Mais de 9 milhões de portugueses foram chamados às urnas para as eleições autárquicas onde escolheram os próximos presidentes de Câmara (308 municípios) e de Junta (3091 freguesias) para os próximos 4 anos. Esta chamada às urnas, segundo o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, representa a importância que a política de proximidade teve durante os principais momentos da pandemia e vai ter nesta nova fase.
Estas eleições, ao contrário das presidenciais, aconteceram num espírito menos restritivo mas as máscaras e o álcool gel continuaram presentes nas mesas de voto. Num dia outonal quente, vinte partidos e sessenta movimentos cívicos apresentaram-se perante o escrutínio público. Cento e oito mil cidadãos participaram nas listas desta votação que foi descrita por António Costa como a «grande festa da democracia». Mesmo com menos eleitores inscritos nunca houve tantos partidos na corrida autárquica.
A abstenção foi de 46,33% (votaram 4.949.340), ficando abaixo da participação registada em 2017. Todos os líderes políticos falaram sobre os perigos da abstenção. A noite foi longa tanto para vencedores como para perdedores. Se o PS ficou algo abalado, o PSD ganhou um novo fôlego. Nas duas maiores cidades do país, Porto e Lisboa, os desfechos foram distintos. Na cidade invicta, Rui Moreira conseguiu uma vitória com uma margem confortável e assim avança para um terceiro mandato.
Na capital, a maior autarquia portuguesa, o candidato do PSD, Carlos Moedas, conseguiu a vitória contra todas as sondagens que davam a renovação do mandato de Fernando Medina. Moedas, que durante a campanha contou com o apoio de Isabel Ayuso, em Lisboa terá que governar sem o apoio da assembleia municipal, que ficou com uma maioria de esquerda. Carlos Moedas, antigo comissário europeu, defende que esta foi uma vitória contra tudo e contra todos. Já Medina, no discurso de derrota, admitiu uma «derrota pessoal e intransmissível», retirando parte da culpa que muitos comentadores deram não só ao partido mas em especial a António Costa, que esteve muito presente na campanha.
Mapa autárquico continua nas mãos do partido socialista
Nas Eurocidades, o desenho autárquico ficou dividido entre o PS e o PSD mas em Elvas uma independente ganhou estas eleições. No geral, o mapa português ficou pintado na maioria de vermelho, já que mesmo tendo perdido a «jóia da coroa» o Partido Socialista alcançou 147 das 308 autarquias portuguesas. Sete câmaras, que desde a revolução sempre foram fiéis a um partido, trocaram de cor. A maioria passou das mãos da CDU (que é a junção do Partido Comunista com os Verdes) para o PS.
Pela terceira vez os socialistas ganham estas eleições. Os movimentos de cidadãos independentes ficaram em quarto lugar, atrás do PSD e da CDU, conquistando 18 municípios. O Chega, um dos novos partidos que se apresentou a votos, não conseguiu alcançar nenhuma câmara (apenas vereadores) mas junto do Vox subscreveram a «Carta de Madrid».
Em Portugal, a primeira mulher a votar, no longínquo ano de 1911, foi a médica Beatriz Ângelo. As mulheres ganharam 9% das câmaras, as mais importantes foram Almada e Amadora, menos do que em 2017. Todos os estrangeiros que estejam inscritos no recenseamento territorial puderam votar nestas autárquicas que decorreram sem grandes problemas. Erros nos boletins de voto em duas Juntas de Freguesia adiaram a decisão para daqui a quinze dias.