Sobre idas e vindas, afinal o que significa voltar para casa?

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Os povos ibero-americanos, somos filhos da emigração, pessoas de todo o mundo chegaram ao Brasil, Argentina, México e demais países. Curiosamente o caminho se tornou inverso nas últimas décadas. Muitos dos descendentes dos que algum dia chegaram a América regressamos a Europa em busca de oportunidades, sobre isso quero refletir.

 

Você já experimentou aquela sensação de que as coisas mudam de uma hora para outra? em questão de horas e alguns deslocamentos e auxílio de um meio de transporte deixamos nosso local de nascimento, aquela profissão que nos custou anos de estudo e dedicação, nossa família, amigos e pessoas queridas que foram importantes em momentos determinantes de nossas vidas, tudo isso fica para trás e é hora de seguir em frente e recomeçar, muitas vezes do zero.

 

Com esse texto não quero abordar aquelas viagens à passeio, onde predomina o olhar de turista. Nessa hipótese impera a alegria e o entusiasmo a respeito do destino a ser desbravado. A novidade é quase sempre positiva e por isso mesmo a buscamos, vemos as diferenças como algo interessante e divertido. 

 

De outro lado, quando mudamos com a intenção de deixar definitivamente nosso país, nos deslocamos a quilômetros de distância do que antes considerávamos nosso lar, nesse caso nossa perspetiva muda. Sentimos saudades da família, mas também vivemos um processo de descobertas, lidando com sensações novas.

Nos deparamos com uma nova cultura, um clima diferente a que estávamos acostumados, experimentamos novos sabores, vemos outros costumes e estilos de vida que nem imaginávamos que pudessem existir, aprendemos um novo idioma e habilidades, uma nova forma de vestir, um novo mundo se abre.

 

Quem muda de país além de aprender a conviver com uma nova cultura deve fazer novos amigos, pessoas por vezes diferentes de nós, mas complementárias. Não é tarefa fácil saber o que comprar e onde comprar. As coisas mais simples como terminar uma frase ou usar o metro corretamente parecem uma grande conquista. 

 

Leva um tempo para descobrir outras formas de se divertir, lugares que frequentar e adaptar-se a um fuso horário diferente dos familiares e amigos que estão longe.

 

A vida de um estrangeiro onde quer que esteja nem sempre é fácil, de glamour, festas e alegria como pode parecer, mas principalmente de muita aprendizagem e crescimento pessoal, aquele aprendizado de tudo um pouco, requer boas doses de paciência e humildade.

 

Também é curioso que, com o passar do tempo e das novas vivencias, começamos a agir com mais naturalidade, diminuem a insegurança e a ansiedade, aquela sensação de ter que estar sempre se policiando pra não errar.

 

Por vezes acabamos por perceber que o nosso “novo mundo” não é tão diferente assim. Identificamos as semelhanças, aquela comida elaborada de um jeito parecido ao nosso, expressões que considerávamos típicas de nosso país que na verdade são genéricas. 

 

Depois de um tempo e devida adaptação, o certo é que não seremos os mesmos ao voltar para “casa”, pois além da contar com uma maior “bagagem” dada a mentalidade mais aberta, também levamos em consideração muitas outras casas. Por isso morar fora é um caminho sem volta e recompensador. 

 

Muitas vezes esquecemos que somos todos seres humanos, em que pese as tentativas de nos dividir pela cor, raça, classe social ou divisão territorial, agimos da mesma maneira frente as adversidades. Considerando que em meu caso já sou um tanto espanhola e consequentemente ibérica experimentei um misto de sensações, como a de sentir-me em casa, a casa comum ibérica ou mesmo o retorno às minhas origens. 

Os últimos tempos transmitiram a sensação de que tudo está conectado, nossas vidas estão cada vez mais interligadas, minha atitude afeta diretamente o outro. Assim que, a distância física, que é só um detalhe em meio a imensidão do mundo.

 

Talvez, a vida de quem viva no exterior seja isso mesmo, rodar o mundo, mas ter sempre presente as pessoas amadas, lembranças, momentos, cheiros, somos feitos daquilo que vivemos e o amor que transmitimos.

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