Arturo Pérez-Reverte explica o seu iberismo a um jornal português

O escritor espanhol foi capa do jornal luso Diário de Noticias por uma entrevista

Comparte el artículo:

Reproducimos a seguir trechos nos que se refere ao iberismo na entrevista realizada pelo jornalista João Céu e Silva:

É mais difícil ser lúcido e espanhol ou ser lúcido e português?
Eu sou da linha iberista, nisso estou com José Saramago, e sempre disse que é uma anomalia que Portugal e Espanha não sejam um mesmo Estado ou que não formem um mesmo território político. Essa separação é uma sorte para os portugueses porque estão distantes do desastre político, económico e social em que a Espanha se converteu. Neste momento, fico feliz por os portugueses estarem a salvo! Mas, esquecendo o momento atual e certos determinismos históricos, creio que a fronteira entre Portugal e Espanha é uma fronteira artificial que somente a história traçou. Se Filipe II, durante os anos em que foi rei de Portugal, tivesse mudado a capital do mundo ibérico para Lisboa, teríamos feito todos, portugueses e espanhóis, uma Ibéria atlântica e não uma Espanha estupidamente sangrada na Europa, e seria sido muito diferente a nossa história e a do mundo. Sou profundamente iberista, tanto que me sinto em Portugal tão na minha casa como em Cartagena ou na Andaluzia. Conheço bem a história de Portugal, que também é amarga em muitos sentidos, mas os portugueses agora estão a salvo porque não existe uma confederação ibérica. Assim, tenho um lugar para me refugiar quando a Espanha se tornar insuportável.

Saramago dizia, em 2007, que dentro de 50 anos existiria essa União Ibérica. Acha que ainda poderá acontecer?
Não, agora creio que não. E lamento porque a Espanha está demasiado concentrada na sua própria desgraça e divisão, e não imagino os espanhóis a melhorar. O grande erro político, social e histórico dos espanhóis é que nunca tenham olhado para Portugal sem estarem de costas voltadas para ele. O nosso lugar natural é o Atlântico e a América, em vez de olharmos para a Europa de uma forma complexada e onde somos secundários. Isso é muito triste! Não acredito que essa união ibérica aconteça, mas é atrativo imaginar essa possibilidade porque há muitos portugueses e espanhóis que têm uma perspetiva clara dessas vantagens, e eu estou nessa linha. É uma utopia, provavelmente impossível, mas gosto de sonhar com ela.

Se essa união viesse a acontecer a península deixava de ser periferia?
Se houvesse uma federação Espanha-Portugal, esta contaria com a influência de Portugal no Brasil e em África e de Espanha na América, o que se fôssemos dirigidos por governantes inteligentes e com sentido de história, de dignidade e de futuro, nos tornaria uma potência indiscutível.

Noticias Relacionadas