16/08/2025

Um sonho feito em escombros e um direito adiado no tempo

Comparte el artículo:

Um estudo recente avançou que os portugueses apontaram dois problemas ao país, a saúde e a habitação. Muito temos falado sobre os preços não permitirem que os jovens saiam da casa dos país e as manifestações sobre este tema são quase mensais. Portugal é um dos países europeus com as casas mas caras. É não é só culpa dos estrangeiros (como acontece em Barcelona). Somos belos países, não tanto para aqueles que aqui vivem os 12 meses do ano. Não só nos períodos de férias.

Nesta semana, e relacionado a este tema, tivemos a demolição de vários alojamentos ilegais que atiraram para a rua inúmeras famílias com crianças. A Amnistia Internacional avança que em Loures violou-se os direitos humanos. Já que, em teoria, todos temos direito a habitação. Como a Constituição lembra.

Um dos objetivos do 25 de Abril de 1974 era dar uma casa digna para todos. Agora já podemos ter casas-de-banho dentro das nossas casas mas nem todos temos casa. E isto não é sinal de ser pobre ou sem-abrigo. É o sinal de um azar dos novos tempos.

Quando começou a sua presidência, Marcelo Rebelo de Sousa queria acabar com as pessoas que dormem ao relento nas ruas de Lisboa mas a verdade é que ele já sai em Janeiro e o sonho não foi cumprido. Os vemos a dormir nas escadarias do teatro D. Maria II, perto do local onde a Infanta Sofia de Espanha vai começar a estudar, ou na estação do Oriente. Se não acreditam em mim, passem por esses lugares assim que o sol se põe no horizonte.

A autarquia de Loures, que está nas mãos do socialista Ricardo Leão, avançou com a demolição das barracas que compunham o bairro do Talude. Segundo os moradores, o aviso de demolição foi dado com pouco mais de três dias.

Este ato está a opor socialistas contra socialistas. Uma das deputadas do partido, Isabel Moreira (o seu pai foi um importante nome) acusa Leão de ser um socialista com alma de Chega. Como sempre, o partido de Ventura tinha que vir a conversa.

Estas demolições podiam passar algo de lado, na agenda mediática, se não estivéssemos em ano de eleições autárquicas. Este semana conhecemos vários candidatos, como Carlos Moedas e Alexandra Leitão (que vai convergir em si todos os partidos de esquerda, tirando o PCP) para Lisboa. Esta demolição de Ricardo Leão terá efeito nas urnas? Como em todos os países, as zonas mais pobres e menos populadas são esquecidas durante quatro anos mas nos poucos meses antes das eleições são visitados por todos os candidatos. Estes prometem um mundo e habitualmente cumprem pouco. A política é isto, infelizmente.

Para o Governo de Montenegro, é urgente o levantamento do número de casas precárias ilegais. Muito mudou em cinquenta anos e mesmo sendo cada vez mais raros, ainda existem bairros precários. Estes estão especialmente, a volta da Área Metropolitana de Lisboa. Mesmo nas portas da capital podemos encontrar pessoas que para terem Lisboa têm que fazer «puxadas» da rede pública. Estamos a falar de pessoas que trabalham, pelo menos uma boa parte, mas com o dinheiro que recebem não conseguem pagar o aluguer de uma casa. Problema sobre o qual já temos falado no EL TRAPEZIO.

A demolição foi interrompida por ordem judicial mas o autarca de Loures, através de um vídeo que publicou nas redes sociais, afirmou que vai continuar com as demolições. Os «filhos da Tuga pobre» são muitas vezes esquecidos. Fazem os trabalhos que não queremos mas a verdade é que não sabemos o que eles encontram quando o dia acaba. Já sei que as pessoas de direita que leiam estas linhas vão me apelidar de esquerdista mas nada tem com ideologia política. Eu concordo com as demolições mas defendo que se ofereça uma alternativa aos envolvidos. Sejam os de Loures ou de qualquer outra zona do país. E aí entra o arrendamento a preços mais baratos. Aqui em Sesimbra, onde estão a ser construídos mais apartamentos de renda acessível, os valores começam nos 20 euros mensais. Lisboa também tem este tipo de casas. Também há apoios para os mais jovens mas os jovens dos dois lados da fronteira dizem que os apoios que os seus governos dão não são suficientes.

Desde que isto aconteceu temos ouvido nos meios sobre os contratos cívicos, onde todos temos direitos e deveres. Um destes é pagar impostos ao estado central quando assumimos a maioridade e começamos a trabalhar. Quando acontece este tipo de situações vemos a solidariedade humana mas esta não é eterna. São necessárias soluções. A Câmara diz estar a apoiar 14 das 36 famílias que aqui viviam, e ainda vivem no meio dos escombros. Uma boa parte destas pessoas são provenientes ou descendentes de pessoas dos PALOP. Muitas destas pessoas vieram para Portugal para realizarem tratamentos médicos e por cá ficaram. Procurando uma vida melhor. Tal como muitos portugueses o fizeram (a segunda cidade com mais portugueses ou luso-descendentes no mundo é Paris) e continuam a fazer. Na atualidade e também no passado. Pessoalmente tenho familiares que vivem ou viveram em países tão diversos como Angola, Irlanda ou Espanha. A avó da minha mãe nasceu do outro lado da fronteira, filha de um casal que saiu do Alentejo profundo para ir trabalhar nas minas. As histórias que eu posso contar, podem contar muitos portugueses. Isto porque não existem portugueses completamente «puros», como lembrou Marcelo Rebelo de Sousa no último 10 de Junho. As urnas podem ter levado a uma viragem a direita, mas não muito.

Dezenas de voluntários e técnicos participaram na limpeza dos escombros daquele que em algum dia chegou a ser um bairro. O bairro ilegal do Talude, no concelho de Loures. No meio do entulho havia poucos pertences de famílias que viveram durante dias em tendas. Ao melhor estilo de catástrofe natural. Só que esta não contou com tantos apoios como aqueles que esperamos num sismo, por exemplo. Aos moradores do Talude Militar, a autarquia de Loures diz que deu a possibilidade de pagar uma primeira mensalidade de uma renda mas os moradores teriam que encontrar as suas futuras casas (segundo eles).

Andreia Rodrigues