Pela primeira vez na história, o 25 de Abril foi celebrado com um Governo demissionário e em luto nacional. Foi há 51 anos que os portugueses viveram o dia mais feliz da sua história recente. Isto depois de 48 anos de ditadura.
A luz travou a escuridão e hoje em dia uma boa parte da população portuguesa já sabe o que é viver em Liberdade, palavra que com um cravo vermelho ganha uma nova força. A mulher que deu o nome de Revolução dos Cravos ao golpe dado pelos militares da MFA, Celeste Caeiro, tem agora uma placa com o seu nome na confluência entre a Rua do Carmo e o Rossio. Foi aí que começou a distribuir as flores que tinham sobrado do trabalho aos militares que colocaram as flores nos canos das espingardas para demonstrar ao povo que eles não iriam atirar. Esta homenagem, feita pela autarquia de Lisboa, aconteceu de forma póstuma. Este foi o primeiro 25 de Abril sem Celeste Caeiro, que no último ano participou no desfile popular a distribuir cravos aos militares (não só aos atuais mais também aos de 1974).
Hoje, o nome de Celeste Caeiro fica gravado em Lisboa.
No 25 de Abril, com um simples cravo, abriu-nos a porta à mudança, à esperança, à liberdade.
Lisboa não esquece.
Viva o 25 de Abril. Viva Celeste Caeiro. pic.twitter.com/qPQPuAsYTb— Carlos Moedas (@Moedas) April 25, 2025
A celebração do 25 de Abril não deveria gerar controvérsias. Mesmo desta forma, houve a habitual cerimónia oficial na Assembleia da República e o desfile popular na Avenida da Liberdade. Um desfile que teve uma grande afluência. Na Assembleia da República, onde houve um minuto de silêncio e um voto de pesar pela morte do Papa, Marcelo Rebelo de Sousa, no seu último discurso como PR, elogiou a vida e obra do Papa Francisco e a ligou aos valores de Abril. Com Liberdade para «Todos, Todos, Todos». Com muita humildade, fraternidade e humildade.
Já o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, afirmou que a democracia defende-se com resultados, princípios e consensos. O PCP, no seu discurso, avisa que a democracia está «sob ameaça» mas tem «força suficiente» para derrotar inimigos. Já o IL considera que há valores de Abril por cumprir e pede mudanças.
Um 25 de Abril que demonstrou visões opostas da forma como se vê o país
Neste mesmo dia houve, no Martim Moniz, um encontro de membros da extrema-direita que colocou a polícia sobre aviso. Apesar de ter adiado algumas das iniciativas marcadas, o Governo da AD participou na cerimónia protocolar que aconteceu na Assembleia da República. Nesta cerimónia também marcaram presença os militares de Abril e os deputados que participaram na primeira Assembleia Constituinte, que aconteceu há 50 anos e onde participou o atual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Estas eleições são as mais participadas da história, com 91% dos votos.
No final da sessão, e como habitual, a esquerda e os militares ergueram os cravos vermelhos no ar e em pleno plenário cantaram «Grândola, Vila Morena». Isto virados para os militares de Abril que estiveram presentes na Assembleia da República. As bandeiras nacionais foram hasteadas em todos os edifícios públicos para marcar esta data nas estiveram a meia haste.
Esta atitude do Governo foi mal vista não só por populares como pelos partidos, como é o caso do socialista, que considera que «celebrar celebrar o 25 de Abril não é desrespeitar o Papa». E lamenta que o «Governo fique a janela enquanto o povo sai à rua». Uma boa parte das atividades que o Governo ia dinamizar vai acontecer a 1 de Maio. Das várias iniciativas que houveram tanto em Portugal como no mundo, destacamos uma conversa que houve na zona do bairro alto com o antigo autarca de Lisboa (e filho de Mário Soares) João Soares e Maria Antónia Palma (a mãe de António Costa foi uma das primeiras jornalistas a cobrir o 25 de Abril). No Largo do Carmo houve uma escuta coletiva que levou de todos de volta a 1974 graças a uma reportagem da Renascença que acompanhou os militares naquela manhã do dia 25 de Abril de 1974.
Em Sesimbra, a organização das celebrações do 25 de Abril estiveram a cargo da antiga presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça. Foi apresentado o livro «A Revolução que se pode ir de carro», na Xuventude de Galícia – Centro Galego de Lisboa. Já na RTP vai passar o filme «Revolução (Sem) Sangue», que reforça o facto de na revolução portuguesa só terem morrido 4 pessoas.