Igualdade de género e conciliação laboral, chaves para ressuscitar o emprego na Raia

Portugal e Espanha perderam entre 2000 e 2015 uma média conjunta de 3% da sua população da fronteira

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A igualdade de género e a conciliação laboral serão chaves para manter a vitalidade nas populações da Raia, a fronteira entre Espanha e Portugal, que sofreram uma perda de habitantes generalizada entre 2000 e 2017, segundo estimativas oficiais.

Iniciativas que promovam a cooperação entre países, como o Projeto de Geração de Emprego de Qualidade Transfronteiriço (GEMCAT), procuram “criar linhas mestres” em conciliação e igualdade que, “caso sejam aplicadas”, irão conseguir que a zona transfronteiriça “gere riqueza”.

Financiado pelo Programa Operativo de Cooperação Transfronteiriça entre Espanha e Portugal (Poctep), o GEMCAT assessorou, entre 2014 e 2020, mais de 600 pequenas e médias empresas (PMEs) espanholas e portuguesas em temas como responsabilidade social, igualdade de género e conciliação, e espera acabar com a sangria populacional e que os batimentos cardíacos da fronteira não parem.

Para cumprir os seus principais objetivos, o GEMCAT desenvolveu dois documentos de boas práticas em matéria de conciliação e igualdade, além de ter fechado o projeto com uma série de conferências online dedicadas à apresentação de resultados e criado um Fórum de Transferência de Resultados centrados no diálogo social transfronteiriço.

TRAVAR O DESPOVOAMENTO

Espanha conta com 7% da sua população nas zonas transfronteiriças, enquanto Portugal tem 22%, de acordo com o relatório ‘A evolução demográfica e as implicações no mercado laboral transfronteiriço’ financiado, entre outras instituições, pelo GEMCAT em 2018.

“Se hoje em dia um casal não tem filhos é porque está atolado com o dia a dia de trabalho”, explica à Efe Carlos Gómez, vice-diretor de Relações Laborais do GEMCAT.

Mas se esses mesmos trabalhadores vêm “possibilidades de flexibilizar o seu horário, teletrabalhar ou cantinas ou espaços para amamentar”, poderão dedicar-se “a algo mais que trabalhar”, criando além disso “um ambiente em que se encontra a gosto”, derivando numa possível “ampliação do mercado e trabalho” nas regiões transfronteiriças.

“O que se procura nos postos de trabalho é o talento e, uma vez que o haja, é preciso conservá-lo, caso contrário desaparece”, e conseguir que as empresas saibam “estar dentro destes âmbitos é importante para que o trabalhador renda mais e que fique nessa zona é essencial”.

Portugal e Espanha perderam entre 2000 e 2015 uma média conjunta de 3% da sua população da fronteira, segundo os resultados do mesmo relatório, uma perda que a partir de 2008 se tornou mais notória devido à crise económica, potenciada pelo abandono, baixos salários e isolamento destes territórios, muitos dos quais não têm uma ligação estável à internet.

CONCILIAÇÃO, O ADN DA SOBREVIVÊNCIA EMPRESARIAL

“A maioria dizia que eramos loucos”, conta à Efe Berta Caro, diretora de Desenvolvimento Corporativo e Responsabilidade Social da Tecalis. Esta PME galega, dedicada à procura de soluções tecnológicas seguras para processos digitais, apostou pela responsabilidade social empresarial apesar de que, naquela altura, aqueles conceitos “soavam a filmes hollywoodescos”.

A Tecalis foi uma das empresas galardoadas com o Prémio de Conciliação Transfronteiriça do GEMCAT, reconhecimento que, admite, ajudou a companhia na projeção internacional, já que estes valores fazem parte “de uma cultura que partilhamos, está no nosso ADN empresarial”.

Através do fomento de ecossistemas híbridos físicos e virtuais de conciliação, a igualdade e a responsabilidade social, a Tecalis conseguiu tornar-se em “pioneira” na implantação deste modelo, algo que, como reconhece a própria Caro, os ajudou “a contornar” os efeitos da pandemia e a continuar a desenvolver este tipo de iniciativas no futuro.

Para a Applus+, outra das empresas que participa no projeto e dedicada a trabalhos de inspeção, a igualdade sempre foi “imprescindível para a inovação e o progresso”, conseguindo dados positivos que, atualmente, “nos fazem sentir muito orgulhosos e nos motivam a continuar a trabalhar”.

Como conta Carolina de Velasco, Talent, Culture and Diversity Leader da companhia, a sua aposta pela igualdade baseou-se em quatro pilares fundamentais: “o respeito pelas pessoas, a igualdade de oportunidades, o acesso igualitário a altos cargos e a melhoria da qualidade de emprego”.

UMA SOLUÇÃO A LONGO PRAZO

O projeto, que acabou em 2020 mas que foi ampliado na Galiza (Espanha), vai concluir este 2021 com o lançamento de conferências online e a publicação de relatórios de resultados e terá um impacto que será visto “a longo prazo”.

“O que se criam são ferramentas, medidas, que depois é preciso elaborar de maneira eficaz para que se consigam resultados concretos”, assegura Gómez, que, durante a sua implementação, viu as empresas que desconheciam estes conceitos passarem a “estar imersos” neles.

Gómez está confiante que iniciativas como esta sirvam para travar a fuga de talento da Raia, conseguir crescimento demográfico e promover a implementação das empresas.

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