Que mundo vamos deixar para as gerações futuras

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, escreveu uma carta, para ser lida em 2100, para que a sua futura trineta possa ler. Esta tem sido uma das bandeiras hasteadas pelo português que no verão passado voltou a casa para discursar na Altice Arena, local que ele próprio mandou construir (aspeto interessante, António Costa na altura já fazia parte do seu governo. A política portuguesa é mesmo pequena!) e avisou se nada for feito poderemos ter mais plástico no mar do que peixes. Parece impossível, mas cada vez mais vemos ilhas de plástico em vários locais do mundo. O líder das Nações Unidas foi uma das personalidades homenageadas no Time Earth Awards 2023.

Quando era estudante de jornalismo e estava a fazer uma reportagem sobre os pescadores de Sesimbra disse que os nossos peixes jamais “secariam”, tal como a água do mar, mas parece que a naif Andreia estava enganada. O mesmo podemos dizer dos rios e já não é só o Tejo (ou Tajo) que preocupam. Em Espanha, defende-se que a Andaluzia deve ser tornada na Silicon valley europeia.

Nasci perto do Tejo e fui criada não muito longe do Sado. Este é um dos poucos rios totalmente portugueses. Só que o Sado, que nasce a sul e desagua a norte, também está a secar e em alguns lugares já não há água suficiente para dar aos animais. A Ovibeja, uma das maiores feiras de agropecuária do país, está a acontecer sob este signo e sem a presença do governo (que está a viver uma autêntica “tourada” com computadores roubados e a presença dos serviços secretos portugueses em todo este caso rocambolesco).

O programa europeu Copernicus, que no dia mais bonito para os portugueses (o 25 de abril) não deixou passar ao lado esta data, alerta que “Estamos a entrar num território desconhecido”. Esta carta de Guterres, que já foi apresentada na revista Time, é um desabafo onde o português pede desculpa por tudo aquilo que estamos a fazer em 2023, especialmente no que toca ao ambiente.

Este é um tema cada vez mais preocupante não só para os jovens que ocupam instituições de ensino ou interrompem cerimónias (como aconteceu nos 50 anos do PS) mas também para uma geração grisalha que teme qual será a terra que vão deixar às futuras gerações. Vemos cada vez mais protestos, sejam pelo ambiente ou por melhores condições de trabalho. Esperemos que a revolta popular traga mudanças profundas e não sejam apenas gritos sem ecos.

Que futuro teremos? Durante a pandemia, momento em que todos estávamos trancados em casa, mas começávamos a olhar para o futuro com esperança acreditávamos que iríamos viver os novos “Loucos Anos 20”. A verdade é que os últimos dois anos tem sido desafiantes com guerras, inflação e alterações climáticas. Este último tópico parece um desastre impossível de prevenir.

O objetivo da Europa é ser um continente verde até 2050. Só que nem todos os países do mundo estão a apresentar preocupações ambientais e compreende-se. Em locais com mais problemas, especialmente económicos, olha-se primeiro para o progresso e só depois para a qualidade de vida das suas populações. Na assinatura do protocolo entre o governo português e a Repsol, que pretende iniciar o maior processo de reflorestação em território luso no último século (o mesmo está a ser feito no outro lado da fronteira), António Costa disse algo com o que concordo. Nenhum desenvolvimento existe se não combinarmos o bem-estar económico com a qualidade de vida das pessoas e um meio ambiente saudável.

Já pensaram como será as nossas vidas, os nossos países e o nosso mundo daqui a poucas décadas? Como vamos olhar para o ano de 2023 e para as decisões que tomamos diariamente? O que os nossos políticos estão a fazer ou podem fazer para reverter esta situação? Quando olhamos a nossa volta, vemos que poucos falam e quase nenhuma faz algo para reverter esta situação. Muitos atentados ecológicos são feitos mesmo por debaixo dos nossos olhos. Mesmo onde vivo, num dos parques naturais mais bonitos de Portugal (a serra da Arrábida), descobrimos que por debaixo dos nossos pés, numa antiga lixeira desativada, estão enterradas várias toneladas de materiais perigosos.

Mesmo já não estando em atividade há 5 anos, estes resíduos continuam a arder debaixo da terra e é possível ver o fumo a sair e nos dias mais ventosos o cheiro é insuportável. O governo tem um plano para reverter (dentro do possível) esta situação, mas a verdade é que não sabemos quais são os resíduos que estão a contaminar a nossa terra e, muito provavelmente, a prejudicar a nossa saúde.

Quando andamos nos terrenos, vemos a terra a rachar, como se estivéssemos no deserto (um antigo ministro português chegou a dizer que a Margem Sul era um deserto e com este tempo cada vez caminhamos mais para parecermos o Sahara). Esta seca, cada vez mais habitual, tem um grande impacto nos nossos agricultores e nas nossas bolsas pois os alimentos ficam cada vez mais caros e nem a redução do IVA (sentida por poucos) parece que salva os rendimentos dos portugueses. Se há algo que não compreendo é como numa terra tão rica em vinho e azeite, como estes podem ser tão caros?! As oliveiras estão carregadas mas a seca faz com que as azeitonas não maturem.

Um estudo indica que metade dos nossos rendimentos vai para a compra de alimentos e para pagar os transportes. Em Portugal temos um ditado que diz “abril, águas mil”. É verdade que já estamos em maio, mas no último mês o território ibérico bateu recordes de temperatura (36.7º Celsius em Mora) e Pedro Sanchéz alertou mesmo para a fragilidade que os dois territórios ibéricos enfrentam com um tempo cada vez mais seco. O que faz com que as cobras comecem a sair das suas “tocas” mais cedo do que é o costume.

Na última década, os fenómenos extremos são cada vez mais frequentes. Queixamo-nos que faz frio, queixamo-nos que faz calor. Nasci em maio, o mês em que os pássaros estão de volta e a Nossa Senhora de Fátima desceu a Cova de Iria, mas (acaso do destino) no dia dos meus anos chovia sempre. Será que este ano será o mesmo ou estamos a viver num mundo sem volta? Como diria o António Variações: “Só estamos bem onde não estamos”.

O sol e o tempo quente são bons, podem dizer, e o turismo agradece, mas a verdade é que os mais “velhos” tem toda a razão quando dizem que a chuva é boa e o tempo já não é o que era. Nem todas as mudanças são bem-vindas e claramente este é um desses casos. O idilismo das nossas paisagens guarda segredos que só agora começamos a descobrir.

 

Andreia Rodrigues

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