Jorge Sampaio, o presidente humanista, morreu após estar internado nos cuidados intensivos desde 27 de Agosto devido a uma insuficiência respiratória. Aos 81 anos, o antigo chefe de Estado perdeu a vida poucos dias depois de ter anunciado o seu último ato público, como alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, o aumento das bolsas de estudo para refugiadas afegãs que chegassem ao país.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, recorreu às redes sociais para recordar o “papel crucial” que o antigo estadista teve ao longo das décadas de trabalho público. Já presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, descreveu este dia como “triste para Portugal e para a Europa”. Advogado de profissão, o percurso político de Jorge Branco de Sampaio iniciou-se com as greves estudantis de 1962, que o levaram uns dias a prisão de Caxias.
A atitude do “cenoura”, como o chamavam na escola, fez com que conhece-se Mário Soares e começa-se a defender opositores do Estado Novo. Um pouco depois da fundação do partido socialista, Jorge Sampaio e Ferro Rodrigues (presidente da Assembleia da República) juntaram-se aos pupilos de Mário Soares. Foi junto do advogado Jorge Sampaio que António Costa aprendeu não só o oficio mas também a linha política que coloca o homem e a nação em primeiro plano como no lema “Um por todos, todos por um”, associado aos Três Mosqueteiros.
Para marcar o desaparecimento físico de Sampaio haverá três dias de luto nacional. O trabalho contra o fascismo e em prol da democracia tem sido lembrado por todos os que evocam a memória do antigo chefe de Estado português, que ocupou a presidência da república de 1996 a 2006. Vários candidatos autárquicos anunciaram que iam suspender as campanhas nos próximos dias em homenagem. Todas as competições organizadas pela FPF, durante o fim-de-semana, terão um minuto de silêncio.
Sampaio, o homem da “bomba atómica” e dos consensos com as esquerdas
Como estadista, o socialista tinha uma forte presença britânica baseada no parlamentarismo e foi na casa da democracia portuguesa que lançou a “bomba atómica”. Esta ferramenta do presidente da república, que marcou a sua carreira política, fez com que a assembleia da república e o primeiro-ministro da altura, Pedro Santana Lopes (que havia entrado após a saída de Durão Barroso para Bruxelas) fosse retirado do cargo com pouco mais de 6 meses no governo.
Antes de chegar a Belém, Sampaio foi Secretário-Geral do PS e presidente da autarquia lisboeta. Com o destino da capital nas mãos conseguiu criar a geringonça inicial que arrebatou Lisboa a Marcelo Rebelo de Sousa. Esta capacidade de unir as esquerdas e criar consensos entre as esquerdas foi relembrada na mensagem de condolências que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, deixou. O atual presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu o socialista como «um lutador e a causa da sua luta foi a liberdade e igualdade».
Quando chegou a Belém, onde vai voltar para ser velado (no Museu dos Coches), Jorge Sampaio trabalhou de perto com António Guterres, com quem ajudou a fundar a CPLP. O atual Secretário-Geral da ONU relembra Sampaio como «um amigo querido e um companheiro de luta». Para Guterres, o país acabou de perder um dos seus melhores homens. Jorge Sampaio foi o terceiro presidente eleito após a revolução.
Sampaio, que ao lado da esposa percorreu o país em presidenciais abertas, ficou marcado na história de Barrancos já que foi quem conseguiu conciliar a legalidade com a tradição e foi graças aos seus esforços que tornou possível a realização das touradas com touros de morte (uma das duas únicas localidades que em Portugal assumiram esta modalidade).
Como presidente, a figura internacional de Jorge Sampaio foi escrita devido aos esforços feitos para conseguir que Timor-Leste alcança-se a sua independência. Depois de ter entregado Macau aos chineses, Sampaio marcou presença no primeiro dia de Timor como independente e recebeu em braços, de um dos guerrilheiros, uma bandeira portuguesa que tinha estado escondida na mata durante todo o período de ocupação. Também a nível internacional, Jorge Sampaio foi a voz de comando que travou a participação dos militares portugueses nas invasões do Afeganistão e do Iraque ao lado das forças aliadas, como aconteceu com Espanha.
O Rei de Espanha, Filipe VI, vai estar presente nas cerimónias fúnebres, que vão acontecer domingo e vão ter honras de Estado.