07/04/2025

25 de Novembro de 1975 e a história que ainda nos separa foi lembrada com rosas brancas e ausências

A data que foi lembrada na Assembleia da República marcou o fim do PREC (Processo Revolucionário em Curso) e a consolidação da democracia

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Pela primeira vez, e no ano dos cinquenta anos da Revolução dos Cravos, a Assembleia da República recebeu uma sessão evocativa do 25 de Novembro. Nesta data, os cravos vermelhos da D. Celeste foram trocados por rosas brancas.

Aqui as flores também têm um significado e as feridas de há cinco décadas ainda não foram totalmente saradas. Mário Soares (o homem que levou Portugal à União europeia) é visto como um dos grandes vencedores do 25 de Novembro mas os que foram contra esta sessão especial no Parlamento, bem ao estilo do 25 de Abril, acreditam que caso Soares estivesse vivo também seria contra.

Os nomes que se oposeram consideram que não é possível comparar as duas datas, já que uma delas levou ao fim de uma ditadura já a outra ajudou a consolidar tanto a democracia como os partidos que ainda temos no nosso espectro partidário. Como é o caso do CDS ou do PCP.

Nos discursos feitos pelos vários partidos, o Livre aproveitou a ocasião para lembrar que neste dia também lembramos o problema que existe no país com a violência doméstica. Mais de 75 mil crimes de violência doméstica foram registados na polícia nos últimos 4 anos.

Marcelo Rebelo de Sousa defende que «não existe contradição» em evocar o 25 de Novembro e o 25 de Abril. A sessão solene inédita, que foi realizada 49 anos depois desta data, foi bastante polémica mas trouxe de volta uma data que as novas gerações apenas conhecem devido aos livros de história.

Esta foi uma sessão marcada não só pelas presenças mas também pelas ausências. Um dos nomes que não compareceu foi o de Gouveia e Melo, o responsável máximo pela Marinha e que é apontado como possível candidato a presidência da república. Caso o seja e ganhe será o próximo presidente português de cariz militar depois de Ramalho Eanes. A situação de Gouveia e Melo tem deixado Luís Montenegro em silêncio.

Muitos foram os nomes que se recusaram a participar nesta cerimónia, como foi o caso do grupo parlamentar do PCP ou os elementos que ainda estão vivos (e de onde se destaca o capitão de Abril Vasco Lourenço) do famoso Grupo dos 9. Que criou o documento que levou a este contragolpe que ajudou a consolidar a democracia em Portugal. Para o capitão Vasco Lourenço, é uma «hipocrisia a direita querer festejar o 25 de Novembro». Já Pedro Nuno Santos, que também esteve presente na AR com um cravo vermelho, considera que foi o PS de Mário Soares que «liderou» o 25 de Novembro. No chamado «verão quente» a Assembleia da República e outros edifícios governamentais foram rodeados e chegou-se a falar de levar a «casa da democracia» para o Porto.

Pede-se um maior respeito pela história para que não existam derivas extremistas. Para além de ter levado ao fim do PREC que estava a levar o país para o risco de uma guerra civil que dividiria o país entre o norte de direita e o sul de esquerda. Muitas são as histórias que podemos contar sobre a Revolução Agrária ou o pedido da FP-25 (o último grupo terrorista Made in Portugal). Fala-se que a CIA temia que o país se tornasse numa espécie de Cuba no território europeu.

Um conjunto de militares, incluindo o antigo PR Ramalho Eanes (um tio da minha mãe chegou a estar na sua companhia militar) saiu a rua para trazer Portugal de volta a uma linha mais europeísta. Eanes foi quem prendeu um dos heróis de Abril e suposto líder das FP-25, Otelo Saraiva de Carvalho. Os militares que estiveram envolvidos no 25 de Novembro de 1975 vão ser condecorados por Marcelo Rebelo de Sousa. A minha mãe, que nessa altura era uma criança, lembra que na Amadora viu um comboio de viaturas militares. A história estava em andamento mas ainda não chegou ao sítio final.