de 70% da população vive com menos de 2 dólares por dia.