Pilar de Bourbon, quando a aristocracia foi posta ao serviço do povo de Portugal

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Se há algo habitual na diplomacia é a entrega de medalhas a representantes estrangeiros pelo simples fato de terem sido eleitos ou nascido numa família real. Os mais recentes medalhados pelo Palácio das Necessidades, a casa da diplomacia portuguesa, foram Zelensky ou Janja Lula da Silva. O Palácio das Necessidades, ainda nas «mãos» de Gomes Cravinho (depois logo se vê), é um dos palácios de Lisboa que visto de fora pode não chamar muito a atenção (como é o caso do de Palhava) mas o seu interior carregado de história faz lembrar a altura que Portugal era um reino. Aliás, é uma história bastante interessante de um descendente de D. Carlos que vive no meio da selva africana.

A nível nacional já tivemos um costureiro a ser condecorado por fazer fatos para a antiga primeira -dama, Maria Cavaco Silva. Devido a isto, muitos não olham para estas distinções como uma forma de promover os melhores mas apenas uma forma de boa educação. Tu dás uma medalha ao meu chefe de estado e eu dou outra ao teu.

Quando falamos de famílias reais, algo que dificilmente (para não falar nunca) vai voltar a Portugal, os Bourbons devem ter todas as condecorações que a República Portuguesa oferece. Isto acontece não só pela proximidade geográfica ou ligações familiares (foram tantos os casamentos reais que se torna difícil destacar apenas uma figura da realeza de um país que se tornou conhecida no outro) mas a presença da família no Estoril também fez com que Portugal ganhasse um lugar especial no coração de Juan Carlos e dos seus irmãos. Todos falamos do rei emérito e dos gelados da Santini que comia quando era criança no Estoril mas poucos são os portugueses que conhecem a figura da Infanta Pilar, a filha mais velha que trabalhou como enfermeira graças a uma cunha da antiga rainha portuguesa, a francesa de nascimento D. Amélia. A rainha portuguesa que enfrentou os assassinos do marido e do filho mais velho com um simples ramo de flores.

Como a jornalista Pilar Eyre lembra num vídeo que publicou no seu canal de YouTube. A outra Pilar, que chegou a andar na escola com uma antiga «patroa» minha, começou a sua carreira como enfermeira no hospital dos Capuchos, um dos mais conhecidos da cidade de Lisboa. Atualmente pode já não estar na linha da frente mas é um hospital com muita história. Algo que é comum em qualquer recanto da cidade das «sete colinas».

Quem já nasceu depois do «verão quente» está habituado a viver num país que é gabadp pela sua tranquilidade mas a verdade é que nem sempre foi assim. Há muita coisa que os livros de história não nos ensinaram. As FP-25 foram o nosso grupo terrorista caseiro que levava a que as crianças usassem as suas bicicletas para fugir sempre que os viam chegar. Antes do grupo do Otelo, em 1963 (já havia Guerra no Ultramar) houve um atentado a bomba na estação do Cais do Sodré. um soalheiro dia de praia era interrompido de uma forma brutal. Este ataque, tal como o grande incêndio do Chiado, são dois dos momentos pouco relembrados da nossa história recente. Esta tem tantos momentos interessantes que a RTP teria matéria -prima para fazer séries de cariz histórico durante várias décadas.

O ataque na estação de comboios trouxe para a ribalta uma jovem enfermeira que estava toda suja de sangue e acabou a fazer capas nos jornais espanhóis. Só que aquela enfermeira era na realidade a Infanta Pilar que foi agraciada pelo então ditador português Oliveira Salazar pelo trabalho que teve naquele dia. Esta não foi a única que a realeza trabalhou a prol do povo, algo que não costuma ser muito habitual. Pensamento republicano mas poderíamos dizer o mesmo sobre os políticos que escolhemos nas urnas. Tal como diria Mário Soares, «só perde aquele que desiste da luta». Voltando a história de D. Pilar…

Uns anos depois, existiram umas grandes inundações. Uma zona que foi sempre muito complicada para estas situações era a Lezíria, local onde o Tejo começa a chegar a Lisboa. Esta zona já não inunda como antes. Aliás, com a seca que enfrentamos agora é mesmo uma visão do passado. Esta inundação fez com que muitos perdessem as suas casas e para ajudar a Infanta pediu voluntários e angariou dinheiro em Madrid. Ao e tregar o dinheiro ao presidente português da altura, a Infanta esqueceu-se do dinheiro em casa e para as fotos o que foi entregue foi um envelope com recortes de jornal. Mais tarde esse dinheiro foi entregue mas no ato feito para os jornalistas, a família afirmou que aquela era uma pequena paga por tudo o que Portugal lhes deu por os ter recebido num período em que os Bourbon estavam exilados. Várias famílias reais escolheram o Estoril como local de refúgio durante o período da II Guerra Mundial. Foi em Portugal que muitos encontraram paz, como foi o caso do empresário André Jordan, nascido polaco e que fugiu para o Brasil e depois Portugal dos horrores do nazismo.

Este pequeno artigo de opinião sobre o trabalho em Portugal da Infanta Pilar de Espanha serve para destacar a forma como cada um de nós pode e deve dar a sua contribuição, por mais pequena que seja, para que os nossos países envolvam. Quer seja o nosso país de nascimento ou aquele que nos recebeu, como foi no caso da Infanta ou do empresário que ajudou a criar a Quinta do Lago. Já sabem, trabalhem mas não se esqueçam de ser felizes!

Andreia Rodrigues

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