Quando falamos de Portugal, e ao contrário de Espanha, pensamos de uma língua com apenas uma língua onde a única coisa que muda são os sotaques e algumas palavras diferentes (afia e apara-lapiz significam o mesmo mas são diferentes se estiver no norte ou no sul) mas isso não é bem verdade. Esta aparência é dada, também, pela televisão que torna a forma de falar em Lisboa a principal do país (existem mesmo aulas para que os pivôs com sotaques mais carregados os percam).
Há não muitos anos chegou-se a ver açorianos a verem as suas entrevistas legendadas para que o resto dos portugueses os pudessem entender. Se a língua fosse apenas uma não seria necessário o fazer, pois não? Mas quantas línguas existem em Portugal?
Português: A língua de Camões, uma das mais faladas no mundo, tem uma base muito semelhante a do galego. Só que o português, que deu vários filhos ao mundo (podemos dizer que o português que se fala no Brasil é quase uma língua a parte), nem sempre foi falado em Portugal. Antes do uso do português, uma das maiores riquezas que temos, o reino lusitano usava o galego ou ao latim nos seus documentos oficiais.
Língua gestual portuguesa: Uma língua não precisa de ser falada para ser uma língua e a língua gestual portuguesa (que está escrita na Constituição) é o exemplo disso. Mesmo que a maioria de nós não a saiba falar (esta deveria ser ensinada nas escolas como o português e o inglês), sempre que abrimos a televisão vemos na parte inferior do ecrã a senhora da linguagem gestual. Só que ao contrário do nosso idioma latino, a língua gestual portuguesa assemelha-se mais a sueca do que brasileira ou a espanhola.
Mirandês: Também oficial, este idioma antigo nada mais é do que a variante falada em Portugal do asturo-leonês. O mirandês, que é falado na região de Miranda do Douro, é considerada uma língua culta e fidalga que tem sido preservada graças às fronteiras geográficas que travaram a ascensão do português. Os habitantes deste região podem ser quadrilingues: mirandês, português, castelhano e o galego.
Barranquenho: Falada em Barrancos, encostado na Andaluzia, o barranquenho foi registrado pela primeira vez pelo linguista Leite de Vasconcelos. Este idioma minoritário no território lusitano tem uma complexidade sociolinguística única na Europa. Podemos dizer que é uma mistura entre o espanhol e o português falado no Alentejo. Para ajudar a difundir a língua vai ser gravado um filme em barranquenho.
Minderico: Usada inicialmente para que os comerciantes pudessem falar de uma forma secreta, é falada na região do Minde desde o século XVIII. Várias actividades, como um glossário, a tradução das placas toponímicas ou a utilização do minderico pela comunicação social regional tem permitido que a língua dos fabricantes das mantas de Minde não caísse no esquecimento.
Calo português e Romani: Estas são duas línguas diferentes que em comum tem o facto de serem usadas pela comunidade cigana em Portugal. A primeira é falada por 5000 pessoas e é caracterizada por misturar palavras em romani ao português. O calo está associado ao calo espanhol, catalão e até brasileiro. Já o romani, que tem uma origem persa, é falado por 500 pessoas.
Crioulo: Esta é falada pelos portugueses de origem cabo-verdiana mas cada vez mais jovens (muitos sem qualquer tipo de ligação com África) começam a conhecer nem que seja simples expressões. O crioulo, tal como Dino Santiago canta na música «Nova Lisboa», é um dos exemplos de uma sociedade mista com ligações a vários continentes que «sofreram» influências da língua portuguesa mas também influenciam.