Jordi Prenafeta vence o XXIII Prémio de Tradução Giovanni Pontiero

A entrega do prémio para a tradução em catalão de «Contos do Gin-Tonic», do português Mário-Henrique Leiria, acontece já esta quinta-feira (30)

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O escritor catalão Jordi Prenafeta é o vencedor do Prémio de Tradução Giovanni Pontiero 2023 pela sua tradução, para a língua catalã, da obra mais conhecida de Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic. Embora a nomeação seja já conhecida desde o final de outubro, a cerimónia de entrega do prémio terá lugar na Casa Convalescència da capital catalã, precisamente no último dia deste mês.

O Prémio de Tradução Giovanni Pontiero é organizado todos os anos pelo Centro de Língua Portuguesa em Barcelona – Instituto Camões e pela Faculdade de Tradução e Interpretação da Universidade Autónoma de Barcelona, com o propósito de homenagear o escritor escocês que dedicou a sua vida aos estudos literários e tradução de autores portugueses e brasileiros, como José Saramago e Clarice Lispector.

Este ano, a tradução de Prenafeta, publicada pela editora Fonoll em 2022, distinguiu-se pela forma como “reflete, de modo brilhante, a força do original, com um estilo fresco e fluído que combina com o cariz icónico e, por vezes, provocador do autor”, salientou o júri na ata do prémio. A obra foi assim escolhida “entre cinco obras apresentadas”, segundo informação cedida pelo Centro de Língua Portuguesa em Barcelona.

Em conversa com o EL TRAPEZIO, Prenafeta destaca o “reconhecimento público” que o prémio traz para a sua faceta de tradutor, um trabalho ao qual não se dedica profissionalmente, afirmando que o mesmo “valida o resultado” do seu “atrevimento”. Ainda assim, o escritor e professor de catalão reconhece que o galardão não é apenas seu. “Gostaria que o prémio que me foi dado fosse também para o Mário-Henrique Leiria”, afirma, “e que contribuísse para dar eco ao nome e à tradução da sua obra por todo o planeta”.

Ainda que esta seja a primeira tradução de Leiria para catalão, é também, de facto, a primeira tradução no mundo deste autor português. O que, para o escritor de Lleida, não se compreende. “Em Portugal, [Leiria] caiu num esquecimento inexplicável depois do sucesso esmagador que teve nos anos 70, para além de que o trabalho de o dar a conhecer internacionalmente como um autor referente do surrealismo e do humor político ainda está por fazer”, assegura.

O Prémio de Tradução Giovanni Pontiero foi criado em 2001 pela fundadora do Centro de Língua Portuguesa em Barcelona, Helena Tanqueiro, promovendo a divulgação da cultura e da língua lusófonas na Catalunha. Em anos ímpares, como este ano, o prémio é aberto a traduções realizadas para catalão de obras literárias de qualquer género, escritas originalmente em português. Em anos pares, o prémio destina-se a traduções realizadas para espanhol de obras originalmente em português, sendo que as traduções deverão ter sido publicadas nos dois anos anteriores ao da entrega do prémio.

Quem foi Mário-Henrique Leiria?

Escritor e pintor português, nascido em Lisboa a 2 de janeiro de 1923, Mário-Henrique Leiria foi um ativo contribuidor literário, especialmente no que ao surrealismo português diz respeito. Tendo sido expulso da Escola de Belas-Artes de Lisboa por atividades dissidentes ao regime salazarista, participou entre 1949 e 1951 nas atividades da movimentação surrealista em Portugal, tendo aderido ao Grupo Surrealista da capital. Além da sua obra artística, trabalhou também como caixeiro, operário metalúrgico ou ainda na marinha mercante, vivendo grande parte da sua vida no estrangeiro.

Por razões políticas, permaneceu na América Latina durante a década de 1960, voltando para Portugal já nos anos 70, onde publicou Contos do Gin-Tonic (1973), o seu primeiro livro. Dirigiu a revista Aqui e traduziu autores como Faulkner, Gorki e Huxley, editando obras próprias como Casos de Direito Galáctico (1975) e Lisboa ao Voo do Pássaro (1979). Faleceu a 9 de janeiro de 1980, em Cascais, tendo sido publicada postumamente grande parte da sua obra poética dispersa, que se encontra hoje depositada na Biblioteca Nacional.

Para Jordi Prenafeta, o mais notável de Leiria é o seu “sentido de humor”, sublinhando que o autor “o domina e põe-no sempre ao serviço da causa” dos “oprimidos”. Neste sentido, compara o escritor português com o seu homólogo catalão Pere Calders: nos contos do primeiro, acredita encontrar “o imaginário e a fina ironia de Calders, mas com mais mau humor, mais liberdade e mais compromisso social”. Destaca ainda a “grande variedade de estilos narrativos” de Leiria, explicando que é possível retirar do “terreno” de Contos do Gin-Tonic estilos tão diversos como o “humor absurdo, surrealismo, humor negro, intriga, ficção científica” e ainda “poemas e prosas poéticas”.

É nesta linha de raciocínio que o tradutor catalão reivindica para Leiria o reconhecimento que têm outros autores portugueses, esperando que ainda se possa festejar o centenário do nascimento do autor com um “Ano Leiria organizado ao mais alto nível”. E espera ainda poder editar, no próximo ano, uma tradução dos Novos Contos do Gin-Tonic, a sequela que fará 50 anos e que, em 1974, chegou mesmo “ao número um” das vendas em Portugal.

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