Vale a pena ser negacionista pela verdade?

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Em Portugal, num momento em que o país é um dos mais vacinados do mundo e que aos poucos as restrições começam a cair (o uso das máscaras nas ruas já não é obrigatório), os negacionistas começam a ganhar palco. Esta é uma pequena franja da população, em comparação com outros países (como é o caso da França ou do Brasil), mas aos poucos começam a fazer cada vez mais barulho e já estão sobre o foco da unidade contra o terrorismo.

Os negacionistas em Portugal nunca foram tão falados e tudo por causa de um almoço, algo que ricos e pobres têm necessidade de fazer, num restaurante após o enterro de Jorge Sampaio. O ataque verbal a Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, pode ser visto como um ataque a própria democracia? Afinal estamos a falar da segunda maior figura de uma nação orgulhosa pelos seus elevados níveis de vacinação e baixos (mas ruidosos) negacionistas que acreditam que a Covid é um complô do governo e que, segundo um juíz negacionista, o trio Costa/Rebelo de Sousa e Gouveia e Melo serão julgados por crimes contra a humanidade.

Para este grupo, os apologistas das vacinas e das medidas de protecção são os verdadeiros «genocidas» e não uma figura como a de Bolsonaro que afirmou que irá a reunião da ONU sem ser vacinado. Mais um desafio feito por Jair Bolsonaro ao resto do mundo. Veremos se vai conseguir só por ser um líder político ou se é impossível negar a lei. Até ao momento os portugueses demonstraram que não são negacionistas e que estão dispostos a tudo para recuperarem as suas vidas. O exemplo perfeito foram os jovens que na sua maioria saíram das praias para serem vacinados pois só assim podem enfrentar um ano escolar sem paragens. Para o Vice-Almirante a luta contra o vírus está «ganha» e este é um grupo residual.

Quando Portugal estava pintado a vermelho na lista dos países com mais casos na Europa, em Janeiro estivemos numa situação crítica e os especialistas já pedem prudência para o Natal para não repetirmos este cenário. Ninguém quer uma quinta vaga. Como diz a ministra da Saúde, Marta Temido, às máscaras não são para deitar fora. Estas vão passar a ser uma parte do nosso estilo, mais ou menos como o chapéu-de-chuva no Outono/Inverno.

Nesta altura, logo no início do ano, período onde havia um conjunto forte de restrições que mudavam quase todas as semanas, este grupo fez algumas manifestações mas o seu «trabalho» foi/é feito em especial na internet onde apareceram os tais grupos «pela verdade» (médicos, jornalistas, advogados). O que é verdade e o que é mentira? Uma mentira repetida várias vezes pode ser tornada numa grande verdade.

Os vídeos e as postagens nas redes sociais que estes negacionistas colocavam no início até poderiam ser compreensíveis mas com o processo de vacinação quase terminado e dando frutos (temos uma média de menos de 10 mortos por dia) só dá para rir para não chorar. Este negacionismo já levou a que uma família de emigrantes morresse pois não estava vacinada e uma mãe fugiu com a filha pois não aceita que a criança seja vacinada.

Uma loucura colectiva que pode ser um perigo a solta nas nossas ruas. Assobiar para o lado, como diz a música do Carlão, já não é possível quando este grupo começa a fazer esperas bastante desagradáveis aos jovens que estão a ser vacinados; ao responsável pelo programa de vacinação, o Vice-Almirante Gouveia e Melo é cada vez mais visto como o D.Sebastião do século XXI, o nosso Desejado ou a Ferro Rodrigues. Um dia os cartazes sobre os malefícios do grafeno (não percebo os malefícios de ser um íman humano. Passaríamos todos a ser super-heróis) podem ser trocados por actividades mais extremistas. Um reforço da segurança começa a ser pensado.

Daqui a poucos dias teremos as eleições autárquicas. Será que os negacionistas vão interferir ou estamos a falar de situações diferentes? O CHEGA, que em Bragança pretende uma ligação ao TGV (algo que os bragantinos pedem há 30 anos), já anunciou que vai cortar as estradas portuguesas caso o partido seja ilegalizado devido a irregularidades com as assinaturas entregues no Tribunal Constitucional. Os mesmos magistrados que negam-se a sair do Palácio Ratton e ir para Coimbra. Uma coisa deve ser andar de negro pela cidade dos estudantes aos 20 anos mas não deve ser tão refinado fazer o mesmo com mais de 50 anos.

Será que é possível continuar a negar a verdade?

 

Andreia Rodrigues

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