Quando olhamos para o México lembramo-nos de imediato de Frida Kahlo, dos mariachis e dos Maias mas, tal como em outras latitudes, os portugueses também estão presentes na sociedade mexicana há vários séculos. Por mais que desconhecemos, estes dois países latinos têm várias semelhanças.
Os primeiros portugueses que chegaram ao México fizeram-no período em que este vasto território era uma colónia espanhola e a união das coroas ibéricas era uma realidade. Estes homens, e também algumas mulheres, iam nas caravelas que ligavam a Europa ao «Novo Mundo» e eram marinheiros, conquistadores e religiosos.
Com o fim da união das coroas também surgiram os piratas portugueses que, ao melhor estilo do filme «Piratas das Caraíbas», atacavam as embarcações de pavilhão espanhol que traziam ouro. O primeiro português a colocar um «pé» na Nova Espanha foi Sebastião Rodrigues de Oliveira, companheiro do conquistador Hernán Cortês. Também ao lado de Cortês, o explorador português João Rodrigues Cabrilho participou na conquista da capital azteca de Tenochtitlan e ajudou a fundar a cidade de Oaxaca, capital de um dos 31 estados mexicanos.
Com a comunidade portuguesa dividida entre a Cidade do México, Puebla de Zaragoza, Saltillo, Tijuana, Ensenada e Querataro, é na cidade de Monterrey que as raízes portuguesas estão mais fundas. Antes de Monterrey nascer com este nome, o capitão Alberto del Canto (nascida na ilha Terceira, nos Açores) descobriu o vale da Extremadura (onde hoje está o estado de Nueva León) e estabeleceu um lugar de nome «Villa de Santa Lucia», onde actualmente está a cidade nortenha.
A 31 de Maio de 1579, Lucio de Carvajal y de la Cueva, português de uma família de cristãos-novos (os judeus sefarditas tinham ido para esta zona do globo para fugir das perseguições que sofriam na Europa) que se encontrava na Nova Espanha desde 1567, negociou com Felipe II uma capitulação para pacificar este vasto território do nordeste do México. Actualmente, Monterrey é uma das cidades mais desenvolvidas do país e lá o futebol também é um dos desportos que mais multidões mexe.
Por um dos dois clubes, o Club de Fútbol Monterrey, passou a estrela de futebol portuguesa Eusébio, isto na década de 70. O conhecimento de Portugal no México deve-se muito ao desporto, é que para além do «pantera negra», Figo, Mourinho e Cristiano Ronaldo são representantes do «ser português». Grandes embaixadores também são os grandes descobridores portugueses, os romances de Saramago e o vinho do Porto.
Os portugueses no México (este é o segundo país da América latina que mais cidadãos lusos recebe, especialmente para fazer turismo) estão bem integrados na comunidade, onde são políticos, actores e arquitectos. A comunidade empresarial são produtores de licor em Atotonilco el Alto, Jalisco; produzem garrafas e rótulos para vender tequila e vendem carvalho branco para fabricar barris que servem para introduzir o vinho português, especialmente no oeste. As relações comerciais entre europeus e a América latina são bastante antigas mas ganharam uma nova força em 1985 com a entrada de Portugal e Espanha no grupo europeu. Uma das grandes exportações portuguesas para o México são as tecnologias da informação, moldes para a indústria automóvel e infra-estruturas para a construção civil.
Tal como os espanhóis, os portugueses tiveram vários filhos na Nova Espanha e não tiveram grandes dificuldades de adaptação mas durante a guerra de independência muitos foram mortos, confundidos com os seus vizinhos ibéricos. Já outros foram expulsos, enviados de volta para a Península Ibérica, Estado Unidos ou o Canadá. Já com o México independente, os descendentes de portugueses que ficaram perderam (na sua maioria) os laços que mantinham com o Velho Mundo.
A ligação dos portugueses no México com a terra pátria é feita, especialmente, através de actividades feitas tanto pela Embaixada de Portugal, associações de portugueses (como é o caso da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Mexicana) e alguns governos regionais. Uma das tradições mais procuradas é a das pegas de touros. Esta acontece em Tequixquiac, onde jovens aspirantes a forcados demonstram a sua valentia perante os familiares. Os livros (como é o caso da Feira de Guadalajara) e a cultura são duas «armas» para aproximar Portugal e o México.
Andreia Rodrigues