“Ibero-américa: uma comunidade, duas línguas pluricêntricas”, é o nome da primeira conferência internacional sobre as línguas espanhola e portuguesa, que acontece na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) nos dias 21 e 22 de Novembro, e que contempla a sua realização regular nos próximos anos.
Mariano Jabonero, Secretário-Geral da Organização dos Estados para a Educação, Cultura e Ciência (OEI), agradeceu o patrocínio da Presidência da República Portuguesa e da Casa Real Espanhola, e citou o rei quando afirmou que “todos os dias, avança positivamente o processo de aproximação entre os países hispanófonos e lusófonos do mundo”. Mais tarde, também mencionou o ministro dos Negócios Extrangeiros, Augusto Santos Silva, quando reconheceu o valor da conferência ibero-americana e sua singularidade por ter uma base linguística de duas línguas.
Aludindo às reflexões de Gilberto Freyre sobre Angel Ganivet, o secretário-geral da OEI afirmou que “as línguas têm experimentado alguns receios que só o paradoxo explica”, “fruto de suas semelhanças e não de suas diferenças”. “Hoje todos nós concordamos que ambos os idiomas têm mais de verdadeiros amigos do que de falsos amigos”.
A OEI tem um programa piloto de ensino português, para 2020-2021, em três escolas da Galiza, outras três em Castela e Leão, duas na Extremadura e duas na Andaluzia. Um total de 3000 alunos.
Mariano Jabonero também citou literalmente o lusófilo Unamuno para destacar o pluricentrismo das línguas ibéricas: “Língua de brancos, índios e mestiços, e negros e mulatos; Cristãos e ateus católicos e não católicos; linguagem dos homens que vivem sob os mais diversos regimes”. Mariano Jabonero interpelou o Secretário Executivo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), Francisco Ribeiro Telles, para que a OEI possa “participar activamente na sua próxima cimeira em Angola”. A secretária-geral de Ibero-américa (SEGIB), Rebeca Grynspan, cumprimentou sua colega da CPLP e se identificou com o conceito de “intercompreensão”, que “aprendeu com Ana Paula Laborinho”.
Marcia Donner Abreu, secretária de comunicação e cultura do Ministério das Relações Exteriores considerou ao português e o espanhol como “nossas línguas” e ficou satisfeita com a perspectiva de chegar a um bilhão de falantes de ambos, no final do século, constituindo este “espaço de ibero-lingua” uma “aliança estratégica”. Também anunciou a criação do Instituto Guimarães Rosa, irmão do Instituto Camões e Cervantes.
O ministro da Educação Tiago Brandão apresentou-se como um “homem raiano”, dado que nasceu muito perto da fronteira com a Galiza, e apontou o potencial cultural das línguas ibéricas. O ministro saudou o trabalho de Ana Paula Laborinho à frente do escritório da OEI em Portugal. Incanha Intumbo, do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, revelou o projeto do “Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa” e mencionou as “triglosias” que existem nas áreas interiores dos países africanos de língua portuguesa.
Dario Villanueva, ex-diretor da Real Académia da Língua Espanhola, reiterou em várias ocasiões a importância da “iberofonía” como o primeiro bloco idiomático do mundo e citou o geopolitólogo Durántez Prados para apontar as oportunidades oferecidas pelo paniberismo, baseado na “intercomunicabilidade” pan-ibérica das duas únicas grandes línguas globais, mutuamente compreensíveis. Considerou que a utopia de Umberto Eco de encontrar uma base linguística intercompreensível entre as línguas europeias, é uma realidade no caso ibérico.
O acadêmico Villanueva acredita que a literatura ibérica pode ser facilmente integrada em leitores, criações e alianças. “Uma literatura de quatro continentes, uma acervo da iberofonía”, disse. Finalmente, falou em galego e fez uma revisão da literatura brasileira e portuguesa, e elogiou a Nélida Piñon, presente no evento, e José Saramago, cuja presidenta da Fundação, Pilar del Río, estava entre o público. Ambas serão oradoras no último dia.
Rebeca Gutiérrez, do Instituto Cervantes, também destacou o potencial da “iberofonia” e, em sua exposição, explicou a diferenciação dos conceitos de “grupo de domínio nativo”, “competência limitada” e “aprendizes de língua estrangeira”. Luis Faro, do Instituto Camões, anunciou um futuro estudo, juntamente com o Instituto Cervantes, sobre o valor econômico do espanhol e do português, a ser publicado em 2020. Estas instituições mantêm uma perspectiva de aumentar a cooperação entre si. Na cerimônia de abertura esteve Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, sobrinho-bisneto do escritor iberista Oliveira Martins.