26/04/2025

Antonio Navarro apresenta «A textura do silêncio» nas Caldas da Rainha

O artista e professor na Universidade de Salamanca encerra a exposição internacional do projeto nesta cidade da região Oeste, onde poderá ser visto de 7 a 29 de Novembro

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Explorar o silêncio “como uma presença física, quase tátil, que pode ser percebida através dos materiais e do suporte”. É assim que o artista franco-espanhol Antonio Navarro descreve o seu mais recente projeto em digressão A textura do silêncio, agora em direção à paragem final depois da passagem por cidades como Jávea, Salamanca e Alicante. A exposição estará patente durante este mês, já a partir da próxima quinta-feira, na galeria de exposições do Espaço Turismo das Caldas da Rainha, com curadoria da também artista e docente Célia Bragança.

Neste projeto, esclarece o artista, “o papel sulfito e o carvão vegetal tornam-se ferramentas essenciais, sem deixar de lado questões como o trabalho gráfico em série, onde, utilizando a calcogravura, o carborundum ou a água-forte, revejo questões essenciais na minha produção artística”. Técnicas que permitem “absorver a luz e projetar sombras, evocando aquela atmosfera de recolhimento que procuro no meu trabalho”, e, desta forma, não só “representar o silêncio”, mas também “invocar uma reflexão sobre o essencial e o imutável”.

Uma busca pela materialidade do silêncio, não palpável na sua essência, que remonta a projetos anteriores. “Comecei com Silencio em 2017, onde já investigava a possibilidade de abordar o intangível através do grafismo, e tenho vindo a aprofundar a ideia do que fica escondido por baixo do visível. Em cada trabalho, procuro destilar mais a essência, eliminando elementos supérfluos e apostando numa linguagem cada vez mais pura e direta”, garante Navarro, assinalando a relação destas obras com “conceitos filosóficos e culturais como o wabi-sabi, a beleza do imperfeito e do efémero”, e influências “de pensadores como David Le Breton e Byung-Chul Han, que abordam a necessidade de redescobrir o valor do silêncio numa sociedade saturada de estímulos.”

Na opinião do artista, encerrar esta mostra nas Caldas da Rainha “representa o final perfeito” pela dimensão “internacional” do espaço expositivo, que transporta o projeto “para além das suas fronteiras iniciais” e o conecta com “um público novo, num contexto que valoriza profundamente a introspeção e a contemplação”. Algo que Navarro relaciona genericamente com Portugal, país de “uma história de exploração e melancolia, de saudade”, onde sente que os conceitos de vazio e ausência presentes no seu trabalho “encontram um eco nesta sensibilidade cultural tão particular.”

Para além desta cidade conhecida pela sua cerâmica peculiar, onde já expôs individualmente em 2018, Antonio Navarro recorda ao EL TRAPEZIO a passagem por outras localidades portuguesas. “Os projetos apresentados anteriormente complementam a minha trajetória profissional. Por exemplo, em Aveiro apresentei o projeto Fugaz, onde exploro a transitoriedade e o efémero como partes essenciais da experiência humana”. Ou então em Évora, onde desenvolveu em site-specific [para um determinado local] no pátio do Museu da cidade, uma obra “de grandes dimensões” em forma de “mancha de carvão, que flutuava e era transitável.”

Na sua atividade académica, enquanto professor de Gravura e Desenho na Faculdade de Belas Artes de Salamanca, também dá conta da interação com o país vizinho. “Ao longo dos anos, encontrei um interesse partilhado com centros portugueses como a ESAD.CR ou a Escola de Arte de Évora, com os quais pude explorar a relação entre arte e silêncio”, refere, desembocando “em projetos, intercâmbios e espaços de diálogo interdisciplinar”. Navarro salienta ainda uma “forte tradição de estudos humanísticos e artísticos” no contexto português, que o ajudam a “expandir o alcance” da sua atividade. “Conectar com investigadores e estudantes em Portugal enriquece a minha prática docente e investigadora, já que amplia os quadros teóricos e culturais que integro no meu trabalho artístico”, conclui.

A exposição d’A textura do silêncio nas Caldas da Rainha inclui-se no programa da Mostra Espanha 2024, uma iniciativa do Ministério da Cultura de Espanha, do Instituto Cervantes de Lisboa e da Embaixada de Espanha em Portugal. Conta ainda com os apoios específicos da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR), da Universidade de Évora, do Instituto de Investigação em Arte e Tecnologia da Animação da Universidade de Salamanca, e da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.