O TRAPÉZIO entrevistou a historiadora Nuria Corral* e a bióloga Teresa Calderón**, que fazem parte da direcção académica e organizativa do Congresso Internacional de Estudos sobre A Raia. Este encontro acontecerá entre os dias 1 e 3 de outubre de 2020 em Aldeadávila de la Ribera (Salamanca), organizado pela Universidad de Salamanca e a Universitat Autònoma de Barcelona. As línguas oficiais do Congreso são espanhol e português.
Como surgiu a iniciativa do Congresso Internacional de Estudos sobre a Raia?
Devido à nossa formação, consideramos prioritário unir os estudos naturais aos estudos sociais e humanísticos da Raia para assim valorizar esse território. Ambas somos naturais do oeste de Salamanca, pelo que sempre estivemos ligados às suas tradições e também assistimos ao êxodo rural que sofre a zona fronteiriça, como muitas outras partes do interior dos dois países. Nesse sentido, consideramos imprescindível criar um encontro para enfrentar as dificuldades sentidas e criar, de forma multidisciplinar, programas e projectos que favoreçam o seu desenvolvimento.
Que conteúdos vão ser expostos e discutidos no congresso?
O programa do congresso é muito variado mas daremos foco aos temas do património natural e geológico da zona de fronteira, assim como de diversos aspectos históricos e etnográficos. Ainda que a perspectiva seja académica, queremos que chegue a um público mais amplo e por isso as formas de o fazer serão um pouco diferentes daquelas que são habituais nos congressos técnicos. Também será realizada uma mesa de debate centrada na área da educação. Para tal contamos com participantes e comunicadores pertencentes a universidades e instituições de ambos os países ibéricos. O último dia estará mais centrado na gestão de actividades e projectos que no território para apoiar o seu desenvolvimento e superar, entre outros desafios, o demográfico.
Os Governos espanhol e português vão aprovar uma “Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço” na próxima Cimeira Ibérica? Quais são as demandas mais urgentes na questão demográfica?
Desde CITER acreditamos que um elemento fundamental para enfrentar o desafio demográfico é a melhoria das comunicações, especialmente estradas em bom estado e que facilitem o acesso à universidade ou ao local de trabalho sem ser necessário deixar a população de origem ou uma boa cobertura de telefone e internet, o que hoje ainda não acontece em muitas cidades fronteiriças. Muitas populações sentem que estão negligenciadas nesse aspecto. É preciso promover a geração de empregos nessas áreas e oferecer-lhes serviços que, longe de serem promovidos, tendem a desaparecer. O teletrabalho, hoje tão defendido, pode ajudar muito mas sem uma boa conexão à internet é impossível. Outro ponto fundamental é incentivar os jovens a não abandonarem o meio rural, criando associações e dedicando espaços para a realização de actividades educacionais, culturais e de lazer.
Em suma, é preciso criar as condições necessárias para que as pessoas tenham a oportunidade e o desejo de permanecer nas suas cidades. Estas condições são necessárias para se ter qualidade de vida.
Qual a presença dos estudos sobre a Raia nas universidades Ibéricas?
Por razões geográficas, as universidades mais atentas à Raia são as de fronteira, como é óbvio. Existem centros de estudos ibéricos e acordos de cooperação em diferentes instituições que desenvolvem interessantes projectos de investigação e divulgação, bem como intercâmbios de alunos e professores. No entanto, nos planos de estudos, pelo menos naqueles que conhecemos, algo mais poderia ser feito para integrar a perspectiva ibérica, tanto na estrutura das disciplinas como nos seus próprios conteúdos.
Como as partes interessadas podem se registar?
Para se inscrever, devem preencher um formulário no nosso site (https://citer2020.wordpress.com/asistencia/) indicando nome, telefone para contacto e e-mail. Esta inscrição é totalmente gratuita e permite o acesso a todo o programa do congresso. De forma complementar, é possível solicitar o acesso aos materiais, bem como o reconhecimento de créditos pela Universidade de Salamanca.
*Nuria Corral
Doutorada em em História pela Universidade de Salamanca (2019), com menção internacional. A ligação a esta universidade remonta ao bacharelado em História (2014) e, posteriormente, ao mestrado em Investigação e Estudos Avançados em História (2015), graus pelos quais obteve o correspondente Prémio Extraordinário. Em 2015 obteve o contrato de pré-doutoramento para a Formação de Professores Universitários (FPU) do Ministério da Educação, graças ao qual aliou a investigação à divulgação científica e ao ensino na Faculdade de Geografia e História durante quatro anos. Realizou duas estadias de investigação em universidades europeias (Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne e Sorbonne Université Paris 4, anos 2017 e 2018) e uma internacionalização reforçada com uma visita como professora convidada no âmbito do programa Erasmus + (Sorbonne-Université Paris 4, ano de 2019). A sua trajectória como investigadora está focada nos últimos séculos da Idade Média. A sua tese de doutoramento, com o título “Discursos contra os nobres na Castela tardomedieval” recebeu a qualificação de excelente cum laude (louvor). Até à data, não só publicou vários artigos em revistas académicas e capítulos de livros em editoras reconhecidas, como também expôs o seu trabalho em mais de vinte conferências relacionadas com História e Humanidades.
**Teresa Calderon
Graduada em Biologia pela Universidade de Salamanca. Ao longo da sua carreira decidiu direccionar o seu trabalho científico para a área de ecologia e conservação da biodiversidade. Posteriormente, concluiu o mestrado em Biodiversidade na Universidade de Barcelona, onde desenvolveu pesquisas sobre a dinâmica da metapopulação das espécies invasoras. Actualmente está terminando o seu doutoramento no programa de Biodiversidade da Universidade Autónoma de Barcelona. Isto através de um contrato de pré-doutoramento para a Formação de Pessoal de Pesquisa (FPI), do Ministério da Economia e Competitividade. O seu projecto de investigação centra-se na análise do ciclo de vida dos mamíferos continentais. Este projecto está a ser realizado no Departamento de Evolução da História da Vida do Instituto Catalão de Paleontologia. Durante vários meses realizou parte das suas pesquisas em Nova Iorque, no departamento de Biomateriais da Universidade local. Publicou diversos artigos científicos e participou de congressos nacionais e internacionais, tanto na área de conservação como em paleontologia.