Capitães de Abril. Foi por este nome poético que ficou conhecido o MFA (Movimento das Forças Armadas), que pegou em armas e decidiu arriscar, de 24 para 25 de Abril de 1974, as suas carreiras e as suas vidas (isto porque ninguém tinha a certeza que este golpe daria certo) em “jogo” para libertarem o povo português do jugo de uma ditadura que tinha durado 48 anos e que tinha limitado, ao máximo, as liberdades e garantias de gerações inteiras que tinham sido obrigadas a ir para uma guerra em territórios longínquos e que muitos só conheciam por causa das aulas de geografia nas escolas onde eram obrigados a decorar rios e cadeias montanhosas em África.
Foi contra a guerra, o colonialismo e a opressão que os militares pegaram nas armas e depuseram o Estado Novo para dar origem a um estado democrático. Este golpe armado, iniciado pelos militares e abraçado em pleno pela sociedade civil, demonstrou que as Forças Armadas não são só um elemento opressor mas sim libertador dos povos, já que a revolução em Portugal levou a criação de inúmeros novos estados em África, que ficaram “ligados” a antiga metrópole pelo uso do português como a língua oficial.
Associação 25A e os seus protagonistas
Os Capitães de Abril e antigos combatentes no Ultramar juntaram-se na Associação 25A, que pretende dar a conhecer a história dos seus integrantes ao país e ao mundo. Um dos nomes mais conhecidos deste grupo de militares é o de Otelo Saraiva de Carvalho, o principal estratega do 25 de Abril. Depois da revolução, foi nomeado comandante da Região Militar de Lisboa, Comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente)e fez parte do grupo terrorista FP (Forças Populares) 25 de Abril.
O grupo associativo é liderado pelo Coronel Vasco Lourenço, que recentemente incentivou os militares brasileiros a fazerem o mesmo que os seus congéneres portugueses fizeram há mais de quatro décadas e deponham um presidente, Jair Bolsonaro, que está a olhar para a situação de pandemia vivida a nível mundial com algum desprezo.
Uma nova forma de celebrar Abril
Sempre presente nas comemorações do 25 de Abril, esta associação estará presente nas comemorações algo peculiares que vão acontecer este ano. A cerimónia oficial, que vai decorrer na Assembleia da República, e vai contar com pouco mais de 80 pessoas (entre deputados, convidados, jornalistas e funcionários parlamentares) será o ponto alto de um dia em que normalmente tinha na parte da tarde com uma marcha na Avenida da Liberdade. O Coronel, que cumpriu a sua comissão militar na Guiné-Bissau, defende que “o 25 de Abril merece ser comemorado”.
Esta marcha popular, que costuma ser dinamizada pela 25A, vai ser substituída por uma serenata a janela. Os Capitães de Abril e o PCP convidam todos os portugueses a irem até às janelas para cantarem “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso.