Sérgio Moro sai do governo de Bolsonaro e divide a ultra direita brasileira

O famoso magistrado pode converter-se em candidato presidencial para 2022

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O ex-juiz Sérgio Moro apresentou a sua demissão ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, como forma de protesto pelas tentativas do presidente em interferir na autonomia da polícia federal para proteger os seus filhos.

Por ordem do Supremo Tribunal, está a ser investigada uma organização criminal que fabrica e difunde mentiras, pelas redes sociais, contra as instituições brasileiras. O centro desta investigação está, segundo a polícia federal, na família de Jair Bolsonaro, os responsáveis por este esquema. O processo judicial pode levar ao impeachment (por via rápida) do presidente e a sua expulsão do poder. O presidente, para se blindar, mudou o director da polícia federal, homem de confiança de Moro.

O antigo juiz, que conta com apoios numa boa parte das bases sociais de ultra direita, especialmente nas classes médias, foi o responsável pela exclusão de Lula e as eleições de 2018. Lula assinalou que “Bolsonaro é filho de Moro” e não o contrário. Não obstante, Bolsonaro tem uma base de apoiadores muito leal mas Moro conta com o apoio do principal canal de televisão, a Globo.

No passado dia 24 de Abril, o presidente respondeu a acção de Moro com um discurso vitimista, apelando às franjas mais populares que votaram em si, assinalando com um vocabulário de baixo nível que Moro é um traidor e um egoísta. Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores considera ambos “igualmente delinquentes” e somaram-se a outros partidos no lema “Fora Bolsonaro”, devido a sua política genocida em relação a pandemia e as suas contínuas sabotagens em relação a política de confinamento. Até ao momento existem no Brasil 63.584 casos positivos e 4.300 mortes.

O encontro do Estoril

O ex-juiz Sérgio Moro forma parte de um grupo de juízes estrelas, de diferentes ideologias, que coincidiram na quinta edição das Conferências do Estoril (Portugal). Para além de Moro, participaram os seus colegas Carlos Alexandre, Baltazar Garzón e Antonio di Pietro. Neste evento, Garzón explicou a legitimidade de um juiz a actuar como servidor público e também como político e contou a sua experiência (e a sua saída) no governo de Felipe González. Moro, que então negava que iria converter-se em político, hoje parece que seguiu, em parte, os passos de Garzón quando entrou no governo e posteriormente se demitiu.

No caso brasileiro, Moro não tem a opção de reintegrar-se na carreira judicial e como tal vai fazer valer o seu apoio entre as classes médias brasileiras com um discurso moralista, para apresentar às próximas eleições presidenciais ou integrar-se em algum governo dos Estados.

Moro tem pendente um processo de imparcialidade no julgamento de Lula. O ex-presidente de esquerda, espera em liberdade os recursos contra sua sentença, e conta com o apoio de Baltasar Garzón.

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