Núria Vilanova, presidente do Conselho Empresarial Aliança pela Ibero-américa (CEAPI), é licenciada em ciências da informação e é a responsável pela associação que agrupa as 190 maiores empresas. O Brasil, México, Chile, Peru e Espanha são alguns dos mercados ibero-americanos mais importantes para Portugal.
Para incentivar a participação dos empresários portugueses na CEAPI, reuniram-se com o presidente da república e realizaram eventos na residência da embaixadora Marta Betanzos Roig e no Porto. O percurso profissional de Núria Vilanova é caracterizado por um compromisso com o desenvolvimento do conhecimento e é uma das 10 CEOs mais influentes nas redes sociais em Espanha. Para a presidente da CEAPI, empresas fortes contribuem para o crescimento económico da região.
Como surgiu a CEAPI?
A CEAPI nasceu em 2017 graças ao entusiasmo de um grupo de empresários que consideraram ser importante estabelecer um espaço de encontro onde se pudesse estabelecer um espaço de encontro onde as relações empresariais na Ibero-américa fossem estabelecidas e onde os líderes empresariais de ambos os lados do Atlântico podem estabelecer contatos.
A figura de Enrique V. Iglesias, primeiro presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que atualmente desempenha o papel do nosso presidente de honra e que tem trabalhado para que os empresários ibero-americanos estabeleçam laços comerciais, investimentos e de amizade nos últimos anos, serviu de inspiração para que estes empresários criassem a CEAPI.
As empresas mudaram muito?
Os últimos anos para as empresas têm sido um desafio em muitos aspetos porque tiveram de se reinventar e aprender a sobreviver a estes tempos de incerteza. A transformação digital acelerou nos últimos dois anos e as empresas mantiveram os seus investimentos para implementar uma maior tecnologia nas empresas. Trataremos dessas duas questões no V Congresso do CEAPI. Outras questões a rever são as mudanças estruturais que as empresas têm desenvolvido nos últimos anos, como uma maior exigência de compromissos ESG, bem como a superação do impacto da Covid-19 e da nova ordem mundial. Esta tem gerado desafios e riscos mas também grandes oportunidades.
Por outro lado, as empresas de Espanha e Portugal continuam a apostar na internacionalização e neste sentido a América Latina representa uma grande oportunidade. Por isso, o nosso objetivo é unir empresários e incentivar encontros que permitam ampliar opções.
Que pretendem fazer para «conquistar» Portugal? Qual é o diagnóstico que faz das empresas portuguesas?
A nossa impressão é de que há interesse das autoridades e do setor privado português por uma maior internacionalização na América Latina.
As grandes, médias e pequenas empresas portuguesas estão presentes em setores estratégicos como as infra-estruturas, energia, finanças ou tecnologias de informação e comunicação na Ibero-américa.
Portugal e as suas empresas são de grande importância para o tecido empresarial e o país já deu o exemplo nos últimos anos apostando na internacionalização e na exportação. O espaço empresarial ibero-americano não pode ser compreendido sem as empresas portuguesas.
Como pode a CEAPI apoiar e fortalecer as empresas ibero-americanas?
A CEAPI tem como vocação contribuir para melhorar a Ibero-américa. Isto através da promoção de relações de confiança entre os empresários, valorizando o papel do empresário na sociedade para crescer e fortalecer o tecido empresarial ibero-americano e ajudar a gerar alianças empresariais. Para isso, realizamos encontros nos quais reflectimos sobre os desafios e oportunidades da região, fomentando o diálogo com lideranças políticas e institucionais.
Um exemplo disso é o Congresso ibero-americano CEAPI para presidentes de empresas e famílias empresariais. Celebramos a quinta edição deste congresso nos dias 1 e 2 de Junho na República Dominicana. Esta vai acontecer sob o título Inovação e Oportunidades em Tempos de Incerteza. Este evento é o encontro que reúne atualmente o maior número de empresários ibero-americanos, por isso é uma oportunidade de networking e que vai servir para analisar oportunidades de investimento para empresas da região. Gema Sacristán, diretora-geral de negócios do BID Invest; Ricardo Villela, CEO do Banco brasileiro Itaú ou Juan Luis Cebrián, presidente de honra do diario El País serão alguns dos oradores participantes no congresso.
De que forma a pandemia afetou o vosso trabalho e o crescimento das empresas vossas associadas?
É claro que as empresas foram impactadas nos últimos dois anos pela situação global que vivemos. O setor de turismo tem sido um dos mais afetados na América Latina e é claro que muitas empresas tiveram que ajustar seus orçamentos e investimentos.
No entanto, o setor de tecnologia e o farmacêutico apresentaram um crescimento nos últimos dois anos e tiveram uma bonança que lhes permitiu evoluir e internacionalizar-se.
Por isso, queríamos que o V Congresso CEAPI dê ideias aos empresários sobre como inovar e continuar descobrindo oportunidades neste momento de incerteza económica.
A união destas empresas e um mercado único (reunindo empresas que operam nos dois lados do Atlântico) pode fortalecer as relações económicas existentes?
A Comunidade ibero-americana abriga 648 milhões de pessoas e, se somarmos o PIB nominal de todos os países (22) desta aliança, o resultado (7,4 bilhões de dólares) só é superado pela China (14,72 bilhões), a UE (18,3 bilhões) e os Estados Unidos (20,93 bilhões). A região já é um mercado relevante nas questões económicas mas com uma maior integração, sinergia e trabalho conjunto pode melhorar notavelmente. Na Ibero-américa, o setor empresarial tem experimentado um crescimento notável nas últimas décadas. Tornou-se uma área muito atrativa para o investimento internacional. Uma terra de oportunidades.
O facto das relações de investimento entre os dois lados do Atlântico terem-se tornado cada vez mais bidireccionais nas últimas duas décadas contribui para reforçar esta aliança e permite olhar para o futuro com optimismo.
É possível fortalecer as relações económicas existentes?
Na CEAPI acreditamos que a aliança entre Espanha e Portugal pode tornar-se uma fonte muito poderosa de crescimento e a ponte definitiva entre a América Latina e a Europa. Não podemos avançar com este crescimento sem a colaboração público-privada entre os nossos países.
Qual é a força da comunidade empresarial ibero-americana?
Considero que a força está nos laços históricos, culturais, linguísticos e económicos que unem os países ibero-americanos. Nós, na CEAPI, queremos desempenhar um papel de grande importância num processo de integração e recuperação económica da ibero-americana. Uma recuperação que será sustentável, digital e inclusiva.
O espaço ibero-americano é atrativo para novos investimentos?
Claro. Empresas como a EDP, Fidelidade,Mota-Engil, Gerónimo Martins, REN, Sugrape ou Sodecia são empresas que já têm projetos na América Latina. Do outro lado tempos empresas como a Embraer, HORTIFUT ou o Grupo Bimbo que têm projetos em Portugal. A relação de investimento tornou-se mais bidireccional nos últimos anos entre a Península Ibérica e a América Latina. E há interesse empresarial em investir. É algo que gera benéficos para os países e cria um maior dinamismo económico, emprego e investimento.
O que podemos esperar do congresso na República Dominicana?
O Congresso ibero-americano da CEAPI busca promover a transformação social e valorizar a figura do empresário como agente de mudanças positivas. Neste 2022, realizaremos a quinta edição do congresso, nos dias 1 e 2 de Junho em Punta Cana (República Dominicana). Assim, os líderes empresariais e institucionais deslocam-se, pela primeira vez na história da CEAPI, a um palco latino-americano para celebrar o nosso congresso.
Teremos mesas de negócios focadas em diferentes temas de interesse como: energias renováveis, saúde, negócios familiares, investimentos ou impacto sustentável.