Que futuro para os socialistas ibéricos

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Quando falamos do socialismo na Europa, este tem estado a passar por um mau bocado, como se pode ver em França ou na Suécia. Em relação ao território ibérico, este local tem funcionado como um farol para os partidos de esquerda. Pelo menos até agora. Parece que o nosso farol começa a perder a sua luz. Os socialistas estão sobre desgaste e pressão, claramente.

Se tivesse que apostar, diria que Portugal seria o primeiro a voltar às urnas. Mesmo com maioria absoluta, o governo de Costa tem passado por casos e casinhos onde apenas três dos ministros é que (ainda) não foram associados a nenhum escândalo. Mesmo assim, o leme socialista de Costa tem-se aguentado. Agora veremos se até ao fim do mandato ou Marcelo Rebelo de Sousa, qual Tritão vai fazer as ondas moverem-se de tal forma para assim naufragar este barco. O presidente português espera que as eleições em Espanha não alterem a presidência europeia.

As últimas eleições municipais e autonómicas, que fizeram com que Espanha voltasse a ficar pintada do azul do PP, levaram a queda do atual governo e a convocação de legislativas. Muitas são as causas que podem ser levantadas para o enfraquecimento dos governos de esquerda, mas vamos apontar para os escândalos (em Portugal tivemos o SIS a entrar na casa de um antigo membro do governo para apanhar um computador) e para o aumento do custo de vida que a pandemia, primeiro, e a guerra na Ucrânia nos trouxe.

Mesmo com o IVA a zero em alguns produtos, a maior parte das famílias não sentem uma melhoria nas suas carteiras. A economia espanhola cresceu 0,5% no primeiro trimestre deste ano mas a inflação continua a pressionar. O mesmo acontece em Portugal. Estas duas economias estão muito integradas e mesmo com uma mudança de governo não alteraria as relações.

O presidente do PP é um assumido amigo de Portugal. Mesmo com um sentimento negativo a envolver estas eleições antecipadas em Espanha, a Bolsa de Valores de Lisboa abriu em alta. A evolução dos salários continua a ser (como sempre) muito mais positiva do que temos em Portugal. Mesmo assim, os investidores internacionais estão mais confiantes com o desempenho da economia portuguesa do que com a espanhola.

Estas eleições vão acontecer em plena presidência espanhola do grupo europeu. Será que este será o último ato de Pedro Sánchez ou ele, qual fénix renascida, vai conseguir ganhar mais um pleito? Será esta a vez de Feijóo chegar a Moncloa e que papel Abascal vai desempenhar no futuro próximo de Espanha? A extrema-direita ganha cada vez mais força e em ambos os lados da fronteira podemos afirmar que tanto o VOX como o Chega são as terceiras forças políticas.

Nos dois lados da fronteira é possível sentir no ar um sentimento de fim, de mudança de ciclo. Agora resta saber se as urnas vão mesmo ditar uma mudança. Se não houver maioria, estes dois partidos podem ser mesmo chamados a formar governo ou pelo menos apoiarem nas Cortes. Já pensou como seria viver num país com um destes partidos próximos do poder? Acha que ficaríamos mais próximos do Brasil de Bolsonaro ou da América de Trump?

As sondagens têm mostrado que será difícil o PSD governar sem apoio. Esta possibilidade não passa despercebida ao Presidente da República, que já mencionou a alternativa política (ou a falta dela) como uma das “desculpas” para não voltar a dissolver a Assembleia da República. Nos Açores, o PSD chegou a governar com o apoio da Iniciativa Liberal e do partido de André Ventura.

Quem já comentou a derrota do PSOE foi o líder do CDS (fora do parlamento português) que pede um caminho semelhante para Costa. As eleições em Espanha estão marcadas para 23 de julho, cerca de cinco meses antes que o previsto. No caso português, é quase impossível marcar eleições em tão curto espaço de tempo. Com uma diáspora tão grande, como é o caso da portuguesa, é necessário tempo para preparar tudo para que os emigrantes possam votar.

Deste lado da fronteira, o que Portugal (em especial António Costa) pode perder ou ganhar com estas eleições? Os dois países ibéricos têm regimes políticos diferentes, o que acaba por influenciar o desenrolar da política e permite assim resultados desiguais. O primeiro-ministro acaba por ter mais poder do que o seu congénere espanhol e há politólogos a afirmar que a “queda” de Pedro Sánchez pode levar a ascensão de António Costa como líder dos socialistas europeus.

Muitos podem afirmar que com a confusão que também existe em terras lusas, um salto internacional será impossível. Não é bem assim. Se olharmos para nomes do passado, como é o caso de Durão Barroso ou António Guterres, estes alcançaram um grande destaque internacional depois de terem sido primeiros-ministros. O socialista chegou a deixar o país num “pântano”, como os jornais apelidaram a situação no final da década de 90. Guterres também tinha perdido umas autárquicas e foi ele a dissolver o governo e a chamar novas eleições.

O que acha que as eleições em Espanha vão trazer?

 

Andreia Rodrigues

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