Entrevista com Raquel de Queiroz, designer brasileira de joias sustentável

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Raquel de Queiroz é uma designer brasileira de joias comprometida com os processos produtivos e a transparência, faz combinações com materiais da rica flora brasileira e metais preciosos, sempre pensando primeiro no material.

O trabalho da artista une consciência e contemporaneidade, e encontra inspiração não só na exuberância e criatividade brasileira, mas também nos estudos de joias contemporâneas europeias.

Raquel dividiu as suas coleções em duas linhas, uma tradicional e outra sustentável. Além das joias tradicionais a designer utiliza a mistura de materiais de forma consciente e trabalha com metais nobres de reuso, como prata e ouro. E vem estudando maneiras de deixar o seu produto cada vez mais consciente.

A designer participou de inúmeros eventos e feiras que consagram a joalheria, trazendo fortes referências na cultura brasileira. Destacamos entre eles: PortoJoia, Portugal (2017) e Inhorgenta, Munique, Alemanha (2018/2020).

Em recente participação na MOMAD Madrid – feira internacional de Moda, em setembro deste ano, Raquel desfilou suas joias, criadas em homenagem a Terra, uma oportunidade de levantar um alerta sobre a importância de cuidar do nosso planeta: tema central da sua apresentação ao lado do estilista Eneas.

 Raquel escolheu especialmente para a apresentação uma: “inspiração nos trabalhos indígenas, desde o uso de sementes da terra brasileira bem como os gráficos característicos usados nas pinturas corporais”, explicou a designer de joias. Prata, sementes, pedras e madeiras estiveram presentes em colares, pulseiras e brincos.

 

Conte um pouco da sua trajetória profissional?

No Brasil nós temos uma biodiversidade muito grande, então eu misturo materiais diferentes, utilizando sempre nossa matéria prima, muita madeira, sobra de madeira de cutelaria ou de uthieria, como sobram sempre me vendem. A partir daí eu fui entrando mais para o campo de sustentabilidade.

Em relação aos metais que eu trabalho, são a prata e o ouro. No Brasil não temos minas de prata, toda prata de lá é recuperada. Eu compro de uma recuperadora que tem um descarte sustentável. O mesmo vale para o ouro, também uso recuperado, tenho essa preocupação. Já as pedras compro de pequenos mineradores que estão nas regiões de mina, também ganho muita pedra, gosto muito de pedra brasileira, de pedra corada e utilizo esse material. Como também reformo as peças, de repente a pessoa tem uma peça que quebrou, a gente refaz uma outra peça com o material dela mesmo.

 

Como você define seu processo criativo?

Eu gosto muito de ver o material antes de ter a ideia de montar uma peça, eu escolho o material primeiro e em cima dele vem a minha criatividade, vou desenhando no papel a peça, às vezes não fica viável, porque uma coisa é sair no papel e outra coisa é fazer a peça e ver o resultado.

Vou conversando junto com o ourives para chegar num meio termo, no que pode ou não ser feito, vamos fazendo as modificações, mas a essência da peça e a ideia original sempre estão presentes.

 

Qual a sua relação com os povos indígenas? No que se refere as cores, desenho ou matéria prima?

Eu utilizo matéria prima indígena, eles trabalham muito com as sementes. Existe uma semente de tucumã, eles trabalham fazendo uma espécie de canudinho, que são as “correntes” que eu uso. Esse material vem uma tribo do Acre, eles fazem esse artesanato em cima disso nasce a ideia de fazer as minhas peças, quando chega até mim junto a prata e pedra, inclusive está nessa coleção que apresentei no desfile.

Eu particularmente, sempre gostei de desenhos geométricos e os índios eles se pintam com formas geométricas, o meu tema nesse desfile é terra e eu aproveitei essa inspiração para fazer a minha coleção.

 

Você participou de muitas exposições e projetos internacionais o que diferencia, matéria prima ou desenho brasileiro?

No caso a matéria prima, todos sabem o que está acontecendo na Amazônia, não só na parte brasileira, é uma maneira de colocar esse trabalho para o mundo ver, pensar no que está acontecendo e agir, porque a situação no Brasil não está fácil.

O objetivo é que as pessoas tenham um olhar diferente para o artesanato indígena, ver o trabalho bonito que eles fazem, eu trouxe um trabalho que é de uma tribo do Tocantins, com uma semente chamada de tiririca, parece um bordadinho é realmente muito bonito.

E eu enriqueci esse trabalho, não só por causa do metal (prata), mas porque coloquei pedra, coloquei a amazonita, que é uma pedra que as tribos indígenas usam e tem um significado, de proteção.

 

Como foi participar do Projeto Denisova e recriar os brincos da imperatriz Leopoldina?

Durante a pandemia a minha amiga Raquel Lobelos me convidou para esse projeto, nem ela tinha a dimensão que ele iria crescer tanto, como estávamos parados eu aceitei logo o desafio.

Como gosto muito de história, pensei em qual joia histórica que poderia usar, algo do brasil ou que tem no Brasil, tinha conhecimento que a imperatriz Leopoldina possuía uma coleção de pedra, ela também estudou mineralogia.

Segui este caminho, mas, durante a pesquisa eu não encontrava nenhuma peça diferente, até que encontrei um estudo que historiadora e arqueóloga Valdirene Ambiel, nos corpos do imperador D. Pedro I e suas esposas, e no corpo da imperatriz Leopoldina foram encontrados uns brincos que ninguém conhecia.

Ele era um brinco moderno para a época, de âmbar e no Brasil não tem âmbar, foi deduzido que ela tinha trazido a peça da Áustria. A imperatriz foi enterrada com eles, portanto, nem os descendentes sabiam da existência desses brincos.

Fiz uma releitura desses brincos, com esmeraldas e diamantes, respeitando o tamanho original e mudando o fecho. Usei a esmeralda, porque o verde remete a casa dos Braganca em Portugal e o ouro representa a Casa dos habsburgo da Áustria, para unir as cores das duas famílias. Atualmente estão expostos no Museu Nacional de Artes Decorativas.

Mais informação:

www.raqueldequeirozjoias.com

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