A Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP terminou sem uma decisão sobre quem irá suceder na presidência à Guiné-Bissau, com os Estados-membros divididos em dois blocos, disseram à Lusa fontes da organização. Segundo as mesmas fontes, na discussão do ponto, que decorreu à porta fechada, a Guiné-Equatorial reclamou para si a presidência da CPLP entre 2027 e 2029, afirmando ser a sua vez. Do outro lado, o Brasil assumiu-se como candidato.
Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) apoiaram a pretensão da Guiné-Equatorial, enquanto Lisboa, Brasília e Díli mantiveram-se juntos na ideia de entregar ao Brasil a presidência pós-Guiné-Bissau. O impasse manteve-se durante horas – sem que os Estados-membros consensualizassem uma solução – com o ponto que esteve agendado para o Conselho Ministros, mas que não chegou sequer a ser discutido na sessão que os chefes das diplomacias dos Estados-membros realizaram na quinta-feira.
A decisão foi adiada para uma próxima reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), adiantaram fontes da organização à Lusa, mas nem isso foi comunicado no final dos trabalhos que se atrasaram mais de duas horas, com a conferência de imprensa final agendada a ser trocada por uma declaração breve, sem direito a perguntas e sem que este assunto fosse sequer mencionado.
A XV Cimeira da CPLP, decorreu em Bissau, deu início a presidência (de dois anos) desta organização por parte da Guiné-Bissau e do seu presidente, Umaro Sissoco Embalo. Esta presidência tem sido contestada ainda antes da Cimeira por dissidente que lembram o constante clima quente na política daquele país, que não tem uma Assembleia Nacional desde 2023.
Apesar de se ter reforçado a Lei de Estrangeiros, em Portugal, o ministro Paulo Rangel lembrou que a mobilidade dentro da CPLP é uma mobilidade para o Governo da AD. Antes da Cimeira em Bissau houve um encontro em Maputo com as assembleias dos diferentes países. Durante o encontro em Moçambique, o Centro de Análise Estratégica da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CAE-CPLP) defendeu atitudes firmes contra protestos pós-eleitorais, como aqueles que houveram depois da eleição de Daniel Chapo. Estes protestos tem prejudicado o desenvolvimento dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).
O presidente de São Tomé e Príncipe, um dos poucos chefes de Estado presentes na Cimeira de Bissau, saudou a atuação em conjunto que a CPLP tem tido em quase trinta anos desta organização. Marcelo Rebelo de Sousa não marcou presença na Cimeira de Bissau por discordar da Guiné Equatorial a liderar a CPLP.
A declaração de Bissau marca a passagem da presidência rotativa de São Tomé e Príncipe para a Guiné-Bissau. Uma vitória não só para o país mas também para o seu sempre contestado presidente. Angola, Portugal e Brasil foram representados pelos seus ministros dos Negócios Estrangeiros. O que levantou algum desagrado.
Uma Cimeira sem os presidentes de Portugal, Brasil e Angola
Esta Cimeira não teve o peso de outras pois não cobrou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, Lula da Silva e João Lourenço. Os presidentes dos três países com mais peso dentro da CPLP. O presidente de Timor-Leste, Ramos-Horta e o secretário-geral da CPLP, Zacarias Costa, foram condecorados na Guiné-Bissau. A CPLP quer reforçar a sua resposta na prevenção de conflitos (como aquele que temos no norte de Moçambique, em Cabo Delgado) e sauda as eleições regulares nos diferentes países (um total de 9). A diplomacia é essencial mas os representantes das diferentes delegações lembraram «a interdependência entre segurança e desenvolvimento».
A delegação portuguesa opôs-se à inclusão do direito dos palestinianos a comer (a subnutrição em Gaza está a atingir níveis históricos) em declaração da CPLP. Os partidos de esquerda em Portugal consideram a posição de Lisboa sobre o direito à alimentação dos palestinianos na cimeira da CPLP «injustificável», «inaceitável» ou «difícil».
Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, não quer que se retirem afirmações políticas da Declaração de Bissau. A presidência da Guiné-Bissau pretende colocar a segurança alimentar no foco da agenda mediática. Dentro do espaço da lusofonia, existem 28 milhões de pessoas subnutridas. Para Zacarias Costa, estes números são preocupantes. A CPLP tem aproximadamente 270 milhões pessoas nos nove países-membros.
A diplomata e antiga ministra angolana Maria de Fátima Jardim é a nova secretária-executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, foi anunciado após a Conferência de chefes de Estado e de Governo. Maria de Fátima Jardim sucede ao timorense Zacarias da Costa, que completou dois mandatos (desde 2021) no cargo.