O EL TRAPEZIO entrevistou os realizadores Concha Barquero Artés e Alejandro Alvarado Jódar, os responsáveis pelo documentário «Caixa de Resistência». O documentário, que foi gravado entre a Andaluzia e Portugal, demorou 10 anos a ser feito. Vergara nasceu em Sevilha e morreu em 2011. Segundo os seus realizadores, esta é uma obra ibérica que apresenta as visões dos dois países e é altamente influenciada pela volta às democracias há 50 anos. Período em que passamos de ter de «costas voltadas» para andar «lado-a-lado». A resistência também é isto. O filme resulta de uma coprodução entre Portugal e Espanha.
«Caixa de Resistência» é um dos principais documentários lançados no último ano em Espanha. «Muitos aspectos deste documentário, do trabalho de Fernando e das nossas democracias foi influenciado pela Revolução dos Cravos», referiu Concha. «Abordamos temas que ainda não foram totalmente resolvidos depois da volta das democracias e uma história em comum que partilhamos. Tentamos respeitar as visões de ambos os lados da fronteira», disse Alvarado Jódar. «O cinema é uma ferramenta muito importante para demonstrar o nosso caminho conjunto», lembram Concha e Alejandro sobre o papel que o cinema pode ter e as oportunidades que se abre para produções conjuntas, sejam estas massivas ou independentes. «Estamos curiosos sobre a aceitação que os portugueses podem ter em relação a Caixa de Resistência. Passámos 10 anos em Portugal a gravar mas a verdade é que ainda há muito para conhecer. A verdade é que temos muito em comum, o que pode ser visto neste trabalho», disse Alejandro.
«Neste trabalho também falamos sobre temas atuais, como é a crise do imobiliário que afeta nos dois lados da fronteira, e especialmente os mais jovens», lembra Alejandro Alvarado Jódar. Este é um projeto bastante interessante e intemporal que foi muito bem recebido em Espanha.
Esta obra é baseada no legado do cineasta andaluz Fernando Ruiz Vergara, que viveu vários anos em Portugal e aqui morreu. Ruiz Vergara foi um autodidata, filho de uma vendedora de churros, que ao correr a Europa conheceu emigrantes de vários países, incluindo Portugal. País onde veio ver a revolução e conheceu figuras primordiais da mesma, incluindo Otelo Saraiva de Carvalho. Ruiz Vergara deixou várias ideias para filmes. Algumas destas escritas em pequenos pedaços de papel que ficaram guardados pelos amigos portugueses depois da morte do realizador. Existem dezenas de guiões existentes.
«Caixa de Resistência» é uma obra pensada para dar continuidade a todos os filmes pensados pelo realizador mas que nunca saíram para a rua. «Conhecemos o Fernando em 2010, um pouco antes da sua morte, pois estávamos a investigar sobre o caso Rocio. Fomos até a aldeia onde vivia, falámos com ele e chegamos a pensar em fazer algo juntos mas ele acabou por morrer. Depois da sua morte, os amigos portugueses disseram que ele tinha deixado muitas ideias e guiões para filmes», conta Concha Barquero Artés. Ainda existem mais guiões e ideias deixadas por Ruiz Vergara, um dos espanhóis inspirados pela Revolução dos Cravos. O cineasta era um autodidata, um artista, que se considerava um «cidadão do mundo».
A única obra que Ruiz Vergara fez em vida foi «Rocío», que foi censurada já em democracia (e ainda continua em Espanha). «Caixa de Resistência» chega às salas de cinema portuguesas a 27 de Março. Em Portugal, «Caixa de Resistência» já foi apresentado no Porto/Post/Doc e no Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.