O (m)eu interior

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Estamos em agosto, em pleno verão e época de grande atividade turística. Mesmo em contexto pandémico. Numa viagem pelo interior, uma espécie de consciência adormecida, em mim, floresceu.

Quando olhamos com olhos de ver é imperativo que se absorva a experiência e os elementos que os nossos olhos captam. De outra forma não estamos a ser fiéis aos nossos sentidos. Num país onde existe uma assimetria tão grande entre interior e litoral, esta consciência que citei ao inicio impele-me a confessar que sou totalmente partidária do interior. Que me perdoe o litoral. Tão repleto de beleza e de vida. Características que entendo e elogio. Muito.

No entanto, o litoral não enche as minhas medidas. De um ponto de vista pessoal; apena isto. Naturalmente; sem ressentimentos ou disputas. Por isso mesmo, apenas posso explicar o magnetismo do interior e que nem todos o podem alcançar. Gostos não se discutem. Respeitam-se.

Ouvi muitas vezes que a minha perspectiva mudaria um dia em conformidade com as circunstâncias da minha vida. Vivi e estudei no litoral, vi paisagens e praias lindíssimas, mas não, a minha perspectiva não mudou. Nem todos pensam desta forma e não têm de o fazer.

Muitas vezes Portugal é de modas turísticas. Até no tal interior. Esta visão de um Portugal igual não existe. E sabem porque o interior me apaixona tanto? Pela dureza e pela dificuldade que este mundo supera diariamente. Dificuldade multiplicada e transformada. Achamos que uma visita ao interior nos torna conhecedores das gentes e do “outro modo de vida”. Esta é a visão turística. Muitas vezes não é assim. Não acontece assim se não estivermos disponíveis a entender e a absorver. Como tudo na vida não basta simplificar; nada acontece  sem esforço ou força de vontade.

Este anseio de quem lidera poder mostrar e acreditar neste país interior com muitas qualidades soa, na maioria dos casos, a discurso falacioso. A discurso do momento. A discurso da moda. As responsabilidades pelo esquecimento do interior estão repartidas. E têm décadas. Do central ao local, existem responsabilidades divididas. A têndencia a politizar esta questão impede que se entenda que o verdadeiro problema está na consciência. Ou falta dela.

Tal como ocorreu no ano passado, este ano decidi tirar uns dias para visitar outro interior; aquele que é diferente do meu. Senti-me em casa. Revi-me nas vivências. No sentimento. Posso dizer que conheço parte do interior e que todo ele é diferente. E dentro do mesmo interior existem muitos outros a velocidades distintas. Mas ainda me falta muito por conhecer. Talvez um dia mais tarde possa escrever de outra forma. Pensar de outra forma. Em conformidade com as tais causas circunstânciais. Mas até lá, este é o meu discurso e sentimento. Há muito que não vivo, muito menos escrevo, para agradar.

Desta forma termino o meu pequeno texto. Aconselho a todos uma viagem pelo Interior. Profundo, agreste, rural. Encantado, mágico e verdadeiro. Um mundo diferente do que dizem ser o Portugal das cidades grandes. Mas este é o verdadeiro Portugal. Castelos seculares,  vinhas e olivais, serras, planaltos e rios que contam histórias. Onde  dureza da paisagem contrasta com a beleza que os nossos olhos alcançam. Talvez isso nos possa presentear com mais humildade no olhar e no pensar. Para que mais tarde possamos contar que conhecemos o mundo lá fora e o nosso mundo cá  dentro. Digno de respeito.

Este interior é o meu Portugal. É o meu interior.

 

Nídia Ferreira da Cunha

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