A Filmoteca Espanhola prepara um ciclo de cinema sobre a cinematografia portuguesa

A projeção de “Francisca”, de Manoel de Oliveira, é a primeira etapa do projeto

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A excelente relação que existe entre a Filmoteca Espanhola e a Cinemateca portuguesa deu lugar a um projeto conjunto entre ambas instituições que vai permitir aos espanhóis conhecer melhor o cinema português. A projeção esta noite no Cinema Doré do filme “Francisca”, de Manoel de Oliveira, é o primeiro passo de esta nova colaboração cultural entre os dois países. “A ideia é organizar um ciclo amplo sobre a cinematografia portuguesa, sem necessidade de ter um enfoque histórico ou cronológico”, explica ao TRAPÉZIO Josetxo Cerdán, diretor da Filmoteca Espanhola. Também vão organizar algumas mesas redondas e encontros entre trabalhadores dos arquivos e cineastas de ambos países, além de uma presentação das publicações que edita a Cinemateca. Tal e como sublinha o responsável da Filmoteca Espanhola, “ambas instituições temos uma excelente relação em muitas matérias, não só na programação. Também os nossos arquivos e equipas de recuperação e restauração cooperam habitualmente. A relação é excelente”. Num primeiro momento estava previsto que a Cinemateca fosse convidada da Filmoteca ao longo de outubro, mês do archivo, mas “as circunstâncias atuais levou-nos a adiar o convite, que será na primavera do próximo ano”, adiante Cerdá.

À espera de conhecer mais detalhes da nova iniciativa, a projeção de “Francisca”, de Manoel de Oliveira, é “a etapa zero de um projeto inicialmente mais ambicioso”, confirma ao TRAPÉZIO Pedro Berhan da Costa, conselheiro da Cultura da Embaixada de Portugal em Espanha. Faz parte da programação da 18ª edição da Mostra da cultura portuguesa em Espanha e foi eleito este filme por dois motivos. Além de ser um trabalho do diretor de cinema mais internacional de Portugal, tem um valor simbólico por ser “um dos últimos filmes restaurados pela Cinemateca portuguesa”, indica o conselheiro, quem também lembra que “a restauração é uma das principais funções da cinemateca que evita perder trabalhos antigos”. É o quinto longa metragem de Oliveira, de 1981, e está baseada na obra de Fanny Owen (Agustina Bessa-Luís) onde conta a história de amor do escritor Camilo Castelo Branco por Fanny.

Gigante do cinema europeu do século XX

“Sempre é um prazer ter na programação a Manoel de Oliveira, é até uma obrigação, às vezes, voltar ao seu cinema. Sin dúvida, a sua figura emerge como um dos gigantes do cinema europeu do século XX”, explica ao TRAPÉZIO Carlos Reviriego, diretor de programação da Filmoteca Espanhola. Títulos como “Acto da Primavera”, “Os Canibais”, “Non, ou A Va Gloria de Mandar”, “Vale Abraão” ou “Francisca”, “são autênticos pilares do cinema de autor e uma das janelas mais belas e fiáveis para debruçar-se não só a história e a cultura portuguesa, senão também à condição humana, ao grande cinema”, acrescenta. Lembra que até no século XXI, mesmo já muito velho (foi o cineasta mais longevo da história) “fez filmes como se fosse um jovem cineasta, pela sua experiência e curiosidade, a adaptar a sua linguagem e a sua olhada ao cinema digital, tal e como se pode comprovar na magia que tirou do “Estranho caso de Angélica”, uma das suas grandes conquistas. A sua obra, onde sucedem os planos fixos como se fossem tableaux vivants, “sempre nos lembra o revela que o verdadeiro movimento do cinema é o tempo”.

Filmoteca Española já dedicou uma retrospectiva em 2008, com a projeção dos 31 filmes que até então tinha dirigido. Manoel de Oliveira esteve presente e manteve um colóquio com os espectadores do Cinema Doré. “Já passaram doze anos e pode ser o momento de recuperar de novo o seu cinema para que os espectadores mais jovens possam descobri-lo”, sublinha Reviriego.

A autoridade do seu trabalho e a sensibilidade da sua olhada são duas das características mais destacadas de Oliviera entre os espectadores mais exigentes. “Em Espanha não passou despercebido entre os grandes cineastas e teóricos. Víctor Erice y Pere Gimferrer sempre reivindicaram a transcendência e relevância do seu cinema mas, pela própria natureza, nunca chegou ao grande público e nem todos os filmes tiveram estreia comercial nas salas espanholas”, reconhece o diretor de programação. Não obstante, lembra que a arte e a cultura espanhola nunca foram alheias a don Manoel. “O estranho caso de Angelica” é uma coprodução hispano-lusa, com Luis Miñarro como produtor espanhol e com a espanhola Pilar López de Ayala de atriz principal, como também Marisa Paredes foi protagonista de “Espelho mágico”, uma década antes.

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