Um mundo dentro do SNS de Portugal

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Não e de hoje que o Serviço Nacional de Saúde português, uma das grandes conquistas de Abril, está em perigo, como muitos dizem. Quando Costa chegou ao poder dizia que ia dar médicos de família a todos os portugueses e agora que ele vai embora temos que ir de madrugada fazer uma fila para conseguir uma consulta. O mesmo acontece com que precisam de fazer novos documentos.

Quem ficar com o governo de Portugal terá muito a fazer. Ainda faltam largos meses para as eleições (uma sondagem feita em Espanha aponta a possibilidade do Chega conseguir até 50 deputados) e antes delas será necessário escolher o próximo secretário do PS. Muitos apontam para Pedro Nuno Santos e que este possa voltar a reviver a Geringonça. O líder do PCP já tocou sobre este tema e adiantou que para tal acontecer o PS teria que mudar as suas políticas em vários temas, incluindo na saúde.

Parece que os portugueses passam a vida a fazer fila para qualquer coisa. Ficamos conhecidos a novel europeu, na altura da pandemia, por aguardarmos calma e ordeiramente para comprar leite e papel higiénico num supermercado onde o último dos itens faltava de uma forma que nunca percebi (acho que diarreia não é um dos sintomas da COVID).

Há muito coisa a apontar ao atual governo mas a verdade é que olhamos melhor para qualquer coisa quando estamos lá dentro. O SNS, tal como nos outros países, não é apenas português mas sim do mundo. O mesmo mundo que cabe em qualquer lugar, até num pequeno país europeu com pouco mais de 10 (ou serão 11?) milhões de habitantes.

Precisamos de mais e melhor saúde (especialmente na zona da fronteira) mas a que temos atualmente é um dos nossos maiores bens e como tal deve ser preservado. Em alguns países, como é o caso dos Estados unidos, é necessário uma pessoa ter um seguro de saúde para poder ter um tratamento digno. Saúde e educação para todos deveriam ser pilares básicos de qualquer democracia.

Devido a anteriores experiências minhas já tinha tido contato com hospitais mas nunca durante tanto tempo como agora. Lembro -me, ainda era uma miúda que tal como os gatos estava desperta de noite, de ouvir entoar nos corredores «Malaguena» (tema que posteriormente ouvi em filmes como «Kill Bill» ou na voz do cantor Luís Miguel) entoada por um médico espanhol. Aliás, naquele hospital lisboeta não faltavam médicos e enfermeiros do outro lado da fronteira. O mesmo não posso dizer desta minha recente experiência.

Também há muitos médicos e enfermeiros formados em Portugal que encontram melhores oportunidades de trabalho aqui mesmo ao lado ou um pouco mais longe lá em terras do rei Carlos. Um dos enfermeiros portugueses chegou mesmo a ser distinguido por ter tratado o antigo PM britânico. Em relação a Salamanca e às suas conhecidas universidades, muitos estudantes de medicina portugueses escolhem esta cidade para poderem estudar já que as notas de entrada em Portugal são muito grandes.

Agora em adulta voltei ao local onde nasci, perto do Tejo para uma estadia, muito repentina, de quase um mês. Durante aqueles longos dias percebi que o SNS é um mundo onde as vidas humanas são discutidas em corredores que parece que nunca mais acabam. Aquele hospital em específico, mesmo com falta de medicamentos (73% dos hospitais estão com este problema) e urgências em modo rotativo, tinha lá toda a gente. Independentemente da idade ou condição social. A Duquesa de York, Sarah Fergunson, admitiu que usou o NHS na sua mais recente operação que foi anunciada há uns meses num podcast que tinha.

Por aquele piso, mandado reconstruir pelo falecido comendador Rui Nabeiro (brevemente haverá uma série sobre a vida do homem que aproximou Campo Maior de Badajoz), vi enfermeiros e tarefeiros do leste da Europa e de Cabo Verde. Muitas destas pessoas arranjam um trabalho no hospital até conseguirem concluir os seus estudos ou optam por ficar ligados ao que estudaram mesmo não podendo ser médicos no país onde escolheram viver. Isto acontece muito com as pessoas que vieram da Ucrânia ou da Roménia no início deste século mas podemos juntar também a Venezuela ou o Brasil. As pessoas destes países têm algumas dificuldades em verem os seus diplomas serem reconhecidos pelo estado português.

Um país onde faltam médicos e os que existem são mal pagos. É por isto, que tal como os professores, fazem greve de uma forma sistemática. Passando para a vista dos doentes, nos quartos e enfermarias era possível encontrar não só portugueses da grande Lisboa mas também chineses residentes no país como cidadãos brasileiros de visita a família. No SNS cabem todos mas a pergunta a se fazer deveria ser até quando e de que forma? As pessoas merecem ser tratadas sem terem de recorrer ao conhecido factor C. Muto conhecido dos portugueses em todos os aspectos das nossas vidas. Antes de rebentar o escândalo que levou ao pedido de demissão de António Costa, o escândalo envolvia Marcelo Rebelo de Sousa e duas gêmeas luso-brasileiras que supostamente saltaram a lista de tratamento graças a ajuda do PR. O governo tinha prometido investigar tal caso. Tal como na história dos Távora com o rei D. José, os «conspiradores» é que acabaram salgados da história de Portugal.

Andreia Rodrigues

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