ARCOlisboa: o mercado ibérico da arte contemporânea soma e segue

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A sexta edição da ARCOlisboa terminou este domingo. Foram milhares os que passaram pela capital portuguesa e quiseram ver de perto o melhor que a arte contemporânea pode oferecer. O propósito? Contemplar e dar visibilidade à arte contemporânea proveniente de contextos diferentes e, por vezes, pouco representados no panorama habitual.

Ao conversarmos com vários galeristas e artistas presentes no espaço da feira, parece ser esta a mais-valia consensual de um certame que, todos os anos, atrai cerca de 10 mil visitantes. E tem vindo a consolidar Lisboa como um importante centro mundial da difusão e comércio da arte contemporânea.

Este ano, uma vez mais, a Cordoaria Nacional foi o local escolhido pela IFEMA Madrid e pela Câmara Municipal de Lisboa, promotoras do evento, para albergar os expositores de 86 galerias em representação de 23 países. Um aumento expressivo, segundo a organização, de 23% face à edição anterior, e que agora se espera ter-se registado também em relação ao número de visitantes.

Tal como em anos anteriores, a ARCOlisboa assumiu nesta edição três secções distintas. O Programa Geral expôs o trabalho de artistas dos quatro cantos do mundo através de 55 galerias escolhidas pelo Comité organizador. Entre elas a Mayoral, de Barcelona e Paris, que veio pela primeira vez a Lisboa depois de participar já em várias edições da ARCOmadrid. “Viemos com vontade de conhecer pessoas e fazer clientes novos”, admitiu o galerista Eduard Mayoral.

Mais adiante, na secção Opening, mostrou-se a coleção das novas galerias de arte internacionais, selecionadas pela sua curta trajetória ou pela novidade que apresentam ao contexto artístico português. As curadoras Chus Martínez e Luiza Teixeira de Freitas foram as responsáveis pela seleção que contemplou galerias como a Bianca Boeckel ou a C. Galeria, do Brasil, ou ainda a General Expenses, do México.

A completar o programa principal esteve a secção África em Foco, virando o holofote para a arte contemporânea feita por artistas africanos. Das oito galerias selecionadas pela curadora angolana Paula Nascimento, parámos para conversar com Inês Valle, diretora artística da galeria Insofar, de Lisboa, que destacou o trabalho “alusivo à independência colonial” dos artistas que representa. Como é o caso do argentino Marcelo Brodsky, exilado em Espanha durante a ditadura de Videla, ou do angolano Edson Chagas, “o primeiro artista lusófono a receber o Leão de Ouro” na Bienal de Veneza.

“No fundo, estamos a celebrar esse grande prémio”, diz-nos, “bem como um conjunto de artistas que estão totalmente fora do nosso radar”. Tal como os nomes apresentados pela Arte de Gema, uma galeria de Maputo que deu a conhecer obras de artistas moçambicanos como Thandi Pinto, Gemuce e Ângela Ferreira. Com esta mostra, o objetivo é “promover a visibilidade e a internacionalização de Moçambique no panorama artístico”, salientou a gestora e curadora Élia Gemuce, que falou também da desigualdade na colaboração com artistas espanhóis. “De facto, [estes artistas] expõem nos vários centros culturais de Moçambique, mas o contrário raramente acontece”, explicou, enaltecendo a importância de “criar mais pontes” para mostrar a arte moçambicana.

Da pintura aos livros, “tudo é arte”

Paralelamente à feira de arte, houve também espaço para debates, apresentações de projetos artísticos e uma feira editorial, a ArtsLibris, com cerca de 30 expositores nacionais e internacionais dedicados a edições de artista, fotolivros, livros de pensamento contemporâneo, autoedições e publicações digitais. Com acesso gratuito ao público, foram muitos os que dedicaram, pelo menos, alguns minutos a contemplar e a adquirir exemplares dos mais variados temas e origens.

Entre um conjunto de editoras maioritariamente de Portugal e Espanha, mas também de outros países como México, Colômbia e Chile, encontrámos algumas propostas diversas entre si. Da 42 Líneas, de Oviedo, Pedro Velasco mostrou-nos “um projeto de autoedição feito pelos alunos da escola de arte” da cidade asturiana que tem percorrido várias feiras, embora com alguns entraves: “é difícil fazer boas edições sem a ajuda do Estado ou de outras entidades”.

Já Luís Moro, da Fontanar Ediciones, de Segóvia, revelou-nos um exemplo do cruzamento que se pode fazer entre “a poesia, a arte e a cultura” de vários países. No caso, a editora apresenta autores e artistas de Portugal, como Manuel Alegre e Cruzeiro Seixas, a par de uma série de outros autores espanhóis e latino-americanos, como Antonio Gamoneda e Elena Poniatowska. “Estas pontes são importantes, sobretudo quando vemos que a guerra e a política tentam dividir o mundo”, referiu também o artista.

Por fim, a revista Dose, nascida no Porto, também teve direito a um stand na feira para promover o seu trabalho e “conhecer outras publicações”. Margarida Oliveira, cofundadora da revista que se assume como uma “galeria em formato de publicação”, salientou que o mais importante é dar a conhecer aquilo que são: um projeto “de experimentação” que destaca uma “comunidade criativa jovem, independente e fora dos limites das publicações mais institucionais”.

Para Maribel López, diretora da ARCO, este trabalho de promoção é o que mais importa. “Queremos que o público que nos visita, nacional e internacional, conheça mais artistas através das suas galerias [e editoras], que lhes compre obras e convide para exposições”, resumiu. Mas assume também outros objetivos, como “tornar maior a conexão ibérica pela arte” e proporcionar ao mercado português uma maior ligação com o contexto internacional. “No fundo”, sublinhou, “só queremos que a ARCO seja sempre um êxito”.

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