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Bioeconomia, o futuro verde da Raia

Em Castela e Leão e nas regiões Centro e Norte de Portugal foram identificadas empresas que apostam na bioeconomia

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Álvaro investiga as propriedades culinárias da bolota e criou receitas únicas. Pilar madruga diariamente em Salamanca para comandar uma empresa que recicla uma tonelada de óleo por dia. E Francisco Mateus, em Mogadouro, encontrou a fórmula para fazer pão de cogumelos. Os três baseiam o seu sucesso na bioeconomia e valorizam os recursos endógenos de Portugal e Espanha, para além de apostarem pela economia circular e sustentável.

Pilar Rodríguez dirige em Salamanca a empresa “Porsiete”, fundada pela própria em 2006 com o objetivo de fomentar a economia circular e social. 80% dos seus trabalhadores são pessoas com algum tipo de deficiência, e todo o óleo que conseguem resgatar da hotelaria e restauração é convertido num combustível biodiesel não poluente.

Álvaro León, técnico ambiental, está seguro quanto à necessidade de uma mudança na alimentação e considera vital revalorizar recursos da terra, como a bolota, um fruto símbolo da resiliência e outrora comido pelos pobres. Com o seu potencial saudável, criou mais de meia centena de receitas com farinha de bolota.

Em Mogadouro, em pleno Parque Internacional de Duero-Douro que une Portugal e Espanha, Francisco Mateus recolhe a cada semana uma média de três toneladas de cogumelos. Com a pandemia, explica à Efe, o consumo nas grandes áreas de Portugal reduziu devido à escassa procura da hotelaria e restauração, pelo que agora distribui os seus cogumelos porta a porta enquanto idealiza novas fórmulas para rentabilizar a sua produção micológica.

Estas três iniciativas fazem parte do projeto luso-espanhol INBEC, baseado na bioeconomia circular e sustentável, que pretende extrapolar iniciativas de êxito desenvolvidas em territórios fronteiriços de Espanha e Portugal. Com um investimento de 2.063.623,73 euros, a proposta está liderada pelo Instituto para a Competitividade de Castela e Leão (ICE) e financiada em 75% pelo Fundo de Desenvolvimento Regional FEDER através do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg Espanha-Portugal (POCTEP).

Banco de projetos luso-espanhol

O ICE e a Fundação Cartif, com sede em Valladolid (Espanha), colocaram em marcha um plano de ação para identificar todas as iniciativas que se desenvolvem nos territórios fronteiriços e que baseiam a sua atividade na bioeconomia ou na economia sustentável. Mercedes Vicente, técnica do ICE e coordenadora do projeto, assegura que “os recursos endógenos que a terra nos dá” têm um grande potencial de desenvolvimento para os territórios fronteiriços da espanhola Castela e Leão e do Centro e Norte de Portugal.

O poder calorífico das cascas de amêndoa ou caroço da azeitona, a elaboração de farinhas a partir de insetos ou o aproveitamento da cera de abelhas para criar embalagens sustentáveis no setor agroalimentar são alguns exemplos de projetos de economia circular e sustentável já a decorrer nas zonas fronteiriças, explica. Em Castela e Leão e nas regiões Centro e Norte de Portugal foram identificadas empresas que apostam na bioeconomia para ampliar as suas experiências entre o resto da comunidade ibérica. O objetivo é partilhar os resultados com o bloco europeu.

É o caso dos restos da poda da videira que costumavam ser queimados no restolho e que hoje são transformados para a criação de cosméticos. A partilha destas experiências inovadoras baseadas na economia circular são uma fonte de novos empregos para o território fronteiriço e, através do INBEC, as PMEs que queiram lançar uma iniciativa semelhante irão receber aconselhamento dos centros tecnológicos em Espanha e Portugal que participam no projeto.

O projeto contempla também um plano de comercialização e um inventário de todos os subprodutos derivados da bioindústria com o objetivo de alargar o seu ciclo de vida.

Bolotas da resiliência

O técnico ambiental Álvaro León está há vários anos a estudar as propriedades culinárias da bolota nas azinheiras das regiões espanholas de Castela e Leão ou Estremadura e participou num dos atos organizados pelo INBEC para dar a conhecer possíveis iniciativas de êxito baseadas na economia sustentável. “As bolotas são um símbolo de resistência”, explica Álvaro León à EFE, recordando que as gerações anteriores comiam bolotas na infância, prática que se foi perdendo porque era “mal vista” e que ganhou derivou em termos pejorativos como “boloteiros”.

Depois de estudar durante vários anos as propriedades da bolota, Álvaro ainda não entende porque é que o seu consumo não cresce e o seu potencial para a saúde não é aproveitado. “A farinha de bolota tem um potencial muito grande e pode-se elaborar com ela um sem fim de receitas”, explica.

Não tem glúten e tem mais proteínas que qualquer outro cereal, assegura Álvaro León, que participou em projetos de investigação de bolotas com diferentes entidades, tais como a Universidade da Estremadura. A estrela das suas criações é o paté de bolota, um creme com diferentes frutos secos à base de farinha de bolota que “não faz lembrar qualquer outro sabor”. Criações gastronómicas como bolachas, gelados, bolotas em pickles ou até café de bolota são algumas das suas receitas.

Um produto único que só se pode obter nas devesas espanholas ou nos montados portugueses que, além disso, se pode aproveitar para tratamentos médicos porque serve de anti-inflamatório, hipoalergénico e antioxidante.

Da canalização ao biodiesel

Cada manhã, um grupo de trabalhadores da Porsiete percorre os bares e restaurantes de Salamanca e arredores e recolhe uma média de uma tonelada diária de óleo usado. “É uma tonelada de óleo que não vai pelo cano abaixo e que se converte, mais tarde, num combustível biodiesel que não polui”, explica Pilar Rodríguez, espanhola de 64 anos apaixonada pelo trabalho de economia circular que começou em 2006.

A cooperativa que gere conseguiu empregar cerca de vinte pessoas com algum tipo de deficiência e a maioria delas está com contrato a tempo incerto. Recolhem o óleo em garrafas de todos os tipos e depois deitam-no num recipiente. Depois é filtrado para eliminar impurezas e enviado para indústrias que, através de diferentes processos de decantação, o reconvertem para a sua nova utilização como combustível.

Outra das atividades da Porsiete é a recolha de roupa usada que o povo de Salamanca deposita nos contentores da cooperativa, que totalizam quase meio milhão de quilos de têxteis por ano. Pilar adverte: “Temos um problema sério com os têxtil, porque poluem muito. Pode ser reutilizado, mas, de momento, não há solução para a sua reciclagem”.

O objetivo da Porsiete é recolher tanta roupa quanto possível para que “nada vá para o aterro sanitário”, uma vez que tudo o que é sintético no vestuário “é muito difícil de reciclar”, ressalta Pilar. A cooperativa também trabalha com a recolha de pilhas e de todo o tipo de dispositivos eletrónicos.

A Bioeconomia do cogumelo

O casal português formado por Francisco Mateus e Sílvia Marcos dedica-se há sete anos à indústria do cultivo do cogumelo na cidade portuguesa de Mogadouro, perto da região espanhola de Zamora, e ambos consideram que o futuro deste tipo de iniciativas passa pela inovação, pois o consumidor tem tendência a procurar coisas novas.

A última novidade desenvolvida foi o pão de cogumelos. A receita teve “boa aceitação”, reconhece Mateus, embora vão “ajustando”, já que é necessário unir um produto cru, como o cogumelo, e a massa de farinha húmida antes de meter no forno. Este casal compra os pacotes germinados com o micélio nos grãos de centeio a uma empresa espanhola de La Rioja, e em duas semanas e meia os cogumelos começam a sair.

Até ao ano passado, os seus principais destinos de cogumelo cru eram os mercados de Porto e Lisboa, mas viram-se obrigados a reorganizar com a pandemia. Agora, explica Mateus, percorrem as aldeias desta zona do Norte de Portugal para vender bandejas de cogumelos casa por casa. E, assim, quase diariamente, tentam dar saída à produção de doze toneladas mensais geradas.

“Há que entender os mercados”, aponta Francisco Mateus, que vê na bioeconomia uma alternativa de futuro para algumas zonas mais deprimidas, como a Raia luso-espanhola, carente de grandes indústrias.

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