E depois de Abril?

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O calendário já marca o mês de Maio mas voltamos a Abril e a data que nos trouxe a liberdade. Muito foi ganho nos últimos 48 anos mas há muitas conquistas que ainda não foram alcançadas. A luta é ainda enorme mas neste artigo deixo-vos apenas dois pontos: escravatura e assédio.

Há uns dias estava a ajudar um dos miúdos a estudar história e li que Portugal foi um dos primeiros países a abolir a escravatura e tal até poderia ter acontecido, ainda durante o governo do Marquês de Pombal. Esta abolição da escravatura é apenas uma meia verdade e infelizmente, em pleno século XXI, ainda temos casos de exploração no trabalho. As histórias são inúmeras e a mais recente centra-se no Alentejo e envolve cercos sanitários e advogados indignados com uma possível requisição civil de um empreendimento turístico. Em Odemira, município que dobra o seu número de habitantes devido aos trabalhadores agrícolas provenientes do continente asiático ou do norte de África, existe um surto de Covid que está a levar a que alguns elementos da população local tenham sentimentos xenófobos.

Esta situação está a fazer com que um novo foco recaia sobre Odemira, onde cerca de 6 mil pessoas estão a viver em péssimas condições. O que fazer? Mesmo não sendo portugueses, o 25 de Abril também foi feito para eles. «Igualdade, Liberdade e Fraternidade», este era o lema da revolução francesa mas os séculos passaram e este ideal iluminista nunca foi totalmente alcançado.

A situação do Zmar ou dos hotéis é apenas temporária e aqui a culpa não pode nem deve morrer solteira e aqui a cor política daqueles que estão no governo não tem alterado muito esta situação. Falando de política, deixo-vos aqui uma questão. Será que a direita portuguesa poderá tirar lições com o PP espanhol e a vitória de Ayuso em Madrid? É que aqui a direita cada vez mais está a entrar num estado de enamoramento com aqueles que se colocam num extremo. Aqui temos os cuidados que Eduardo Ferro Rodrigues pediu para que tivéssemos no discurso que fez no 25 de Abril. É verdade que alguns dos ideais do Estado Novo continuam no meio de nós e tivemos exemplo disso em plena estação de televisão quando uma transeunte interpela a jornalista mandando-a para as obras. Até aqui qual o problema? (desde que o confinamento começou iniciei os meus trabalhos de bricolage). Nenhum se a jornalista não fosse Moçambicana. Tivemos racismo a ser servido em canal aberto. Uma alegria!

Voltando ao caso da falta de habitações dignas, no PRR português (que escondeu algumas das suas páginas de Bruxelas) existe uma secção sobre casas acessíveis. Esperemos que seja verdade pois ninguém merece viver e morrer sem saber o que é ter uma casa digna. Como defendeu Lula da Silva com o programa «Minha casa, minha vida». Graças a este trabalho, milhões de pessoas, algumas saídas do movimento «Sem Terra» (algo que sempre me fez muita confusão mas isto deve ser por ser europeia), ganharam 4 paredes e um teto onde podem dormir. Dormir sob um céu estrelado pode ser lindíssimo mas não é nada prático.

Passando para a nossa segunda temática, o assédio contra as mulheres. Tal como em muitas aspectos, Portugal chega sempre algo atrasado e parece que só agora o movimento «Me Too» está a chegar. Qual é a senhora que nunca ouviu uma boca desnecessária ou foi vítima de alguma actitude infame? Infelizmente todas nós temos histórias para contar mas devido a vergonha ou por pura e simplesmente acharmos que não vale pena ficamos caladas. Só que não dá para ficar calada para sempre.

Uma simples entrevista num programa de entretenimento abriu uma «caixa de Pandora» e agora ouvimos histórias que demonstram que a luta das mulheres ainda não terminou mas não somos só nós que ainda temos um grande caminho a percorrer mas (e especialmente) os homens. Não vale tudo e isto especialmente no local de trabalho ou na escola. Uma vez ouvi que não devemos tratar mal os outros pois um dia aquela pessoa pode se transformar no Bill Gates (que agora vai se divorciar) e vamos acabar por nos arrepender dos nossos actos. Reforço isto e digo-vos que «não é não» e que o que fizerem hoje irá trazer ondas amanhã.

Isto é Maio, o filho incompleto das conquistas de Abril. Agora que começamos um novo mês e dentro em breve um novo ano lunar, não se esqueçam de continuar a lutar pela tão ambicionada normalidade que todos ambicionamos retomar.

Andreia Rodrigues

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