Segundo a sondagem levada a cabo pela comissão responsável pelas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (e efetuada pelo Instituto de Ciências Sociais e pelo Instituto Universitário de Lisboa), esta data é considerada como a mais importante da vasta História contemporânea de Portugal. Mesmo com um país cada vez mais polarizado, o 25 de Abril continua a ser uma data plural para todos.
O 25 de Abril, que tal como há 50 anos calha a uma quinta-feira, é vista como uma data importante não só em Portugal como também fora de portas, como lembra uma das figuras do MFA, o capitão Vasco Lourenço, que tem dado inúmeras entrevistas a correspondentes de órgãos de comunicação internacionais que olham com muito interesse para esta «Revolução Sem Sangue» (o mais recente filme demonstra que não foi bem assim, já que morreram alguns jovens em frente de locais marcantes, como é o caso do Quartel do Carmo). 59% dos inquiridos defende que responsáveis do antigo regime deviam ter sido julgados pelos atos de repressão que cometeram não só contra a população portuguesa como dos antigos territórios ultramarinos.
Os dados do estudo «Os Portugueses e o 25 de Abril» foram apresentados na fundação Gulbenkian, em Lisboa. O 25 de Abril foi sempre muito bem visto nas na última década, esta data alcançou um índice de aprovação (o maior de sempre) de 74%.
A maioria dos inquiridos (57%) manifesta-se «muito» ou «razoavelmente satisfeita» com a forma como funciona a democracia em Portugal. Isto acontece num período em que a extrema-direita, através do Chega, tornasse na terceira maior força politica. Algo que nunca se tinha visto nos últimos 50 anos. Os apoiantes do Chega são aqueles que apontam como negativas as mudanças que o país viveu nos últimos 50 anos. Um terço dos portugueses prefere um líder forte sem ter que se preocupar com Parlamento e eleições. Apenas um em cada cinco inquiridos que participaram nesta sondagem consideram que o Estado Novo teve mais coisas positivas do que negativas.
Mesmo com defeitos, os portugueses não trocam a democracia por nada
Entre os inquiridos, 44% reportaram que Portugal é uma democracia com «muitos defeitos». Mas tão democrático como as restantes nações europeias. Para 75% dos inquiridos, a Revolução dos Cravos é mais importante que a Implantação da República ou a Restauração da Independência.
Todos falam sobre o 25 de Abril e a sua importância mas Ramalho Eanes, militar e o primeiro presidente eleito depois da Revolução, lamenta que não se dê a mesma importância ao 25 de Novembro, data que a partir deste ano também será celebrada. O 25 de Novembro levou ao fim do PREC, a Constituição e as primeiras eleições autárquicas livres. Estas efemérides fazem com que os cinquenta anos do 25 de Abril sejam festejados (ao lado da transição democrática em Espanha) até 2026.
O 25 de Abril e a entrada de Portugal no grupo Europeu (ao lado de Espanha) transformou o país, a nível económico, mas, mesmo assim, Lisboa continua no segundo escalão do plantão europeu. Para 84% dos inquiridos nesta sondagem, o país mudou bastante nos últimos 50 anos. Das 16 áreas analisadas, os inquiridos veem melhorias em oito: 74 por cento dizem que melhorou a assistência médica, enquanto 71 por cento acreditam que o nível de vida e a educação são hoje melhores. Um dos aspetos que podemos reforçar é a taxa de analfabetismo que antes de 1974 rondava os 30% e hoje está num valor bastante residual.
Até aos anos 90 esta data, e tudo o que aconteceu depois do dia 25 de Abril de 1974, não era dada nas escolas, ao contrário do que atualmente acontece e que levou a que os jovens sejam os que mais «santificam» a Revolução dos Cravos. Um dos grandes objetivos da Comissão responsável por estas comemorações é que esta data não seja apenas um facto histórico e que faça parte do conhecimento dos mais jovens que não viveram esta data. Quando questionados sobre os nomes mais marcantes desta data, aponta-se Oliveira Salazar (o ditador no período do golpe era Marcello Caetano), Salgueiro Maia ou Mário Soares. Quanto mais elevado é o nível de instrução, maior a propensão para se considerar que o regime anterior tinha mais de negativo do que de positivo.
Como nem todos os aspetos são positivos, os portugueses lamentam que nos últimos 50 anos a corrupção (o caso «Influencer» levou a eleições antecipadas) e a criminalidade tenha piorado. Os inquiridos também lamentam as desigualdades sociais existentes entre as várias regiões do país, especialmente entre o desenvolvido e povoado eixo atlântico e a mais pobre e despovoada Raia. Esta opinião é prestada por dois terços dos inquiridos.