Festival Solos Ibéricos, em Lisboa, volta a mostrar a criatividade luso-espanhola

Está a decorrer desde o dia 22 de outubro e termina a 20 de novembro. É a segunda edição da iniciativa do Teatro Ibérico

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Dar palco a criações teatrais portuguesas e espanholas. É este o objetivo da associação Teatro Ibérico ao promover o Festival Solos Ibéricos, que vai já na segunda edição e arrancou no passado dia 22 de outubro com a apresentação de Stand Down, um solo do ator espanhol Ángel Fragua, radicado em Portugal.

Criado a partir dos contos do valenciano Félix Albo, o espetáculo faz uma viagem entre Espanha e Portugal, retratando memórias de infância que atravessam o olhar do adulto do presente. Sem grandes recursos cénicos, o importante é deixar-se levar pela dúvida da veracidade do que se ouve e estar preparado para rir, ficar sério ou até chorar, se for o caso.

Neste último fim de semana, nos dias 29 e 30 de outubro, foi a vez de assistir-se à comédia “televisiva” Mecha Show You, criada pela hispano-argentina Jimena Cavaletti. Com alguma sátira e muito humor à mistura, a artista transforma-se em Mecha, uma apresentadora de televisão que aborda temas como o êxito, o fracasso e o peso que a aprovação exterior tem na vida humana.

Segundo a diretora do festival e do Teatro Ibérico, Rita Costa, o balanço até ao momento é positivo. “Tem corrido tudo muito bem e estamos com boas expectativas para os próximos fins de semana. Espero agora uma maior adesão do público e uma grande parceria entre este e a proposta artística que aqui apresentamos para toda a família, desde os mais novos aos mais velhos”.

Para o próximo fim de semana, nos dias 4 e 5 de novembro, chega do Funchal o espetáculo Os qu’emigraRAM, uma criação de Ricardo Brito pensada em torno dos conceitos de emigração, diáspora e identidade madeirenses. “Partindo de uma recolha de testemunhos junto daqueles que ficaram deixando os olhos postos no m(ar), propomos uma viagem pelo mais íntimo das veredas e caminhos desta terra fértil, tentando perceber o que dela brota, se ainda restam razões para sorrir”, apresenta o autor do projeto.

Ainda dentro desta temática da migração, mas com um foco marcadamente mais feminista, entra em cena Samotracias nos dias 12 e 13. Uma criação de Carolina Santos baseada num excerto de um texto de Nicole Caligaris, na qual três atrizes incorporam um coro de mulheres com um mesmo objetivo: fugir. Em termos técnicos, este é um espetáculo trilingue (português, espanhol e francês), realizado pela produtora algarvia Mákina de Cena em coprodução com a Fundación Teatro Libre de Bogotá, e que envolve equipas de Portugal, Chile, Colômbia e França.

A encerrar a edição deste ano, nos dias 19 e 20, está o espetáculo Trilla, da companhia espanhola La Phármaco, que resulta do encontro entre a coreógrafa e bailarina Luz Arcas e a compositora e performer Le Parody. Juntas criaram uma espécie de proposta folclórica do século XXI, uma performance multidisciplinar com sucessão de imagens, danças e passagens sonoras que se relacionam com lamentos, guerras e referências marianas de um ponto de vista pagão.

Do Teatro Ibérico para um espaço ibérico

Foi durante a pandemia que Rita Costa e a sua equipa fizeram nascer o Solos Ibéricos, como conta a própria diretora ao EL TRAPEZIO. Da “necessidade de ver espetáculos” a acontecer em Lisboa, mas também noutros lugares, aliou-se a vontade de fazer extravasar alguma da cultura que se faz no país. “Portugal é um país tão pequenino, mas, apesar disso, é um país com uma cultura muito grande e rica. Por isso, o que quisemos fazer com este festival foi trazer um pouco dessa cultura espalhada um pouco por todo o nosso país até Lisboa”.

Mas dessa tomada de consciência até à concretização do festival deu-se um passo importante pelo meio: o de reconhecer a própria identidade do Teatro Ibérico. “Quisemos ir até à raiz deste nome e trazer dele uma linha imaginária entre a Península Ibérica, o nosso país vizinho que é Espanha, e uma noção de identidade. Aquilo que somos, o que procuramos, o que queremos comunicar”. Sem esquecer também quem fundou a companhia, o galego-português Xosé Blanco Gil.

E desse processo nasceu então o festival Solos Ibéricos, com uma primeira edição em 2021, cruzando a primeira palavra que traduz uma noção de espaço com a ideia de criatividade ibérica. Uma ideia que, nas palavras da diretora, deve ser “partilhada com todos”. “Queremos marcar a diferença, e isso faz-se dando lugar a todos. O nosso objetivo é, de facto, chegar aos nossos vizinhos espanhóis e criar uma sinergia entre espaços, artistas e o público”, destaca Rita Costa.

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