Uma perspectiva portuguesa da eleição espanhola

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As eleições foram no outro lado da fronteira mas como com tudo o que acontece em Espanha, os portugueses também estiveram interessados. Não só a opinião pública como os próprios partidos políticos que podem (e devem) tirar algumas lições para o futuro. Pessoalmente acredito que esta foi uma data muito perigosa para se marcar eleições e não é só por causa das férias. Aqui em Portugal assim que o sol sai para a rua vamos para a praia e a ida ás urnas fica muitas vezes para 2º (ou 3º) lugar. Também temos a presidência espanhola do grupo europeu. Com estas duas tarefas nas mãos, Sánchez corre o risco de não fazer bem nenhuma.

Com as sondagens a apontarem a vitória do PP (com apoio do VOX), o PSD começou a ambicionar também chegar ao poder em Lisboa. Uma onda de direita a começar em Madrid e a acabar no ocidente peninsular. Como já vimos neste lado da fronteira, as sondagens podem ser enganadoras. O PSD era dado a frente do PS mas foi Costa que acabou por ganhar. Todos dávamos Feijóo e Abascal na Moncloa mas esta pode ficar com Sánchez e Díaz (mais uns quantos). As eleições serão complexas mas não impossíveis, como Portugal já demonstrou.

O PS já felicitou o PSOE e considera que Pedro Sánchez pode continuar como primeiro-ministro. «No pasarán! O voto é a arma do povo. E mais um vez: sondagens não são eleições», escreveu numa publicação na rede social Twitter o deputado socialista Eurico Brilhante Dias. Já Luís Montenegro defende que o vencedor das eleições é que deve formar governo. Isto é o que acontece numa democracia. Assim que saíram os primeiros resultados, no domingo à noite, o presidente do PSD saudou o líder do Partido Popular pela vitória. Luís Montenegro considera que sopraram ventos de mudança. Um ciclo de desenvolvimento que pode chegar a Portugal.

Agora que os votos já foram contados e o PP não conseguiu a almejada maioria absoluta (e difícil organização parlamentar), a candeia parece que se apagou. Muitos caminhos apresentam-se para os espanhóis. Será que veremos uma geringonça a espanhola (Sánchez poderá pedir algumas dicas ao seu amigo Costa) ou os fantasma da direita portuguesa vão voltar a pairar, só que desta vez os habitantes da sede do PP? Novas eleições podem ser marcadas dentro de uns meses, perto do Natal.

Vencer sem maioria absoluta pode ser muito perigoso para o PP. Feijóo está a pedir aos restantes partidos para que o deixem formar governo. Se nãao conseguir pode bem vir a partilhar com Pedro Passos Coelho um mesmo destino. Foi em 2015 que Passos Coelho ganhou as eleições mas num golpe parlamentar teve que sair de São Bento. O mesmo pode acontecer a Feijóo. Dois líderes de direita que ganharam as eleições mas podem não formar governo.

O quadro político espanhol tem algumas nuances diferentes do português por ter mais partidos, muitos deles de cariz autonómico. Aqui, para o bem e para o mal, temos um poder bem mais centralizado em Lisboa. O descalabro nas autonómicas levou a situação que vemos no outro lado da fronteira. O Chega estava a olhar para o seu “irmão” espanhol com tanta esperança que enviou André Ventura para a sede do VOX na noite eleitoral. Abascal foi para as eleições a frente da terceira maior força politica e que acabou em quarto. Esta queda do VOX já foi aplaudida pelo Bloco de Esquerda que espera que Portugal também se imponha uma derrota ao fascismo em Portugal. Que o poder dos cravos vermelhos continue a florir em toda a península.

Rui Tavares, deputado único na Assembleia da República pelo Livre, também usou as redes sociais para felicitar a plataforma Sumar “pela extraordinária campanha e pelo resultado nestas eleições”. Será que depois desta também podemos esperar uma queda do Chega? Se parece que temos uma queda da extrema-direita espanhola, o mesmo não podemos dizer em Portugal.

Voltando ás sondagens, tanto o Chega como o Bloco de Esquerda (que agora tem um nova líder) estão a crescer. O PSD aparece empatado com o PS em várias sondagens de intenção de voto mas ainda poucos olham para Montenegro (incluindo o próprio presidente) como um rosto de mudança. Algo que podemos retirar do que se passou é que os ibéricos não gostam de campanhas sujas.

O voto útil é a arma cada vez mais utilizada para afastar as lembranças de Franco e de Salazar. O que aconteceu nas eleições que deram a maioria absoluta a Costa, a voz da esquerda. Só que Costa tem deixado escapar esta maioria absoluta como areia por entre os dedos. O Iniciativa Liberal antes das eleições expressou a vontade de que Espanha se veja “livre do Costa de Espanha”. O Costa de Espanha e o Sánchez de Portugal. Dois líderes que são a cara das relações ibéricas nos últimos anos.

 

Andreia Rodrigues

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