Situação na academia portuguesa provoca repercussões ibero-americanas

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As denúncias de assédio e violência sexual que tem ensombrado a Universidade de Coimbra tem continuado a ter repercussões. Estas são sentidas em Portugal e não só. Os dois investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra envolvidos são Boaventura de Sousa Santos e o antropólogo Bruno Sena Martins. As denunciantes também falam sobre uma mulher, tratada como a Sentinela que ajudava nas atitudes destes dois.

O CES vai, brevemente, a eleições antecipadas. Ambos negam estas acusações, mas foram afastados deste centro que apoia os investigadores das ciências sociais na mais importante universidade portuguesa. O jornal espanhol Público anunciou que ia suspender a coluna de opinião semanal que o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (um dos visados nas inúmeras denúncias feitas) enquanto esta situação não fosse apurada.

O português assinava no jornal digital a coluna «Espelhos estranhos». Esta era uma coluna com bastantes leitores, já que Boaventura é um dos mais importantes sociólogos no espaço ibero-americano. Boaventura também foi afastado do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, isto porque a instituição manifestou que tem “tolerância zero” em relação a este tipo de situações.

Será que ainda é possível desculpar este tipo de atos ou estamos numa sociedade cada vez mais “mimizenta”? (pessoalmente gosto bastante desta palavra que cada vez mais está no vocabulário do português do Brasil). Será que a obra vale mais que as atitudes que uma pessoa tem? E em relação a presunção de inocência, acham que os homens e as mulheres são avaliados sobre a mesma “bitola”? Devemos todos ser mais prudentes já que nenhum de nós está a salvo de qualquer tipo de acusação. Sejamos professores universitários ou o próprio Dalai Lama.

Para além das três denuncias apresentadas num livro (onde se fala em pinturas em muros), de uma deputada de Minas Gerais ter afirmado ser uma das mulheres vitimas de Boaventura de Sousa Santos e de uma investigadora chilena ter recusado compartilhar mesa com o sociólogo-estrela de Coimbra, a situação já fez com que mais de 100 personalidades fizessem um abaixo-assinado onde pedem a ministra que tutela esta pasta, ela própria membro da academia portuguesa, tenha mais cuidado com as inúmeras queixas (estas não são recentes) que surgem nas universidades portuguesas. Instituições que pedem melhores condições económicas, mas também sociais para continuarem o seu trabalho académico.

As acusadoras, um total de cinco, são de países diferentes. Muitos dos estudantes que sofrem deste tipo de situações acabam, como foi o caso da agora deputada brasileira, a voltarem atrás com as suas denúncias devido a importância que os professores tem não só na Universidade (neste caso uma das mais antigas da Europa, a de Coimbra) mas como em todo o espaço educacional ibero-americano.

As estudantes, as mulheres são habitualmente as principais visadas, mas não são as únicas, são pressionadas para fazerem favores sexuais em troca de uma nota mais alta. Uma mulher sozinha numa sala em qualquer universidade pode ser perigoso. Em todos os casos, é sempre bom estar alerta e atenta. Casos que continuam a ser tratados com condescendência, já que os alunos universitários se queixam que os canais de denúncia apresentados não são os apropriados.

Estes canais são muito lentos e muitas vezes não acontece nada com as pessoas que estão por detrás destes “crimes”. Fazem-se reuniões, mas os casos continuam a surgir e já fizeram manchete em vários órgãos de comunicação internacionais. Locais progressistas onde ainda existem muitos casos de machismo. Estas denúncias surgiram num período em que foi anunciada a abertura da primeira escola feminista no país.

Em 2022, Boaventura de Sousa Franco deu uma entrevista ao jornal uruguaio La Diaria onde afirmou que não conseguia «imaginar uma sociedade capitalista que não seja racista e sexista». Os estudantes, e os próprios professores, pedem que esta mentalidade seja alterada drasticamente pois não é engraçado apontar os outros por serem de outro país (muitos brasileiros já se queixaram de xenofobia), serem mulheres ou terem um tom de pele diferente.

O espírito marialva, que pode ser visto como lisboeta, tem cada vez menos espaço numa sociedade evoluída em pleno ano de 2023. Este não é apenas um problema geracional ou de ideologia política, mas global. Em todos os países do mundo precisamos de fazer muito mais para sermos mais inclusivos. O assédio não tem de ser apenas sexual e também pode ser psicológico.

As denúncias são necessárias, mas não se pode denunciar sem provas e os abusadores devem ser punidos tal como quem acuse pessoas erradamente. Mais abaixo no mapa, na Faculdade de Direito de Lisboa (onde Marcelo Rebelo de Sousa foi professor) tem também vários casos reportados sobre os quais se fala a vozes baixas, mas cada vez mais existem pessoas prontas a denunciar.

Um estudo efetuado há uns anos avança que em cada 10, 2 alunos foram vítimas de assédio ou presenciaram um caso destes. Os dois investigadores da Universidade de Coimbra são apenas uma pontinha de um vasto icebergue.

 

Andreia Rodrigues

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