A Via dos sentimentos

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A Via Romana XVII foi uma das principais ligações entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), pertencia ao Itinerário Antonino e a sua criação remonta aos séculos V a II a.C. (Augusto). Este caminho -a primeira Via Romana do Noroeste Peninsular- passava por locais estratégicos de alta relevância comercial e patrimonial como a cidade de Aquae Flaviae (Chaves), Compleutica (zona de Bragança) e Argentiolum (zona de La Bañeza) antes de chegar a um dos pontos nevrálgicos do Império Romano no norte da Iberia, Asturica Augusta, que começou por ser um importante acampamento militar e acabou por assumir, mais tarde, um papel essencial nas comunicações e, sobretudo, no campo da mineração do ouro.

Fazendo uma transposição temporal simples das localidades por onde passa esta Via, facilmente verificamos que se trata de mais um pilar da unificação de um território ibérico que não conhecia fronteiras e se baseava, apenas e só, na necessidade de ligar pontos essenciais do Império através de cidades importantes como são, hoje, Braga, Chaves, Bragança e as zonas Noroeste da província de Zamora e Sudoeste da província de León.

A mim, pessoalmente e de forma egoísta, cabe-me salientar um outro ponto de passagem desta Via que é o território de Barroso (Boticas e Montalegre), porque foi lá que cresci e é lá que mantenho laços familiares e atividade laboral, apesar de viver em León. De resto, tenho família e amigos em Braga, muitos amigos e clientes em Chaves, vários projetos em desenvolvimento em Bragança, tal como vários amigos e família nas referidas zonas de Zamora e León.

Ora, aquando da inauguração da sede do Ecomuseu de Barroso em Montalegre, em 2009, tive eu a sorte de participar ativamente na mesma uma vez que assumia, na altura, a função de estagiário da instituição. Entre vários monumentos, locais de interesse e achados arqueológicos referenciados no museu, lembro-me bem de se falar numa série de “marcos miliários e calçada romana na zona de Cervos e arredores”. Nunca cheguei a ir ao local comprovar a presença de tais vestígios (é vergonhoso, bem sei) mas sempre fiquei com a “pulga atrás da orelha”, na esperança de um dia dar lá um saltinho.

Quis o destino que, anos mais tarde e depois de uma temporada a viver em Lisboa, o amor me trouxesse para León e aqui me instalasse, a apenas 276km de casa, Montalegre. E quis também que, entre as várias atividades laborais que desenvolvo, estivesse patente a Animação Turística e consequente desenvolvimento de novas ofertas de experiências de turismo, um pouco por toda a zona do noroeste ibérico.

Escrevo estas linhas enquanto começo o meu próximo projeto: a rota turística da Via Romana XVII, de cerca de 365km, a pé e/ou de bicicleta, com transporte em autocarro entre diferentes tramos do caminho, de forma a poder realizar o trajeto total num prazo máximo de uma semana. Mais do que um produto turístico, esta é uma Via que une muito mais do que localidades importantes, de um lado e do outro da fronteira. Para mim, esta é uma Via que une sentimentos.

 

Luís Pedreira SÓTÃO DE HISTÓRIAS

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