Quero agradecer à Península Ibérica

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Sou português. Não sei se posso dizer que o sou com orgulho, porque o orgulho é uma espada de dois gumes. O orgulho tende a ser usado como justificação para um nacionalismo agressivo, que glorifica a violência e o ódio, que enaltece o que é nosso e enxovalha o que é dos outros; que o nosso país é o maior e todos os outros não prestam. Prefiro pensar que uma pessoa pode legitimamente amar o seu país sem odiar outros. Prefiro pensar que o amor à pátria não tem de vir necessariamente acompanhado por um ódio contra outros países, outros povos, inimigos a quem apontar o dedo. Prefiro acreditar na harmonia, na concórdia e na reconciliação. Amo sem odiar. E talvez pareça estranho falar destas coisas sem um feriado ou ocasião especial, mas não me parece que isso seja necessário para alguém refletir sobre os seus sentimentos.

Sou português e, um dia, serei também espanhol. Não há, nem nunca houve, urgência em obter a dupla nacionalidade, mas é uma possibilidade e não há razões para não a ter. Não perco nada por isso. Aliás, será uma forma de honrar Espanha por ser a minha segunda casa, o país irmão que me deu um bom emprego, uma nova vida e uma oportunidade para participar no conhecimento mútuo dos nossos povos. Jamais esquecerei, porém, as minhas raízes. Sou português, e sou especialmente feliz por ser alentejano. Isso não quer dizer que não haja espaço no meu coração para as outras partes de Portugal. Sinto tanta alegria ao falar do Norte, das Beiras, da Estremadura (a Portuguesa, claro) do Algarve, da Madeira e dos Açores como do meu Alentejo. E isso também não quer dizer que eu não possa amar também a minha nova casa, Espanha.

Os nossos países não são perfeitos, mas são modernos, são desenvolvidos, e são seguros. Não estamos à altura da França, da Alemanha e do Reino Unido? Claro, mas querem comparar-nos com países onde nem sequer a vida humana tem valor? Com a Somália, com a África Central, com o Afeganistão, com a Síria, com o Sudão, com o Congo? Temos problemas, sim, mas também temos muito por que agradecer. Não quero tomar por garantido o que tenho na minha vida. Devo tudo o que tenho a Portugal e a Espanha. Não passo fome, como tantos outros no mundo. Não temo pela vida, como tantos outros no mundo. Não tenho de fugir, como tantos outros no mundo. Portanto, haja alguma gratidão. Haja alguma autoestima. Quero agradecer ao meu país natal por tudo o que sou e tudo o que aprendi, pelas experiências do meu crescimento, pela família e pelos amigos. Quero agradecer a Espanha pela minha nova casa, pela minha nova vida, pela descoberta de um povo irmão e amigo. Obrigado, Ibéria, por tudo o que tenho e sou. Tentarei sempre retribuir como puder.

E não, não sou da extrema-direita. Eles não são os únicos a terem o direito de amar o seu país. Aliás, o meu amor não é como o deles; não é exclusivo, não é impositivo, não é destrutivo. Se trago comigo a minha bandeira, não se preocupem: isso não significa que eu só amo o meu país e nenhum outro, e certamente não significa que o meu amor é sustentado pelo ódio.

Viva Portugal. Viva Espanha. Viva a Península Ibérica!

 

João Pedro Baltazar Lázaro

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