As comemorações do 10 de Junho aconteceram, vinte e nove anos depois, na cidade algarvia de Lagos, fortemente ligada aos Descobrimentos. Esta foi a última comemoração do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas com Marcelo Rebelo de Sousa no cargo de presidente da República (um dos candidatos às eleições presidenciais, Marques Mendes, esteve presente na tribuna que juntou as principais figuras do Estado português).
O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo participou, em Lisboa, numa cerimónia do 10 de Junho de homenagem aos ex-combatentes. Em Lagos e numa conversa com os jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa disse que sairá do cargo preocupado com o atual estado do mundo. As cerimónias aconteceram na cosmopolita cidade de Lagos que tem vários emigrantes, não só do norte da Europa mas também do sul, como é o caso da Espanha e da Itália. Estes também saíram a rua para ver as celebrações oficiais do 10 de Junho.
Estas celebrações foram organizadas pela escritora e conselheira de Estado, Lídia Jorge (natural de Boliqueime). No seu discurso, Lídia Jorge alertou para os loucos no poder e a fúria revisionista que agora começa a se sentir com mais força. Condenou o racismo, a escravatura e a cultura da mediocridade. Lídia Jorge lembrou os 500 anos da morte de Camões, que morreu neste dia em Lisboa sem «uma sabana para se tapar», é lembrou que o nome maior da literatura lusófona viveu «um período de transição», tal como nós na atualidade. Camões, Cervantes e Shakespeare foram três escritores que viram as mudanças nos seus reinos e as eternizaram para a posterioridade. No caso de Camões, este está a ser lembrado em várias iniciativas, incluindo nas estações de metropolitano em Lisboa.
Tanto Lídia Jorge como o presidente da República lembraram que não existe «ninguém de sangue puro». O povo português é uma mistura de todos os povos que alguma vez passaram pelo território ibérico.
Da península ibérica para o mundo
O Bloco de Esquerda destacou esta «ideia de Portugalidade aberta». Também esteve presente André Ventura, que depois das últimas legislativas tornou-se o novo líder da oposição (o Chega foi o segundo partido mais votado), que avisou que o Chega derrubaria o Parlamento e o Governo de Luís Montenegro (que recentemente tomou posse para um novo mandato) caso se comece a «culpabilizar» a história e haja a devolução de bens às antigas colónias (como vários países já o fizeram).
No seu último discurso, Marcelo Rebelo de Sousa fez a sua homenagem aos militares (após este discurso houve um desfile militar) e a Ramalho Eanes. Nome ligado ao 25 de Novembro de 1975 e o primeiro presidente da República (e o mais jovem) depois da Revolução dos Cravos que foi condecorado com o grande-colar da Ordem de Avis (criado para o antigo mandatário). É o primeiro condecorado com a Ordem Militar de Avis e demonstrou estar emocionado com este reconhecimento. Eanes agradeceu esta condecoração e elogiou o discurso proferido por Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que é «necessário cuidar melhor da nossa gente». Especialmente dos mais pobres. Portugal está num novo ciclo da sua história que conta com mais de 900 anos. Também vincou que «somos portugueses porque somos universais».
Quando chegou ao Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa começou a dividir estas comemorações entre uma sociedade portuguesa e o estrangeiro, junto das comunidades que são celebradas neste dia. Ainda antes das eleições tinha sido anunciado que seria Macau (território que esteve nas mãos de Portugal até ao fim da década de 90) mas a final da Nations League, que terminou com a conquista da equipa das Quinas, foi o cenário improvisado que levou Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro até Monique para celebrar junto dos adeptos o 10 de Junho de forma antecipada. Esta data é celebrada em vários locais com vastas comunidades portuguesas ou em países lusófonos, como é o caso de Angola que terá Camané a levar a alma do fado até Luanda. Os Estados Unidos felicitaram hoje Portugal pela celebração do dia nacional português e destacaram que Lisboa, enquanto aliado e um dos fundadores da NATO.