O português António Guterres entrou pela primeira vez no edifício das Nações Unidas, onde ocupa o papel de secretário-geral, há seis anos. Depois de ter sido primeiro-ministro (tendo se celebrizado por tiradas que vão desde “pântano político” ao “queijo limiano”) e trabalhado de perto com os refugiados, Guterres tornou-se na “voz do mundo”. Um mundo que tem vários problemas e pede uma resposta rápida para os mesmos.
Ter um português como secretário-geral é visto como um dos feitos recentes da diplomacia lusitana. Fazer pontes entre os diferentes povos e ideias é o fio que segue não só a diplomacia por João Gomes Cravinho como do próprio Guterres. O bonacheirão português, amigo de Marcelo Rebelo de Sousa, pode não ser um dos nomes mais sonantes a ocupar este cargo, mas claramente o seu nome ficará para a história. O seu nome é pronunciado em todas as línguas do mundo, mas nem todos olham para o seu papel da mesma forma.
Se fará história ainda é cedo para responder, já que começou este ano o seu segundo mandato, mas nos últimos seis anos o mundo mudou bastante. Quando Guterres entrou pela primeira vez na Assembleia, um país inteiro falou do ar de pai orgulhoso que emanava de Marcelo. Os amigos da igreja da luz ocupavam agora dois grandes cargos, dos maiores do país e do mundo. Os dois homens que durante o Estado Novo almejavam uma vida em democracia, agora procuram a paz.
António Guterres, o homem que tínhamos visto ao lado dos mais sofridos, apontou as suas baterias no combate de vários problemas. Um deles, as alterações climáticas, estão a colocar o nosso mundo a “arder”. A luta contra as alterações climáticas é claramente a bandeira do português. Só que ainda falta muito para passarmos de palavras, simples palavras, a atos concretos. Do que vale atirar latas de sopa de tomate para o quadro dos girassóis enquanto estamos tão dependentes dos combustíveis que chegam do oriente?
Na Conferencia dos Oceanos, que aconteceu na Altice Arena (construção feita durante o governo de Guterres), o secretário-geral pediu uma maior proteção dos nossos mares e a redução do consumo de plásticos. O mesmo pedido feito pelo ator Jason Momoa, mais conhecido pelo Aquaman. Comparando com o anterior detentor deste cargo, o sul-coreano Ban-Ki Moon, António Guterres tem feito um esforço visível para se aproximar dos mais jovens. Afinal o futuro está nas mãos destes (ou pelo menos deveria estar).
Colocou um holograma de um dinossauro no conhecido edifício no meio de Nova Iorque para alertar para a possibilidade de a humanidade enfrentar um destino semelhante aos gigantes que anteriormente andavam por cá e deu pastéis de nata ao grupo BTS. Também foi capa da revista Times. Na foto usada estava com água até aos joelhos. A pandemia de covid-19 foi outros dos acontecimentos históricos que as Nações Unidas tiveram de enfrentar. Durante a campanha de vacinação que aconteceu em larga escala no hemisfério norte, alertou para o perigo de deixar África ou a América do Sul ainda mais para trás.
Agora que a doença está muito mais controlada olhamos para trás e compreendemos que nenhum de nós estava preparado. A história dá-nos várias dicas sobre o futuro, mas infelizmente parece que não quisemos ouvir os concelhos. Lá estamos nós a repetir os mesmos passos que foram dados no início do século passado. Se no início pensávamos que iríamos viver a parte positiva dos “Loucos anos 20” (com a música e novas formas de arte), claramente estávamos enganados.
Doenças, crise económica (a inflação em Portugal é a mais alta dos últimos 30 anos) e a ascensão de movimentos políticos de extrema. Começou com Trump nos Estados Unidos, Bolsonaro no Brasil, Meloni em Itália e nem a Suécia escapa. O norte da Europa, com a sua qualidade de vida elevada, costuma ser motivo de inveja para os países do sul. O PSE considera que Pedro (Espanha) e António (Portugal) são baluartes de estabilidade num caldeirão.
Um caldeirão borbulhante e a altas temperaturas (por mais que os meios de comunicação social russos digam que já estamos a aquecer as nossas casas com madeira e estrume). Esta é a Europa que temos. Agora até o governo de Estocolmo tem apoio da extrema-direita no parlamento. Cada vez mais estes discursos estão a ser normalizados. A maior mudança dos últimos 6 anos é claramente a invasão da Ucrânia.
Putin trouxe de volta a guerra ao continente europeu e a possibilidade de uma guerra nuclear. O relógio nunca esteve tão próximo do zero (isto em vários sentidos). O que Guterres e a ONU podem fazer em relação a isto? Será possível voltar atrás ou Guterres escreverá o seu nome como o último secretário-geral da história das Nações Unidas? Claramente o secretário-geral quando assumiu o posto não pensava que nos últimos 6 anos o mundo mudaria tanto.
Andreia Rodrigues