Há precisamente 20 anos atrás, a 4 de Março de 2001, a programação dos quatro canais generalistas foi interrompida para o espanto de todos os portugueses que naquele dia viviam uma noite que parecia que seria semelhante a todas as outras. Foi naquele dia, que aqui a vossa repórter se lembra como tivesse sido hoje (na altura esperava ansiosamente para assistir a sitcom brasileira «Sai de Baixo»), que vimos pela primeira vez uma tragédia em directo e aprendemos onde fica Castelo de Paiva. O país ficou atónito com o que estava a ver, aquele era o filme da vida real.
Naquele dia, uma excursão saiu de Castelo de Paiva (concelho que fica no distrito de Aveiro) para ver as cerejeiras em flor. Na volta, já a noite tinha nascido, o mundo de 59 famílias desabou. Tal como aconteceu na ponte de Morandi (em Génova), o autocarro onde estas pessoas seguiam e mais três carros mergulharam no abismo e directamente nas águas geladas de Março do Douro. A operação de busca e salvamento montada foi numa escala nunca de antes vista tanto neste rio como na costa atlântica. Operacionais e meios de comunicação social correram para esta localidade para relatar e salvar mas a verdade é que já nada havia para fazer e vários dos corpos foram levados pela corrente e encontrados, cerca de um mês depois, na Galiza (apenas 23 foram resgatados). A verdadeira dimensão desta história apenas foi vista dias depois. Da ponte Hintze Ribeiro, construída em Entre-os-Rios em 1884, apenas existiam alguns pilares. O resto estava tudo no fundo do rio.
Em 2006 este caso foi a levado a tribunal pois a extracção de inertes e areias, que ajudavam a suster os pilares, levou a queda desta ponte centenária. Tal como o antigo ministro das infra-estruturas, Jorge Coelho, e que se demitiu poucos depois do que aconteceu, «a culpa não podia morrer solteira». Ninguém foi preso e os familiares das vítimas receberam 50 mil euros (10 a 20 mil para cada herdeiro), o que magoou bastante os habitantes de Castelo de Paiva. No lugar da ponte que foi construída existem duas novas pontes e um memorial que representa o Anjo de Portugal (este é o anjo que protege o país e tem a sua festa a 10 de Junho).
Vinte anos depois, esta é uma história que continua a ser relembrada não só na região mas como em todo o país.